Meu Pequeno Príncipe

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Dor. E mais dor. Sentia como se todos os ossos do meu corpo tivessem sido quebrados, lentamente abri os olhos e eles se ajustaram a escuridão do quarto que era iluminado por uma única vela, a cortina pesada estava fechada permitindo que uma única fresta de sol entrasse, ouvi a chuva que ainda não dera uma trégua batendo na janela. E então olhei para mim mesma e eu estava limpa, com uma camisola nova, as cobertas e os lençóis limpos. Minha barriga agora significativamente menor. Tentei me levantar, mas não consegui. Chamei alguém, porém minha voz saiu baixa, minha boca estava seca, rachada e eu sentia dor de cabeça.
- Mãe... - Chamei, a porta se abriu e era uma copeira que sorriu e saiu, deitei novamente contra o travesseiro e descansei.
- Freya. - Abri os olhos e Dylan estava parado a minha frente sorrindo.
- Dylan...
- Shhh, fique quieta meu amor. - Ele andou até a cama e se sentou na ponta.
- Meu bebê? - Perguntei com a voz baixa.
- Ele é lindo, Freya.
- Ele? - Eu havia desmaiada antes mesmo de dar a luz.
- Sim.
- Quero vê-lo.
- Tudo bem, ja venho. - Ele saiu pela porta, e eu me arrumei apoiando as costas contra os travesseiros. Fiquei ali por uns dois minutos até que ele voltou com um embrulho nos braços.
- Diga olá para a mamãe. - Falou me entregando. E me desfiz em lágrimas, sua pele branquinha, os cabelos eram cacheados da cor dos meus, segurei sua pequena mão e ele apertou.
- Ele é lindo. - Olhei para Dylan e falei, mas voltei a atenção rapidamente para meu bebê que estava com os olhos abertos. Olhos castanhos que eram réplicas dos de Dylan, ele ficou quietinho me olhando enquanto eu acariciava seu rostinho.
- Acho melhor você alimenta-lo. - Dylan me aconselhou, então eu comecei a amamentação, ele segurou em meu peito com sua mãozinha e começou a sugar o leite.
- Onde está Carrye? - Perguntei enquanto cobria meu bebê direito com a manta que ele estava.
- Está na sala, acabou de ter a aula de piano.
- Chame ela.
- OK. - Ele andou até mim e me deu um beijo.
- Eu te amo, Freya. - E saiu.
Fiquei ali observando o rostinho que a luz da vela me proporcionava, ele usava uma roupa branca, seus dedinhos finos se mexiam sobre a pele do meu peito. E aos poucos suas piscadas se prolongaram até que tive certeza que dormia. Me vesti novamente, o coloquei de bruços sobre mim e fiquei alisando suas costas. Ouvi os paços no corredor e os observei entrar e Carrye andar até ao meu lado da cama onde subiu e se deitou.
- Oi minha garotinha. - Falei e ela sorriu.
- Freya acho melhor você descansar, me de ele aqui. - Dylan fez menção de pegar o bebê de mim, mas eu recuei.
- Não, estou bem.
- OK, vou deixar vocês a sós.
- Obrigada. - Ele saiu e encostou a porta, eu coloquei o bebê no meio de nós duas com cuidado e me deitei novamente.
- Tudo bem querida? - Perguntei a Carrye que estava fazendo carinho na cabeça do seu irmão e assentiu. Peguei o cobertor e a cobri também. Ela dormiu minutos depois e eu observava meus dois bebês, a minha garotinha perspicaz e o meu rapaz bonito.
Meu estômago roncou, me levantei com um esforço incrível e coloquei travesseiros ao redor do bebê para caso rolasse, peguei um robe que estava sobre a cadeira e vesti, no corredor meus olhos se franziram com a claridade, a porta dos fundos da casa deixava entrar luz. Caminhei apoiando-me nas paredes até a cozinha onde pedi para que me preparassem uma refeição, sentei-me na mesa e esperei alguns longos minutos até que repousaram uma sopa em minha frente. Peguei a colher, mas minhas mãos tremiam e assim caiu tudo, tentei novamente e aconteceu o mesmo, me concentrando foquei a atenção e consegui levar a primeira colher a boca.
- Senhora precisa de ajuda? - Perguntou a copeira que me olhava.
- Não obrigada. - Falei e ela continuou ali.
- Senhora acho melhor deixar eu ajudá-la. - Falou ao ver que eu derrubará mais uma vez.
- Está tudo bem, pode ir olhar o bebê se quiser.
- Sim senhora.
- Obrigada.
- Com licença. - Ela saiu e eu fiquei ali tentando levar mais uma colher a boca, eu estava com uma dificuldade incrível e me assustei com isso. Minhas mãos pareciam varas finas que se chacoalhava.
- Droga. - Falei enquanto limpava-me com um guardanapo.
- Quer ajuda? - Olhei e vi Dylan com o quadril apoiado no batente da porta.
- Esta tudo bem.
- Você disse a mesma coisa quando ficou assim após o parto de Carrye.
- Estou bem. - Ele andou até ao meu lado e se sentou em uma cadeira e tomou meu prato.
- Deixe-me cuidar de você. - Ele me levou uma colher de sopa a boca e me deu a refeição.
- Então...
- Freya, e o nome do nosso bebê?
- Combinamos que seria o nome de meu pai.
- Claro, Charles Lewistown.
- Ele também é um Banker.
- Charles Banker Lewistown.
- Perfeito.
- Ok, termine de comer. - Ele me levava colheres atrás de colheres até a boca.
- Obrigada por me ajudar na hora do parto. Pensei que não conseguiria.
- Sempre e para sempre.
- Talvez eu devesse escrever uma carta para Greta dizendo que seu sobrinho nasceu.
- Sua mãe ja fez isso.
- A propósito onde ela está?
- Não sei. - Disse repousando o prato vazio sobre a mesa.
Me levantei e Dylan passou a mão pela minha cintura me segurando. Andamos até o fim do corredor e ficamos parados na porta dos fundos vendo a chuva e as poças de lama que se faziam no quintal. Dylan estava com os braços ao meu redor alisando minhas costas enquanto eu passava a mão pelos seus braços fortes.
- Eu te amo. - Disse olhando para cima e encarando seu rosto, ele se abaixou mais e me apertou em um abraço forte. Peguei em sua mão e voltei para o quarto onde eles ainda dormiam, paramos e os observamos.
- Freya, ela não pode ficar sem falar. - Sussurrou.
- Eu não sei o que fazer. - Falei vendo ela dormir, seu peito subia e descia em um ritmo lento.
- Precisamos saber o que aconteceu.
- Ja sabemos, não adianta negar.
- Não, não vamos tirar conclusões precipitadas.
- Dylan...
- Eu não quero acreditar nisso. - Falou com a voz rouca como se tivesse segurando o choro.
- Querido sabemos, não podemos discutir.
- Freya, não. - Vi seu lábio tremer e os olhos encherem de lágrimas.
- Shhh. Tudo bem, tudo bem. - Consolei ele.
- Dylan, agora que o bebê nasceu você vai embora?
- Não até você melhorar.
- Obrigada. - Nos deitamos no divã e ficamos ali acariciando um ao outro.
- Você está gelada. - Comentou enquanto tocava minha face.
- Só estou com um pouco de frio. - Ele se levantou e pegou uma coberta que estava no armário e voltou. Ficamos um tempo assim até que vi Carrey se sentar na cama.
- Querida. - Chamei e ela com os olhos semifechados me encarou.
- Venha cá. - Disse Dylan por cima do ombro. Ela saiu com cuidado olhando o irmão e veio até nós, Dylan a pegou pela a cintura e colocou no nosso meio.
- Olá garotinha.
- Oi minha princesa. - Ela olhava dele para mim.
- Tudo bem? - Ele perguntou e ela assentiu.
- Você não quer conversar conosco? - Negou.
- Sabe se você falar podemos fazer o que você quiser. - Chantagem sempre funciona, mas ela não esboçou reação.
- Tudo bem deixa para lá.
- Então Carrey gostou do seu irmãozinho? - Ela assentiu com um sorriso enorme.
- E você sabe o nome dele? - Perguntei e confirmou.
- Eu te amo, filha. - Dylan falava enquanto fazia carinho no topo da cabeça dela.
- Está vendo? Papai quer o seu bem.
Talvez agora fosse umas 16(4) horas da tarde, a chuva ainda não cessará.
- Você quer café, Carrye? - Ela confirmou. Nos levantamos e fomos para a sala e pedi para a copeira para que preparasse o café.
- Onde está minha mãe?
- Talvez você deva chamar ela.
- OK, com licença. - Dei a volta neles e segui para o corredor, onde virei a direita na primeira porta.
- Mãe. - Bati com cuidado e ela não me respondeu.
- Mãe o café esta servido. - Empurrei sua porta e ela abriu-se. Andei para dentro e vi ela deitada sobre a cama dormindo. Me aproximei e peguei a coberta que jazia sob os seus pés e a cobri, olhei ao e redor vi uma fotografia do meu pai colada ao espelho e andei até ela. Com um sorriso no rosto eu beijei a foto e a apertei contra o coração, saudades, saudades do melhor pai do mundo, coloquei a foto de volta no lugar e observei minha mãe pelo reflexo. Seus cabelos quase totalmente brancos, como sua boca relaxava, as expressões marcadas profundamente. Olhei para sua penteadeira e vi uma carta que ainda estava sendo escrita, a caligrafia da minha mãe, olhei para a cama novamente e ela dormia, eu pensei se deveria ler ou não. Talvez estivesse sendo intrometida, li a primeira linha até que o choro de Charles fez se ouvir, e assim voltei a vida de mãe esquecida a 5 anos atrás, repousei a carta como estava e fui em direção ao meu quarto, no fim do corredor e vi Dylan vindo.
- Tudo bem, eu vou. - Ele fez a volta e eu entrei no cômodo onde o meu bebê estava com seus olhinhos abertos, a boca escancarada chorando.
- Oi meu bebê. - Peguei ele no colo e o ninei enquanto seu choro agudo atingia meus ouvidos como facadas. Aos poucos ele foi se acalmando, com ele nos braços voltei a sala de jantar onde Carrye e Dylan estavam sentados.
- Sua mãe? - Perguntou depois de ter levantado e puxado a cadeira para mim.
- Está dormindo, deve estar cansada.
- Ela se assustou muito hoje.
- Realmente. - Enquanto acariciava o rostinho de Charles, Carrye comia um pedaço de bolo. Passamos o resto da tarde e o começo da noite conversando, a chuva parou somente as 11 PM horas.
Depois de ter colocado meus dois filhos na cama e tomado banho eu lia um livro no meu quarto sob as cobertas. Estava cansada, e as vezes meus olhos se fechavam para descansar um pouco, até que dormi e tive um sonho. Um sonho estranho e assustador.
Carrye estava brincando como fazia habitualmente na fazenda Lewistown, ela estava atrás da casa perto do celeiro. E uma sombra se esgueirou por trás dela, talvez fosse um homem pelo porte físico, a única coisa que vi foi um fio pendurado na mão dele. O estranho colocou a mão no ombro dela e Carrye se virou com um sorriso, eu não conseguia ver o rosto do estranho.
- Oi... - Carrye ia falar o nome dele, mas eu acordei sobressaltada.

Freya & JohnathanOnde histórias criam vida. Descubra agora