Aqui em Paris, as mulheres não têm bunda nem peitos grandes: são rectilíneas, retas e ficam bem com qualquer roupa. Salvo exceções. Os homens são narigudos, rectilíneos, retos e ficam bem com qualquer roupa. Salvo exceções. Mas na Fashion Week, vale tudo.
Eu implico muito. Por exemplo, implico com Ai se eu te pego/ Assim você me mata e se ouvisse mais uma vez em Paris, era capaz de ter um chilique. Tenho uma amiga que implica com o Bill Gates. Eu, porém, implico, mesmo depois de morto, com Steve Jobs. E parece que os dois sempre estiveram preocupadíssimos com este fato e conversavam sobre isto com frequência. "O que vamos fazer com aquelas duas?" Implico, sobremaneira, com as Fashions Weeks que acontecem anualmente no Brasil. Parece que elas não acabam nunca. As festas da moda bombam com as mesmas figuras de sempre, invariavelmente de preto e com óculos escuros. E fora de moda, porque afinal usam o que se estará usando seis meses depois. Ou seja, fora de moda.
Ao mesmo tempo, desde que cheguei a Paris me encantei com a elegância das mulheres parisienses. Para começar elas são magras e longilíneas por natureza — o que facilita muito. E se vestem com sabedoria, charme e minimalismo. Falo de gente no meio da rua. Você cruza com uma mulher de 45 anos de saia justa preta, uma blusa branca, um lenço jogado no pescoço, meias pretas e sapato de salto preto e ela está deslumbrantemente bela e sexy. Ou com uma jovenzinha, também com uma echarpe charmosa enrolada estrategicamente no pescoço e um sapatinho de boneca com uma meia de poá, charmosa como nunca. Ou senhorinhas, com um casaco impecável, assim como os cabelos brancos elegantemente em um coque. Fiquei observando-as diariamente com uma curiosidade imensa, pois não me canso de me espantar ao ver sessentonas de barriga de fora, quarentonas usando as roupas das filhas de 20 ou jovens embaladas a vácuo, com roupas tão apertadas que parece que a respiração será impossível. Onde? Ora, no Rio de Janeiro, em especial na Zona Sul, o que é mais imperdoável porque existe dinheiro e deveria haver ainda alguma cultura e elegância.
A moda na França é negócio de gente grande e movimenta bilhões de euros. E não é de hoje, como me mostrou a exposição Haute Couture, no Hôtel de Ville. Não era uma exposição com uma curadoria excepcional e tinha uma montagem por vezes inadequada, mas podia-se a acompanhar a história da moda mundial através de fotografias, croquis, vídeos e diversos vestidos de Saint Laurent, Chanel, Balenciaga, Lanvin, entre tantos outros monstros sagrados da alta costura. Na saída da expo havia dezenas de crianças aguardando com suas professoras para entrar. Moda é cultura e desde pequenos todos podem saber o valor da elegância.
Refletindo sobre isso, e vendo os comentários, após postar uma foto minha de capa, lenço colorido e umas mitenes de cashmere no Facebook, me deparei com uma observação da minha cunhada CC, que também passa longas temporadas na capital francesa: "Eu acho que em Paris todas nós, latinas, afinamos o olhar, aprendemos a nos vestir com a simplicidade típica das francesas e nos tornamos, muito, muito mais elegantes". Ela tem toda razão e acho que aprendi bastante por olhar todos nas ruas. Paris me deu mais esta oportunidade, aprimorar o meu olhar americano do sul e reforçar a certeza de que o minimalismo é tudo (não é à toa que as lojas de estilistas japoneses proliferam pela cidade). Já não sou muito de excessos e, mais ainda do que nunca, sigo o bom senso: um vestido é curto ou decotado ou justo. Escolha: um vestido colado, com decotão nas costas e na frente curtíssimo serve para outras coisas, como fetiche ou trottoir, que não têm muito a ver com elegância.