Eu senti uma pontada de dor na minha barriga que me despertou do meu sono de uma vez só, eu não conseguia definir o que aquela dor significava, eu senti minha roupa molhada e quando assendi a luz do abajur ao lado da cama, eu pude constatar o que o meu coração já sabia.
- calma meu filho, falta pouco pra você estar nos braços da mamãe.
Eu coloquei meus pés pra fora da cama e fui me levantando o mais devagar que conseguia, quando finalmente fiquei em pé, fui em direção a porta a abrindo, não queria acordar as crianças por isso fiz o máximo de silêncio possível, quando passei pelo corredor, quando cheguei perto das escadas outra pontada me atingiu e fez eu me curvar de dor, lágrimas já molhavam o meu rosto e eu sentia todo o meu corpo tremer, com forças que só Deus sabe onde arranjei desci o vão esquerdo da escada e subi o direito que dava para o corredor onde ficava o quarto das irmãs e da madre superiora, eu bati na primeira porta que eu vi.
- por favor, abre - eu ja estava desesperada.
- abre - eu esmurrei a porta sentindo minhas mãos doerem.
Ouvi passos do outro lado da porta mas quando essa foi aberta várias outras naquele longo corredor também se abriram.
- eu estou com muita dor - eu falei olhando pra cara de assustada da irmã Raquel- acho que meu bebê vai nascer.
- ai meu Deus, ai meu Deus, o bebê vai nascer, como assim o bebê vai nascer?
- eu preciso de um médico irmã, não de perguntas descabidas.
- claro, claro, desculpa, vou pegar o telefone e ligar pro seu médico pra ele ir ao hospital que estamos chegando.
- obrigada.
As outras irmãs se amontoaram ao meu redor pra saber como eu estava e o que eu precisava e como a louca que eu sou eu comecei a distribuir ordens, pedi pra uma das irmãs buscar minhas coisas e as do bebê no meu quarto, pedi pra outra tirar o carro da garagem e outra pra me ajudar a descer e sair de casa e tudo isso enquanto a irmã Raquel falava com o meu médico.
Quando consegui entrar no carro a irmã Raquel vinha logo atrás de mim.
_ eu falei com seu médico e ele já está indo para o hospital e aproveitei e liguei para sua amiga e avisei que você estava indo para o hospital, ela ficou meio louca, fazendo mil perguntas mas depois se acalmou e disse que estava a caminho também.
- obrigada, eu ia pedir pra ligar para a July, obrigada não sabe o quanto é importante tê-la perto de mim nesse momento.
- não precisa agradecer menina, sempre que ela vem te visitar eu observo a união de vocês duas e vejo como a amizade de vocês é tão importante, tanto pra você quanto pra ela.
Não demorou muito e chegamos ao hospital, quando sai do carro uma cadeira de rodas sendo segurada por uma enfermeira e meu médico ao seu lado já me aguardavam.
Eu não conseguia mais ficar em pé com a dor que parecia tomar cada centímetro do meu corpo, fui rapidamente encaminhada para a sala de parto e quando finalmente me deitaram na cama outra pontada de dor tomou conta do meu corpo.
O médico estava se preparando para começar todo o procedimento os enfermeiros já tinham tirado minha roupa e colocado a camisola hospitalar.
Eu olhei para um lado e olhei para o outro e comecei a chorar com a percepção de que estava sozinha em um momento tão importante da minha vida.
O médico chegou perto de mim me posicionando da maneira certa para facilitar o parto e depois pediu que eu fizesse força pra fora, eu ergui meu tronco de encontro a minha barriga e coloquei o máximo de força que eu consegui, soltando um grito tão agudo que eu nem reconheci como sendo meu.
O médico continuou pedindo que eu fizesse mais força e eu fiz, uma, duas, três vezes e nada.
- eu não consigo, eu não tenho mais forças.
- tente mais Ana, eu sei que consegue, estamos quase lá.
- doutor, por favor eu não tenho mais forças.
Eu senti um peso sobre a minha mão e quando eu olhei pra cima eu vi a July, vestida com aquelas roupas ridículas de hospital, ela abaixa a máscara que estava cobrindo o seu rosto e me dá um sorriso encorajador.
- é claro que você tem força, você é a pessoa mais forte que eu conheço e você precisa mostrar isso pro seu filho, ele também precisa conhecer esse seu lado.
Eu sorrio para ela e aceno concordando e dou mais um, dois e no terceiro impulso e em um momento de dor dilacerante eu ouço o choro mais lindo que pode existir, o choro do meu filho, eu relaxo me deitando novamente na cama e lágrimas começam a inundar meu rosto.
Eu consegui, eu trouxe meu filho ao mundo, e a partir de agora vou viver a minha vida em função dele, eu olho para minha amiga e a vejo com lágrimas nos olhos, olhando para um ponto que eu não conseguia enxergar.
Ela deve estar olhando o meu filho e quando eu penso nisso logo uma angústia se apodera do meu coração, eu preciso ver o meu filho mas eu não consigo ter força suficiente para isso, eu tenho medo, um medo tão grande de olha-lo e enxergar aquele monstro nele, de sentir tudo o que eu senti aquela noite de novo, o medo, o desespero, a repulsa, a tristeza, a dor e isso me paralisa.
Uma enfermeira se aproxima da minha cama com um pequeno embrulho em seus braços e eu só consegui balançar a minha cabeça, eu não queria vê-lo, eu não queria confirmar que eu odiaria meu filho caso o visse, eu não queria olhar para o meu filho e lembrar dos piores momentos da minha vida.
A July chegou perto da enfermeira e pegou meu filho em seus braços, o sorriso que ela mostrou a ele foi o mais lindo que eu vi ela esboçar.
- ei, coisa mais linda do mundo, eu não sou a sua mãe, mas já te amo tanto quanto ela, ela está com muito medo te ver agora, mas vai passar e ela vai ser a melhor mãe do mundo inteiro.
Quando ouço a July falando com o meu filho eu sinto um aperto no coração, eu me sinto a pessoa mais egoista do mundo, pensando só em mim, o meu filho não tinha culpa de nada que aquele homem me fez.
- me dá ele July.
- ai graças a Deus, eu pensei que ia precisar te bater e isso não ia ser legal.
Ela me passa o embrulho onde meu filho estava e quando eu finalmente olho o seu rostinho eu não consigo mais segurar as lágrimas, ele é lindo, os cabelos loiros, quase brancos, a pele tão branquinha que chega a mostrar suas veias sob a pele, os seus olhos estão fechados, mas quando eu pego na sua pequena mãozinha ele abre os olhos e eu mergulho naquela imensidão azul e finalmente conheço o que é o amor verdadeiro.
- eu te amo, meu filho, você não sabe o quanto.
E quando eu olho pra July, eu a vejo com mais lágrimas nos olhos mas também com um sorriso mais verdadeiro de todos
- vocês são uma família linda.
- sim, nós somos uma familia e vamos ser muito felizes.
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Eu vou te encontrar.
RomanceA vida de Ana resumia-se em: cuidar da mãe que estava com câncer, terminar o colégio e ter de aturar o seu pai alcoólatra. Tudo isso até a morte da mãe de Ana. Juliet é a melhor amiga de Ana. E numa tentativa de animar Ana, Juliet leva-a a uma festa...