Capítulo 5

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Não pensei duas vezes. Apesar do medo e da angústia, abri a janela. O vento quente da manhã em Chicago invadiu o quarto, trazendo a motivação que tanto precisava para voar. Todos os corpos sofrem aceleração devido à gravidade. O intervalo do voo seria, em média, de 5 a 8 segundos, segundo meu raso conhecimento em física. Um voo bem rápido. Sou de humanas, caso tenha falado besteiras. Continuando...

Logo, meu corpo estaria espatifado no chão, com sangue espalhado por todo o perímetro. Fechei os olhos com tanta força que todas as minhas linhas de expressão ficaram perceptíveis. Inspirei e soltei o ar algumas vezes até ter coragem suficiente para passar a primeira perna para fora. Com um estranho orgulho, ri ao passar a outra perna.

Sentada na janela, com as pernas deliciosamente flutuando no ar, experimentei a boa sensação de liberdade que o início definitivo do meu fim trazia. Relaxei o rosto. Após contar mentalmente até três, inspirei e expirei o ar. Estava pronta. Nasci para fazer aquilo, pena que havia descoberto um pouco tarde. No três, abri os braços e, quando me arremessaria, uma mão estúpida me puxou.

― Você pode me soltar? Me solta seu inútil! ― Eu fiz o possível para impedir o Gregório, inclusive mordendo o seu braço, mas ele não desistiu. Não havia mordidas sequer que me salvassem de suas garras. Ele, literalmente, era o maior inimigo do fim. ― Gregório, me deixa em paz! Não interrompa meu fim.

― Ficou maluca?― disse Gregório ao me colocar no chão. Ele estava nervoso, sei disso por causa das gotículas de suor em sua testa e a sua voz estava trêmula.

― Você não entende. ― falei envergonhada. Muitas vezes subestimamos a dor do outro, achando que é drama ou frescura. Somente quem vivencia a dor é capaz de entendê-la.

― Claro que entendo. Você está maluca, olha só pra você!

Gregório cruzou os braços e riu da minha cara. Eu não consegui me controlar, fechei os punhos e investi contra ele. Mesmo que minha vida tenha virado de cabeça para baixo, ele não tinha o direito de zombar da minha cara, especialmente naquele momento.

― Vou fazer você engolir esse sorriso. Sou muito boa em briga! ― disse, socando a sua barriga. Quando estava prestes a socar o seu rosto, a criatura segurou os meus braços. Tentei me libertar, mas era impossível competir com sua força.

―Quer parar? — gritou ele, apertando forte os meus braços.

― Quero que você me deixe em paz, será que pode fazer isso? — Mesmo sabendo que as suas garras eram invencíveis, lutei. Não deu, como esperado, em nada. — Começando a me soltar, pode fazer isso? — pedi, desistindo de bater de frente.

Ele olhou para mim de forma nebulosa e concordou com a cabeça. No entanto, não me soltou. Pelo contrário, apertou meus braços ainda mais forte. Queria me ver, mais uma vez, implorando para que me soltasse, como uma mãe desesperada e sem argumentos, pedindo para sua criança entrar no banho.

Sim. Fiz o que queria. Me humilhei e roguei pela liberdade de meus braços.

― Tudo bem, Laura. ― disse em um bocejo, soltando-me. Olhei para os meus braços que estavam vermelhos devido a força que ele apertou e cruzei-os. ― Vou sair daqui e você terá paz. Mas... ― Ele segurou de leve meu queixo, fazendo com que mantivesse a minha atenção apenas nele. ― se você quer se suicidar, por favor, espera eu sair do quarto. Não quero ser suspeito de homicídio.

Assim que calou, deu uma piscadela e soltou o meu queixo. Tive que me segurar para não empurrá-lo da janela. Ele era um abusado!

— Então saia daqui logo! — exclamei, aos gritos que não eram tão gritos assim. Minha garganta doía muito de tanto berrar, e a voz já saía rouca. Ele cruzou os braços e, com um maldito sorriso no rosto, tentou tocar meu queixo novamente. Impedi-o, desviando-me e indo em direção à porta, que abri. ― Saia logo, agora mesmo!

Descendo do SaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora