Aqui em Paris, as mulheres preferem a qualidade com bom preço e não ostentam grifes. E nem usam boca de silicone.
Sou crítica, sou mesmo! Muita gente me critica — curioso, não? — por isso. E dependendo do meu humor tenho uma resposta padrão: "O senso crítico é o que separa os homens dos animais". Não sou, porém, uma pessimista, daquelas que acha que tudo é ruim. Pelo contrário, sou até meio Poliana e acho que sempre pode dar certo em algum momento. Tenho esperanças, mas quase nunca elas me salvam quando me deparo com algo que minha intuição já tinha avisado que era má ideia. A Eurodisney é a prova cabal disso. Aliás, nem se chama mais assim: é Disneyland Paris. Nos últimos 40 anos vim tantas vezes a Paris, mas jamais tive interesse em visitar Mickey, Minnie e Pateta. Quem tem Paris, um parque ao vivo de beleza e deslumbramento, por que precisa ir para o mundo do Mickey? Quem pode comer camembert não precisa comer cream cheese. Nunca também vim a Paris com a minha filha, quando ela era pequena. Levei-a para Orlando uma vez e adorei. Afinal na terra do fake nada melhor do que a Disney. Em Paris, porém, tudo é tão real, que acho que o paradoxo começa aí.
Disney e Paris realmente não combinam, agora tenho certeza. Ou será que americano estraga tudo em que coloca as mãos? Quando tive a oportunidade de passar três dias em um hotel dentro da Disney para um evento de dança, achei bem bacana. Pensei: vou para um hotel legal (paguei caro, 150 euros a diária, com desconto por causa do evento) e assim que o France Open acabar vou até dar uma olhadinha nos brinquedos, comer um bom cachorro quente e me divertir. Benoit, o motorista que me levou para lá, me avisou: "Você não vai encontrar franceses na Disney, lá está cheio de ingleses e árabes, come-se muito mal lá". E isso é pecado mortal para um francês. Ele tinha toda razão. Cheguei de manhã em um lobby superlotado de personagens da Disney, corri para a primeira aula e quando deu meio-dia resolvi comer. Comer? "Só no Disney Village, que fica a dez minutos daqui, ou aguarde meia hora para a abertura do restaurante do lobby, mas é só snack" — avisou o concierge. Não ter comida disponível? Saí da França. Bobagem, deve ter room service — pensou a Poliana. Claro que não. Esperei o tempo regulamentar e pedi um sanduíche para levar. Ele veio: uma bandeja enorme, um prato com o sanduíche e a Coca Cola que tive que carregar até o quarto, que ficava a cerca de 400 metros do lobby. Cena patética. Pior mesmo foi o jantar no Village: um cachorro-quente xexelento. Bom, comer não é o caso, seremos felizes dançando e vendo TV, navegando na internet e postando no site 100 dias em Paris — esta Poliana não para. Tirando a parte da dança, a TV era daquelas grandes e gordas, com uma imagem péssima; internet no quarto só pagando 10 euros por dia. Enfim, um bom livro nunca matou ninguém, ao contrário, e tenho muitos no meu Kindle: a luz da cabeceira estava queimada e só no dia seguinte seria possível trocá-la. E a TV quebrou em dois dias.
Aquele meu sonho besta de passear pela Disney foi para as cucuias. Não dou a mínima para Piratas do Caribe e odeio montanha-russa. Eu me mandei na manhã seguinte ao evento, mas sem antes passar por outra experiência, também insuportável. Os amantes de Miami e das grifes me avisaram: "Há um outlet superbacana perto da Disney". Poliana disse OBA! Olhei no mapa que havia no lobby do hotel, em meio a 600 espanhóis (a língua mãe no local), 300 ingleses e 4.000 árabes de todos os países da Europa, e pensei: "Nossa, tranquilo, é só sair daqui, pegar a estrada e em cinco minutos a pé estou no La Valée Village". Tolinha. Não dava para andar a pé para lugar algum. Era preciso pegar o ônibus do hotel, saltar na estação de trem, pegar o comboio e saltar na estação seguinte. E é perto? — ô Poliana chata que sorriu ao ouvir a resposta que era do lado. Para ganhar tempo, porque tinha aula duas horas depois, resolvi pegar um táxi: o motorista ficou de mau humor e disse que eu devia pegar o trem, ficou pior quando insisti e resmungou o trajeto inteiro porque estava há duas horas no ponto e aquela era uma corrida péssima. Agora me diz: 15 euros é uma corrida deplorável? E se ele estava no ponto há mais de duas horas é porque a maré estava mais para piranha do que para peixe.
O outlet tem o mesmo formato dos americanos, pequenas casinhas com as marcas sensação e preços nem tanto. Eu adorei um casaco de couro no Armani, mas custava 700 euros; ou uma carteira da Furla, 150 euros. Dei uma olhada geral, não comprei nada, fiz algumas fotos, comi num restaurante chinês (Oba! Comida de verdade) e resolvi pegar um táxi de volta, porque o tempo urgia. Táxi? Como assim? Táxi, repetiu o segurança até me dar a resposta correta: "não tem táxi aqui não". Quase chorei, juro. Aliás, minto, dei uma choradinha de ódio. Andei pelo menos uns 20 minutos até a estação, seguindo o fluxo, porque placa não havia, achando que nunca mais ia sair de lá.
Ufa, saí, porque sou safa. Mas lá não volto jamais.