Capítulo 7

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Eu desci as escadas no primeiro toque da campainha, não queria ficar sem jantar novamente.

No orfanato eram servidas três refeições diarias religiosamente no mesmo horário e se o interno não estivesse sentado em seu lugar no exato momento que a campainha tocasse pela terceira vez ficava sem se alimentar, eu perdi as contas de quantas vezes fiquei com fome por não ter respeitado essa e tantas outras regras que eram impostas neste lugar durante os dois meses que estou aqui, sendo que muitas dessas regras não tinham sido informadas para mim, muitas vezes achava que as regras eram inventadas na hora em que eu fazia alguma coisa que a madre considerava errada só para me colocar de castigo.

- vejo que finalmente está aprendendo, uma semana sem se atrasar Ana.

- sim senhora.

- espero que seu quarto esteja pronto para inspeção desta noite.

- sim madre, está tudo organizado.

O jantar foi servido como todos os dias em um silêncio absoluto, a madre deu inicio a oração e este foi o único momentos que se ouviu uma voz durante todo o jantar.

Todos só podiam se levantar da mesa depois que a madre superiora terminasse seu jantar.

- aguardo todas vocês ao lado de suas camas para a inspeção de higiene e limpeza.

Uma a uma as meninas se erguiam e em fila indiana como robôs programados para executar uma função elas seguiriam até seus quartos e posteriormente aos banheiros para executar a higiene noturna e se preparar para a inspeção.

- essas garotas vão crescer reprimidas e severas demais!

Eu escutei uma das irmãs que trabalhavam na cozinha falar logo depois que ocupei meu lugar na fila, e não podia concordar mais com ela, aquelas meninas eram tratadas como se não tivessem vida nem sentimentos, pareciam maquinas programadas, não brincavam e tão pouco sorriam, tentei por um tempo fazer algumas brincadeiras elas até começavam a se comportar um pouco mais como crianças, mas logo a madre superiora chegava e a brincadeira acabava e eu recebia um castigo, até que chegou um ponto em que eu desisti, recebi mas castigos que sorrisos e os poucos que recebi eram arrancados pela madre, as vezes eu acho que ela sentia o cheiro de felicidade brotando e vinha logo acabar com ela.

Quando eu estava terminando de subir as escadas eu senti alguma coisa bater contra a minha perna esquerda e não deu nem tempo de reagir eu me desequilibrei e cai rolando os degraus da escada um a um e quando eu finalmente consegui parar no pé da escada eu bati minha cabeça em algum objeto que fez com que minha vista escurecesse e depois não enxerguei mais nada.

.......

Quando eu abri meus olhos uma espécie de djavu se apossou de mim.

Tudo era branco e uma cortina estava estendida em volta me isolando de olhares especulativos eu procurei por qualquer pessoa que pudesse me ajudar mas não tinha ninguém, eu me sentei e tirei a agulha que estava presa no dorso da minha mão por onde eu recebia um liquido transparente, devia ser algum soro que foi receitado para me hidratar, quando toquei meus pés no chão uma tontura terrivel me fez apoiar novamente na cama e nessa hora eu senti uma mão me segurando e instintivamente eu recuei, nao queria que ninguém me tocasse as vezes por sentir medo e outras vezes me sentir suja culpada achando que se uma pessoa me tocasse ela também ficaria impura, a mão se afastou e nesse momento eu ergui a cabeça e quando eu vi o doutor Cristian na minha frente um constrangimento tomou conta de mim e eu senti meu rosto corando.

- desculpe, é que ainda é difícil.

Sem falar nada ele afastou o lençol da cama e me ajudou a deitar novamente, depois fez todo o processo para eu continuar tomando o soro pela intravenosa que estava na minha mão.

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