Capítulo 16

129 11 0
                                    

Não é fácil explicar a sensação de estar em casa, olhar para todas essas pessoas se movimentando, cheias de problemas, angustias e aflições e mesmo assim sempre com um sorriso no rosto, disposto a te ajudar no que for necessário.

Confesso que tive medo quando fiz meu check-in, no aeroporto de Londres, medo de ter perdido a essência do que é ser brasileira, de não me acostumar com o meu país, medo da violência que mesmo estando longe sabia que estava cada vez mais alta, mas quando pisei no aeroporto de São Paulo e fui recebida pelo abraço caloroso do pai da July, quando olhei ao meu redor e vi a emoção dos reencontros e a tristeza da partida, pessoas que não sentiam vergonha em demonstrar seus sentimentos, fossem eles alegres ou tristes, eu senti que eu estava de volta em casa e pela primeira vez eu entendi que eu não precisava ter fugido do Brasil, para me livrar dos monstros do meu passado, que onde quer que eu fosse eu os levaria comigo e que se eu quisesse me livrar deles, não seria cruzando o oceano que conseguiria isso e sim curando o meu coração.

- a minha filha senti tanto sua falta - o pai da July falou pra mim quando finalizou o nosso abraço. - como você está linda.

- obrigada tio, e você é que está todo bonitão, heim? - levantei uma das minhas sombrancelhas para ele, o questionando, ele rio e balançou a cabeça como se eu estivesse falando besteira, mas vi que suas bochechas estavam vermelhas e eu queria muito que estivesse com razão e que o tio Edu finalmente encontrasse alguém para amar, já tinha dezessete anos que a mãe da July foi embora e eu nunca o vi se envolver com ninguém.

- o que é esse rosto vermelho igual tomate pai, por acaso a Ana tem razão e você está caidinho por alguém. - July pergunta e eu sinto o tom de incredulidade em sua fala, ela queria muito que seu pai fosse feliz de novo, claro que o tio Edu não virou um celibatário durante todos esses anos, mas seus casos eram apenas isso, casos.

- vocês foram para Londres se especializar em medicina ou estudar jornalismo em?

- ouch! Nós entendemos pai, não quer falar não fala, mas saiba que se isso for verdade eu estou torcendo muito que dê certo, você merece ser feliz pai.- ela abraça o pai e eu posso ver as lagrimas nos olhos dos dois, e eu não posso evitar o pouquinho de inveja que sinto por não ter aquilo também.

De repente eu sinto a July me puxando, fazendo que eu ficasse entre ela e seu pai e nos abraçamos e começamos a rir de êxtase por estarmos todos juntos novamente, só faltava uma outra parte dessa familia para eu finalmente me sentir completa.

- agora vamos, quando vocês me falaram que vinham eu tomei a liberdade e contratei uma pessoa para tomar conta de vocês e eu a dexei no apartamento fazendo um almoço incrível para receber vocês- eu e a July nos alhamos e começamos a lamber os lábios, comida era a nossa segunda paixão, vinha logo depois da medicina, comida brasileira então.

- ai meu Deus, comida e além de ser brasileira é caseira, sabe a quanto tempo eu não como comida caseira? - ela saiu correndo como um flash, quase dando de cara no vidro das portas de saída do aeroporto, dando sinal para o primeiro táxi que ela encontrou, eu olhei para o pai da July e comecei a rir, ele balançou a cabeça e passou o braço sobre os meus ombros e eu empurrando o carrinho de bagagens segui em direção ao táxi que a minha amiga tarada por comida tinha acabado de interceptar.

................

A casa da gente é o melhor lugar do mundo, não que eu não me sentisse em casa no apartamento que eu e July dividiamos em Londres, mas o apartamento aqui do Brasil tinha um cheirinho de lar, de aconchego, e o cheirinho de comida caseira que eu senti quando abri a porta fez essa sensação ficar ainda mais intensa.

A pessoa que o tio Edu contratou para cuidar da gente, era uma senhorinha, que tinha cara daquelas avós que enchem os netos de doces e deixa fazer a bagunça que quiser dentro de casa, o nome dela é Esther, quando chegamos ao apartamento algumas horas atrás ela me deu um abraço tão caloroso que fez com que eu sentisse um carinho instantâneo por ela, e sobre sua comida, só vou falar que eu tenho que arranjar um lugar para malhar rapidinho se quiser continuar usando minhas roupas.

Eu vou te encontrar.Onde histórias criam vida. Descubra agora