Um dia antes

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Acordei aquele dia ansiosa, em menos de 24 horas iria conhecer meu futuro marido, a senhora Lewistown me deu um vestido para que eu estivesse apresentável. Hoje era quinta feira, e o casamento de Greta seria no domingo, o pensamento que ficava na minha cabeça era: Deixe Johnathan casar com sua irmã, e seja feliz com o primo dele. Mas não era tão fácil na prática, meu coração mandava eu não abandonar o homem que amava. Lembro-me de cada momento que tivemos, de quando me pediu em namoro secretamente depois da igreja, tínhamos dezoito anos, ele se sentou ao meu lado, e ficou quieto, quando acabou ele pegou em minha mão e me levou para o seu celeiro, começou a dizer algumas coisas que entenderia se eu dissesse não, e várias coisas confusas, por fim segurou em minhas mãos me olhou nos olhos, disse que estava apaixonado por mim a muito tempo, mas só agora que teve coragem, eu havia ficado atônita, e ele estático a minha frente esperando uma resposta, eu disse que me coração já pertencia a ele, e era verdade, desde meus 5 anos estava apaixonada por aquele menino que enfrentou seu pequeno grupo para conseguir o chapéu de uma menina chamada de bruxa. Ele me beijou, ali mesmo em seu celeiro, com nossos pais alguns passos dali, esse havia sido o meu primeiro beijo.
Hoje o pai de Johnathan tinha passado em minha casa mais cedo dizendo que Dylan havia chegado, vi que meu tempo de tomar uma escolha havia acabado, ou eu ia amanhã vê-lo, ou fugiria, eu poderia levar Johnathan, mas não queria dar tamanho desgosto a meus pais.
Minhas unhas a essa altura eu já roera tudo, tentava me ocupar com tarefas, mas eu só imagina como ele seria, loiro? Moreno? Velho? Jovem? Educado? Inteligente? Se fosse como Johnathan eu seria imensamente amaldiçoada, pense como seria ter que olhar para ele todos os dias.
Minha mãe estava tão ansiosa quanto à mim, me deu conselhos que decidi ignorar, ela praticamente queria que eu agisse como outra pessoa, seja educada, seja gentil, dizia ela. Meu pai foi a quem escutei, durante o café ele me beijou e disse para mim ser quem eu sou, achei que ele diria: Querida, não precisa fazer mais isso, mas não disse, então resolvi erguer a cabeça e continuar em frente. Fui para o curral onde meu pai tosava algumas ovelhas, uma vez ao ano, o ajudei para que fossemos mais rápidos. Quanto ao centeio ele já venderá uma grande parte, agora tínhamos que preparar a terra para plantar novamente.
- Como está se sentindo?
- Um pouco nervosa.
- Dará tudo certo, eu também fiquei nervoso na minha vez.
- E o que o senhor fez?
- Nada, imaginei que aquela iria ser a mãe de meus filhos.
- E o senhor não estava apaixonado antes?
- Não, por sorte a minha.
- E se ele não gostar de mim?
- É impossível.
- O senhor já o viu?
- A alguns anos.
- E como ele é?
- É jovem, acho que quatro anos mais velho que você, educado.
- Papai, eu posso desistir?
- Não, querida. Nem sempre estarei aqui e você precisa de um marido.
- Tudo bem. - Ajudei ele a tosar mais algumas ovelhas, e quando acabamos fui caminhar, andei bastante até que me sentei no meio de um rosal, olhei o céu totalmente azul, sem nenhuma nuvem, vi os passáros passarem e pensei que eles eram maravilhosos, como deve ser bom ter asas e voar para longe, eu gostaria de bater minhas asas para longe do ninho, pensei em Dylan e o que estaria fazendo, será que estava ansioso? Se eu não aprendesse a ama-lo o que aconteceria? Fiquei ali deitada e chorei, depois sorri e chorei de novo, todos diziam que eu era uma mulher incrível, mas eu não sabia o que fazer com minha própria vida, meu peito doía muito. Talvez eu devesse começar a vida como meretriz, seria interessante, eu poderia ter uma pequena casa onde eu cometeria o pecado, sei que seria julgada pelos outros, olhada com desprezo, mas pelo menos eu ditaria as minhas próprias regras. Mas eu conseguiria suportar ver meus pais me abandonarem? Eu estava tão feliz por Greta, minha irmã iria se casar em dois dias, eu ignorei o fato de ela ter mudado um pouco, queria acreditar que era por causa do casamento, mas ela não estava se estressando com nada, a mãe de Johnathan estava organizando tudo.
Johnathan, que belo nome. Que belo homem. Que sentimentos proibidos sinto por ele, ah se eu fosse Greta seria tão feliz, por que ele teve que se casar com ela? Será que eles já haviam planejado tudo? Greta e Johnathan, eu e Dylan. Queria tanto que as coisas fossem mais simples, talvez não fosse uma péssima idéia fugir, como sua mãe disse, ela iria nos ajudar, eu seria feliz ao lado de Johnathan, ele me ama e eu o amo, somos um casal de desafortunados marcados pela má sorte do destino. Pensei sobre ontem a noite quando dormimos juntos, foi uma noite maravilhosa, me senti protegida, segura, seu cheiro de chuva e lavanda havia ficado em meu travesseiro, depois minha memória cortou para quando vi suas costas, seu pai era um monstro por fazer aquilo, quando ele me contou eu quis ir até o pai dele e esbofetear seu rosto, mas ele havia me impedido, suas costas estavam feias e minha mãos passaram sobre suas cicatrizes, os motivos ele jamais me contou. Me levantei e sequei minhas lágrimas, olhei ao redor e segui em frente, voltei para casa e encontrei a porta da frente uma charrete, adentrei e vi mamãe, Greta, Johnathan e a senhora Lewistown tomando chá.
- Olá, boa tarde. - Cumprimentei eles.
- Olá, querida.
- Irmãzinha, Dylan chegou. - Ela veio a mim e me abraçou.
- Que bom.
- Freya querida, ele está tão ansioso para conhecê-lá. - Disse a senhora Lewistown.
- Que bom.
- Está tudo bem? - Johnathan perguntou.
- Está sim. - Sorri.
- Freya deve estar nervosa. - Mamãe tirará conclusões precipitadas.
- Querida, você poderá ir cedo?
- Claro.
- Johnathan vira busca-la.
- OK.
- Não precisa ficar nervosa. - Greta pegou em minhas mãos.
- Não estou, só não me sinto bem.
- O que está sentindo?
- Nada de mais, eu vou para o meu quarto.
- Tudo bem.
- Com licença. - Baixei minha cabeça e fui para o quarto onde me deitei na cama em posição fetal, meu pés estavam gelados, então me cobri e fechei meus olhos.
Alguém bateu a porta me acordando.
- Entre. - Greta entrou e Johnathan logo atrás.
- Licença senhorita. - Disse ele entrando no quarto.
- Vim pegar minhas últimas coisas. - Greta tentava pegar seu baú em cima do guarda roupa.
- Tudo bem.
- Está se sentindo melhor, senhorita?
- Um pouco.
- Querido, pode me ajudar?
- Sim. - Ele andou até ela e puxou com facilidade pondo no chão.
- Obrigada.
- Disponha. - Ele parou perto da porta e ficou me encarando, Greta colocava seus últimos pertence dentro do baú, peças de roupa, suas linhas de tricô.
- Querido, pode pegar aquela agulha ao lado da cama? - Ele andou e eu acompanhei seus paços com o olhar, pegou a agulha e a deixou cair, a pegou e levantou-se apoiando-se na cama, quando foi a Greta vi que tinha um papel sobre a cama, o peguei e escondi comigo sob os cobertores.
- Obrigada, acho que já é tudo.
- Vamos indo?
- Sim. Tchau Freya.
- Tchau, Greta.
- Senhorita, amanhã venho busca-la.
- Irei esperar. - Greta abriu a porta para que Johnathan levasse o baú, eles passaram pela porta e a fecharam. Esperei dois minutos e abri o bilhete.
Me encontre no celeiro após todos dormirem para uma nova proposta.
Com amor, Johnathan.
Ponderei se seria sensato eu atender seu pedido, fiquei na cama o resto do dia, mamãe passou ali para me ver e eu disse que já estava melhor, papai antes de dormir passou para dizer que me amava apesar de ele achar que estava me castigando. Esperei para que não houvesse mais barulho e então me levantei, seu papel levei comigo para que ninguém encontrasse, ao sair para noite uma brisa gélida encontrou-se contra mim, corri para o celeiro e abri a porta.
- Johnathan. - Estava escuro e eu não poderia acender um lampião.
- Freya. - Me virei e ele estava perto da baía.
- Pensei que não viria.
- Você me pediu.
- Que bom que tenha vindo. - E andou até mim.
- Estive pensando em nós por um longo tempo.
- E o que decidiu?
- Quero que você saiba que você é livre.
- Para que?
- Para ser feliz, esta livre de sua promessa. - Ele havia prometido me amar e cuidar de mim pelo resto da minha vida.
- Não, não pode dizer isso. - Pegou minhas mãos e as segurou com grande ternura.
- Você sabe que eu estaria com você se eu pudesse, mas eu virei te ver de vez em quando, ou se alguma vez precisar de uma razão para sorrir pense em mim.
- Não quero lhe ver de vez em quando, quero passar meus dias ao seu lado, envelhecermos juntos. - Pousou uma mão sobre minha face e ali ele acariciou.
- Qual a sua proposta?
- Sei que fugir você não quer, então pensei que talvez pudéssemos ignorar todos e sermos felizes, não dependemos de ninguém.
- Você não entende, não é que eu não queira fugir, estou pensando em Greta que esta apaixonada por você.
- Mas eu a amo.
- Eu pensei que talvez devemos esquecer o que tivemos, eu realmente quero ser feliz ao lado de Dylan mesmo não o conhecendo.
- Freya, eu te amo.
- Seguirmos em frente, cada um com sua vida.
- Eu te amo, Freya.
- Eu sei, pare de dizer isso! - Eu havia me exaltado, ele começou a andar de um lado pro outro enquanto falava nervoso.
- Eu estou querendo abandonar tudo por você, desde sempre a amei, você me fez conhecer o amor minha pequena bruxa, você me faz querer um mundo melhor, eu gostaria de ser uma fábrica de desejos para poder realizar todos os seus sonhos, pois quando se ama, as suas necessidades já não importam, se fosse possível eu te colocaria em um pedestal e você seria idolatrada por mim, meu coração sussurra pelo seu nome querendo amá-la. Mas você nega a ele esse pequeno prazer. Minha vida está girando em seu torno, não a um minuto do meu dia em que você não visite meus pensamentos, e o pior são meus sonhos onde o meu amor é correspondido e eu tenho que voltar a terrível realidade ao acordar e encarar sua rejeição. - Suas belas palavras haviam me emocionado.
- Johnathan, por favor. - Ele parou e respirou fundo.
- Eu que lhe peço por favor, pare de querer ser a pessoa que todos querem.
- Eu não posso, é duro para mim ouvir suas palavras, você não entende como eu queria poder lhe devolver tudo o que sente, mas não posso, você merece uma pessoa melhor que a mim, eu sou egoísta, dissimulada, fria, deveria se perguntar se eu mereço esse seu amor.
- Não importa o que diga, você está querendo me fazer desistir.
- Não, Johnathan. Eu já não o amo mais.
- Freya, negar esse amor é pior.
- O que posso fazer? Vamos seguir seguir seu plano? Vamos pensar então, meu pai me expulsaria de casa, depois seu pai provavelmente iria lhe chicotear e você seria expulso da sua casa como um bêbado, Greta seria desonrada, eu seria olhada com desdém, não quero nem pensar o que aconteceria com nossas mães ao ver tamanho desgosto, não teríamos emprego, não teríamos como nos sustentar.
- Você não quer nem tentar, esta tentando arranjar desculpas para não se sentir tão culpada.
- Tentar? Essa é uma situação que não existe tentativas, uma vez feitas serão lembradas para sempre.
- Tudo bem, vejo que dessa maneira você não irá querer.
- Não.
- E se nossas mães fossem junto conosco?
- E separa-las de seus maridos?
- Tenho certeza que preferem ver a felicidade de seus filhos.
- Eu não quero, entenda isso. Você não irá me convencer. - Ele se ajoelhou aos meus pés.
- Freya, eu te suplico.
- Johnathan, levante.
- Por favor. - Ele abraçou minhas pernas.
- Eu queria tanto poder, mas não posso.
- É sua escolha.
- Que irão afetar outras pessoas.
- E me afetará também.
- Com minha escolha eu afetaria somente você, com a sua afetaria varias pessoas, prefiro magoar uma do que várias. - Ele levantou-se.
- Eu te amo e por isso não vou desistir.
- Vá embora.
- Meu coração pertencerá para sempre a você.
- Eu não quero pois não sei lidar com algo tão precioso.
- Você não tem escolha, porque eu te amo.
Ele saiu do celeiro, eu me joguei no feno ali e chorei muito, por que tinha que ser tão difícil? Depois de muito chorar e soluçar fui para dentro e passei a noite em claro. Eu o amava e tinha que desistir dele para a felicidade de outros.

Freya & JohnathanOnde histórias criam vida. Descubra agora