Capítulo 15

146 12 2
                                    

As vezes um banho demorado é o que precisamos para tirar tudo de ruim que acontece no nosso dia e eu estava precisando de um banho desses, fui tirando as roupas assim que abri a porta do apartamento e fui jogando por todos os lados, a july vai me matar se chegar e ver essa bagunça, mas hoje eu não estava dando a mínima para as reclamações dela, eu precisava chegar no banheiro o mais rápido possível, quando tirei a última peça de roupa do meu corpo, já estava girando o registro do chuveiro e quando a água caiu sobre minha cabeça não consegui mais segurar as lágrimas que já estavam a muito pedindo para serem libertadas eu não chorava há muito tempo, achei que tinha perdido essa capacidade e hoje eu descobri que isso só estava adormecido.

Hoje eu tive a pior experiência que um médico pode ter, a morte do seu primeiro paciente, eu percebi que tinha sido fácil demais esse meu primeiro ano de residência, os médicos mais experientes até brincavam comigo dizendo que eu devia ser blindada para a morte já que em um ano nenhum dos meus pacientes morreram e ainda completavam dizendo que isso não ia durar muito tempo e eles tinham razão, não durou.

Masy, minha pequena masy, tão frágil, tão pequena e ao mesmo tempo tão forte, apenas dez anos, a idade que o Mateus teria, quer dizer a idade que ele tem, eu não posso começar a conjugar os verbos no passado, eu não posso porquê isso quer dizer que estou perdendo as esperanças, as esperanças que os pais da masy tinham perdido hoje, ter que dá aquela notícia para eles e ver a vida deles sendo sugada, o brilho dos olhos se apagando, foi quase tão terrível do que assimilar eu mesma que tinha perdido o sorriso daquela que era a minha alegria de todas as manhãs na ala de oncologia infantil, depois que comuniquei a família de Masy que ela tinha sofrido uma parada respiratória durante a cirurgia que era para conter uma hemorragia pulmonar que ela estava sofrendo, graças a uma complicação da leucemia que ela estava lutando contra desde seus quatro anos de idade, eu sai correndo daquele hospital tão rápido quanto os meu pés conseguiam correr, eu achei que estava preparada para aquele momento, afinal eu me preparei pra ele durante toda a faculdade e quando finalmente acontece eu não consigo nem dá o apoio necessário que os pais da masy estavam precisando naquele momento, eu fugi como a covarde que eu aprendi a ser, eu me acostumei a fugir, a não deixar ninguém ver as minhas fraquezas, eu construí um muro tão alto ao meu redor que nem o Golias conseguiria pular e me alcançar.

Meus pensamentos foram interrompidos quando meu telefone começou a tocar, eu não iria atender nem que estivessem com uma arma apontada na minha cabeça, com certeza era o Benjamin, o supervisor dos residentes ele deveria estar possesso comigo por ter largado o plantão, eu deixei que tocasse e continuei com meu banho, depois de mais alguns segundos chamando ele parou e eu desliguei o chuveiro, quando estou terminando de colocar meu pijama o celular toca de novo eu solto um suspiro derrotada por saber que não posso enrolar por mais tempo, vou ter que ouvir o sermão do Benjamin antes de dormir.

Meu celular estava dentro da bolsa que tinha deixado jogada do outro lado do quarto, fui em sua direção arrancando de lá com toda força aquele aparelho que não estava me dando o sossego que tanto ansiava, quando olhei para sua tela , fiquei surpresa por não ser o número do Benjamin e sim da agencia de investigação que tinha contratado para procurar o meu pai e o meu filho, meu coração começou a acelerar e minha mãos a tremer, eles disseram a seis meses atrás que só me ligariam se tivessem alguma novidade, será que eles finalmente o encontraram, será que eles sabiam o que tinha acontecido com meu filho ou com meu pai, ou era só mais uma ligação para pedir mais dinheiro, com muita dificuldade eu deslizei meu dedo sobre a tela do celular e o levei ao ouvido:

- alô? - uma voz feminina que me parecia um pouco resistente na hora de falar - gostaria de falar com a senhorita, Ana Heinz Cullmann.

- sim, é ela.

Eu vou te encontrar.Onde histórias criam vida. Descubra agora