Capítulo 16

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Um vídeo de exatamente cinquenta e nove segundos arrumou toda a minha credibilidade no mundo corporativo, algo que demorei anos para obter. Anos. Sem expor o meu nome de modo direito, no Linkedin vários posts cravando facas em minhas costas feitos por colegas de profissão surgiam no meu Feed e a brincadeira era: quem mais julgaria de forma hostil, porém um hostil contido para não gerar uma energia tóxica na rede, a minha atitude antiprofissional nos comentários? E quanto a minha caixa de mensagens daquela rede?! Tantos recados de repudiação tinham, dava até para criar uma peça de cem atos só com as últimas mensagens recebidas nas últimas três horas.

Por que aquela gente se doía tanto? E por que eu insistia em ler aquelas coisas que só me faziam ter vontade de chorar?

Além da minha família, o mundo corporativo também se tornou um tribunal de julgamento para tudo o que eu fazia na vida. Embora houvesse diferenças entre essas duas esferas, no final, era tudo a mesma coisa.

— Terminei!

Anunciou, Gregório, ao sair do banho e aproximando-se de mim com os cabelos pingando água que escorriam pelo seu rosto e nuca. Ele passou a toalha que segurava na testa e idêntico a um cachorro secando os pelos logo após o banho, começou a chacoalhar a cabeça de um lado para outro, espirrando água sobre mim.

— Gregório! — reclamei, a maioria dos pingos atingiram a tela do meu telefone.

— Eu tenho que te irritar até o meu último instante com você. — disse ele, arrancando o aparelho das minhas mãos para secá-lo com uma toalha. — Prontinho! — Ele me devolveu o telefone e dirigiu-se à sua mala. De lá, retirou um perfume de embalagem sofisticada e borrifou quantidades insanas em seu corpo. Por sorte, o cheiro não era forte nem desagradável.

— Ah, Laura! — Ele olhou para mim ao guardar o perfume, falando da mesma forma que se faz um pedido de desculpas.

— O que foi? — perguntei, sem entender absolutamente nada da sua reação.

— O cheiro do perfume não a incomoda? — Fiz um gesto negativo com a cabeça, e ele suspirou aliviado. — A Rachel detesta quando borrifo perfume perto dela. É capaz de me matar. Ela fica mal com cheiro.

—Que pena, o perfume não é ruim. — respondi. Levantei-me da única cadeira disponível no quarto, que estava bem em frente à janela, e sentei-me na cama. Ao largar o telefone ao meu lado, senti-me triste por tudo o que havia observado e chorei feito uma idiota, como se fosse a única coisa que soubesse fazer na vida.

Eu não aguentava mais tanto drama, choro e tristeza.

Como parar?

— O que foi? — Gregório, preocupado, veio em minha direção e sentou-se ao meu lado.

— O LinkedIn só fala de mim. E falam mal! Como é que vou arrumar um outro emprego se meu networking me repudia? Eu nunca mais vou conseguir trabalhar e como vou me alimentar?

— Plano B, você tem? — perguntou ele, colocando a toalha molhada em volta dos seus ombros.

Não sei se aquilo foi um incentivo ou um deboche de sua parte. A verdade era que o meu plano B significava redenção total a tudo que minha mãe traçava para mim. Uma vida miserável, casada com algum viúvo pervertido e asqueroso que não se importasse com minha história e nem de me sustentar desde que abrisse as pernas sempre que ele quisesse, servisse de sua empregada doméstica não-remunerada e parisse o máximo de criaturas até a chegada da menopausa. E, acrescentando, cuidar bem das criaturinhas sozinha e sem ter que interferir na execução perfeita das outras atividades que foram delegadas.

— Você tem um plano B para situação assim como a minha?

— Se eu não pudesse mais trabalhar com publicidade no mundo corporativo, iria empreender. — respondeu, chocalhando outra vez a cabeça.

Descendo do SaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora