Tempo ao tempo

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Aguardei a chegada de Dylan durante três dias, dias que se estenderam como nunca, parecia que o relógio havia parado, mas ele chegou. O observei da porta enquanto descia da charete e os empregados despachavam as bagagens, ele andou até mim e me cumprimentou.
- Olá, Freya.
- Dylan. - Me joguei em seus braços e o abracei, ele andou para dentro comigo, fomos até o escritório e encostamos a porta para que pudéssemos ter uma conversa privada.
- Tudo bem com você? - Perguntei.
- Bem, obrigado. E você?
- Preocupada.
- E Carrye?
- Trancada no quarto desde que chegamos.
- Depois falarei com ela.
- E minha irmã como está?
- Bem, requintada na sociedade.
- Ok. - Sem querer enrolar peguei o envelope que ele me mandou que estava sob uma pasta e ergui.
- Freya, eu pensei muito.
- Dylan, o que deu você em você para escrever essas coisas? Esta maluco? - Vociferei agressiva.
- Querida não, só pensei que você estivesse confusa.
- Não, não estou. Eu te amo Dylan, não amo Jhonathan como pensa.
- Sei que é por quê você nunca teve uma oportunidade de pensar, sempre estive ao seu lado e agora talvez seja hora de recuar um pouco.
- Recuar para que? Eu preciso de você, eu necessito da sua presença.
- Eu sei que parece loucura tudo isso, mas eu te amo Freya.
- Também o amo Dylan, quem colocou essas idéias em sua cabeça? - Ele andou prara trás e apoiou o quadril contra a mesa, eu andei em sua direção e parei a poucos centímetros.
- Não importa quem. Eu pensei muito.
- Por que agora?
- Eu não sei, querida. Estávamos bêbados, a conversa veio e com ela frustrações, angústias...
- Estávamos?
- Han?
- Você disse estávamos.
- Me expressei mal.
- Não Dylan, você disse certo. Quem?
- Johnathan.
- Está vendo? Ele envenenou nosso casamento, alguma vez ja teve esses pensamentos?
- Não...
- Então, por favor esqueça tudo.
- Não posso.
- Dylan por favor, não pode me abandonar.
- Freya nem se eu quisesse conseguiria.
- O que você quer como prova de que você é o único?
- Não a maneiras de descobrir o que se passa em você.
- Mas nosso filho ira nascer em alguns dias.
- Eu sei e estarei aqui, mas partirei quando tudo estiver calmo. - Uma lágrima correu pela minha face e Dylan a enxugou com a ponta dos dedos.
- Desculpe-me, Freya. - Fitei aqueles olhos enquanto a raiva subia pelo meu corpo e fervia meu sangue.
- Querida em nenhum momento eu queria lhe magoar. - Fiquei em silêncio enquanto ele falava e trinquei a mandíbula.
- Meu amor saiba que nunca foi escolha minha, queria que o destino tivesse me dado a oportunidade de te conhecer antes. - Ele não conseguia transmitir clareza em suas palavras, elas saiam enroladas e engatadas umas as outras.
- De certa forma tudo foi culpa sua. - Voltei a atenção para sua boca e prestei a atenção em sua última frase.
- O que disse?
- Se você não tivesse ficado com Johnathan nada disso estaria acontecendo. - Levantei a mão e bati em sua face, Dylan se assustou e ficou sem reação, comecei a bater em seu peito e gritar.
- Por que? - Ele segurou minhas mãos e as apertou.
- Freya olhe para mim. - Encarei seu rosto que estava embaçado devido as lágrimas em meus olhos que o destorciam.
- Me perdoe, vamos dar tempo ao tempo e analisar as nossas opções. Ficarei aqui até nosso filho nascer e vingar, resolver essa situação da nossa pequena.
- Dylan...
- Shhh... - Ele colocou a mão em minha boca para que eu me calasse.
- Freya eu estava bêbado quando escrevi aquela carta, algumas coisas talvez eu não tenha conseguido me expressar direito.
- Por favor diga que não irá me deixar.
- Eu te amo, e te amarei até que o sol se apague completamente. - Ele soltou minhas mãos e eu me joguei para a frente de encontro ao seu peito e o abracei, ele passou as mãos ao meu redor e colocou uma mexa de cabelo solto atrás da minha orelha.
- Perdoe-me, por favor, por lhe trazer tanto nervosismo. - Dyaln me virou me colocando entre a mesa e seu corpo, ele me ergueu colocando sobre a mesa e se aproximou mais. Primeiro beijou meu pescoço levemente enquanto suas mãos dançavam pelo meu corpo, segurei seus cachos e enrolei meus dedos neles. Ele afastou a cabeça e encarou meus olhos, depois aproximou-se da minha boca e me beijou delicadamente.
A porta rangeu sendo aberta e ele me soltou, quando olhamos vimos Carrye que segurava um urso correr para o seus braços e pular no colo dele.
- Tudo bem, meu anjinho? - Ela acenou positivamente.
- O que você estava fazendo? - Ele perguntou e ela não respondeu.
- Ainda não quer falar? - E ela negou. Desci da mesa e fui até eles, onde Dylan passou a mão em minha cintura e Carrey em meu pescoço.
- Por que? - Dylan iria me ajudar a resolver o problema, ela negou novamente.
- O que vamos fazer? - Dylan perguntou colocando Carrye no chão.
- O que Carrye quiser. - Falei enquanto acariciava sua cabeça.
- O que você quer querida? - Ela correu pela porta e voltou minutos depois com seus brinquedos.
- Quer brincar de chá? - Perguntei enquanto erguia uma xícara de plástico e ela confirmou. Nos sentamos perto da mesa de centro e colocamos os brinquedos, montamos um pequeno café imaginário.
- A senhorita aceita um pouco de chá?  - Dylan perguntou a Carrye como um cavalheiro, e ela pela primeira vez em dias sorriu aceitando. Ele colocou um pouco de chá imaginário para todos enquanto eu cortava o nosso bolo de chocolate.
- A senhorita que fez este chá? - Perguntei para ela que sorria acendo positivamente.
- Está maravilhoso.
- Sem dúvidas, quem sabe a senhorita não possa ensinar a sua mãe. - Dylan sussurrou para ela.
Brincamos bastante e nos divertimos, Carrye sorriu e meu coração se alegrou, agora eu teria que arranjar uma maneira de convencer Dylan ficar.
***
- Por que Dylan retornou? - Minha mãe me perguntou enquanto dobrávamos as roupas de Carrye e guardávamos.
- Ele quer estar presente no nascimento do filho. - Eu não estava mentindo, esse era um dos motivos.
- Humm, ouvi vocês se divertindo hoje. Estou contente que ela esteja ficando melhor.
- Realmente, eu estava preocupada que ela tivesse alguma doença por causa disso.
- Bom, agora esta tudo indo bem.
- Claro, só não sei o que fazer. - Com Dylan, Jhonathan e Carrye a falar.
- Com o que?
- Nada de mais, só estava pensando alto.
- OK. - Após guardar a última peça de roupa segui para os fundos da casa e me sentei em uma cadeira de baixo de uma grande árvore.
Observei a relva alta e um passarinho ao longe que não conseguia voar, analisei seu esforço e admirei as várias tentativas que pulava querendo alçar voo. Fiquei sentada na cadeira vendo o sol que estava no meio de várias nuvens escuras bater contra a parede da casa sendo tomado pela sombra, vi a noite chegar e com ela as estrelas, os vaga lumes que piscavam perto das lâmpadas.
- Senhora Lewistown. - Fui puxada a realidade bruscamente enquanto saia dos meus devaneios.
- Sim? - Olhei para a copeira que me fitava.
- Senhora o jantar está servido.
- Obrigada. - Ela saiu e eu fiquei mais alguns minutos sentada encarando o nada até que senti mãos em meus ombros.
- Tudo bem? - Olhei para trás e vi Dylan.
- Sim.
- Vim lhe buscar para jantar já que estava demorando. - Falou enquanto massageava meus ombros.
- Desculpe-me, me perdi em pensamentos.
- Tudo bem. - Ele me estendeu a mão e a peguei, devagar andamos para dentro onde ele me guiou até meu lugar e puxou minha cadeira para que eu sentasse.
- Obrigada. - Minha mãe e Carrey já estavam sentadas nos esperando.
- Você lavou as mãos Carrye? - Ela confirmou erguendo as mãos no ar.
- Podem se servir. - Dyaln colocou para nossa filha um prato cheio de salada, legumes e mistura. Minha mãe se serviu e eu coloquei o meu prato com um pouco de cada coisa, Dylan se serviu. Comemos quietos esperando que alguém quebrasse o silêncio.
- Então Dylan por que voltou tão depressa? - Perguntou minha mãe e ele lançou um olhar para mim antes de responder.
- Como na fazenda estou esperando a burocracia e esta encaminhando tudo certo, vim presenciar o nascimento do meu filho. - Assim que acabou tomou um pouco de água.
- Que bom que esta conseguido compra-la de volta.
- Sim, não está senso fácil, mas faço o que posso.
- Obrigado querido mesmo assim por tentar.
- Disponha.
- Como esta minha Greta?
- Bem senhora, esta se tornando uma mulher da sociedade. - Enquanto eles conversavam prestei a atenção em Carrye lutando com os talheres, ela tentava pegar ervilhas com um garfo.
- Dylan você trouxe minhas coisas? - Ouvi as vozes deles ao fundo enquanto pegava uma colher e entregava a Carrye que deu um sorriso de lado.
- Sim senhora.
- Obrigada.
- A senhora esta se sentindo a vontade aqui?
- Sim, a casa de vocês é linda e aconchegante.
- Obrigado, Freya em parte é grande responsável. - Voltei ao meu prato e comecei a comer o que sobrará.
- Ela fez um bom trabalho.
- Com certeza. - Eu só ouvia a voz deles como se fosse uma música de fundo e, comia em silêncio. Carrye terminou primeiro e repousou os talheres ao lado do prato.
- Com licença, mas irei banhar a Carrye.
- Espere um pouco Freya, termine de jantar, você precisa se alimentar bem.  - Me aconselhou Dylan.
- Já estou satisfeita, obrigada, mas já esta tarde e Carrye tem aulas de piano amanhã.
- Tudo bem. - Levantei-me e Carrye juntas fomos para o banheiro em seu quarto onde enchi a banheira e a coloquei dentro. Enquanto ela se lavava fui até o armário e peguei uma camisola rosa com flores e coloquei sobre a cama, voltando ao banheiro a observei lavar os cabelos. Me ajoelhei com cuidado e tomei o sabão de suas mãos e terminei de lava-lá, a retirei da banheira e a sequei, no quarto a vesti e a sentei na penteadeira e peguei a escova. Escovei seus belos cabelos enquanto a encarava pelo espelho, observei seus olhos castanhos amendoados, as bochechas rosadas, e penteei os cabelos até cansar-me.
- Boa noite, querida. - Beijei o topo da sua cabeça e a levei até a cama, onde a cobri e acendi uma vela para que não ficasse totalmente escuro.
- Você quer que eu leia um livro? - Perguntei e ela negou, então lhe desejei boa noite novamente e verifiquei se estava aconchegante. Sobre a soleira da porta olhei para trás e lhe disse que a amava, ela com os olhos para fora do cobertor piscaram e caíram no sono.
Fui para o meu quarto e comecei a me banhar, deitada com o pescoço contra o mármore duro da banheira relaxei os músculos e alisei minha pele com um óleo, a água morna me deu a sensação de tranquilidade e quase adormeci ali se não fosse pela pontada na barriga que senti. Assustada sai da banheira e me sequei, vesti uma camisola e fui me deitar após apagar as luzes, sob os macios cobertores. Dylan quase uma hora depois entrou no quarto e foi tomar banho, ouvi ele pigarrear, depois de 10 minutos ele voltou e o vi pela claridade da lua que entrava pela janela se deitar e encarar o teto.
- Tudo bem? - Perguntei com a voz baixa.
- Sim. - Disse virando o rosto para mim.
- Boa noite, Dylan. - Ele se aproximou de mim e começou a acariciar meus cabelos.
- Boa noite, Freya. - Adormeci com o carinho que suas mãos quentes e macias me proporcionaram.
***
No meio da madrugada acordei sobressaltada e olhei pela janela e vi a tempestade que caia, as janelas tremiam contra ao vento, raios iluminavam o quarto. Levantei-me e peguei um robe e vesti, calcei os chinelos e sai silenciosamente do quarto, andei as cegas pelo o corredor até o quarto de Carrye e abri a porta, a luz da vela iluminava sua cama e a vi dormindo como um anjinho, encostei a porta novamente e fui até a cozinha pegar um copo d'água. Enquanto enchia o copo senti outra pontada forte que me fez derrubar água no balcão, e logo veio outra atrás de outra até que senti água escorrendo pelas minhas pernas.

Freya & JohnathanOnde histórias criam vida. Descubra agora