Tudo mudou, de uma hora para outra, sem ao menos perceber. O meu relacionamento com Rachel tinha altos e baixos como qualquer relação amorosa. Apesar das brigas tolas, éramos felizes e eu acreditava, de forma inabalável, que estávamos apaixonados. Rachel até planejava um encontro para que eu conhecesse sua família. As coisas estavam sérias e ela passava mais tempo no meu apartamento do que em sua própria casa. Cheguei a cogitar a ideia de morarmos juntos quando voltasse de Chicago, já que metade de suas coisas estavam espalhadas por lá.
Rachel, antes da verdade surgir, era a pessoa mais gentil e amigável que já conheci. Ela amava os animais e sabia fazer o melhor brigadeiro do mundo. Além disso, possuía o sorriso mais encantador e carregava dentro de si a felicidade do universo inteiro. Nunca a via triste, exceto quando enfrentava os ataques histéricos de Laura, um após o outro.
Laura Steven era a única coisa que apagava o sorriso da Rachel e levava toda a sua gentileza de ralo abaixo. Conhecendo o outro lado da moeda, Laura não tinha a real intenção de maltratar a Rachel ou desmerecer a sua competência profissional. Era o modo peculiar dela. Impaciente e estressada com tudo e todos. Rachel não conseguia discernir e se deixava afetar pelo mau humor de Steven.
Não apenas Rachel, mas todos na agência.
Não estou justificando o mau humor de Laura. Ninguém merecia aguentar seus surtos e gritos. Era um pesadelo trabalhar com ela, não posso negar. Porém, olhando de outra perspectiva, creio que as pessoas, inclusive eu, exageravam bastante. Tudo o que ela fazia era desaprovado por quase todos os funcionários. O desprezo por Laura Steven era tão intenso que qualquer gesto amável parecia uma afronta dela, o que levava a uma série de reuniões secretas para difamá-la. Desejos malignos eram compartilhados nessas ocasiões. Fazíamos apostas e torcíamos para que uma doença ou acidente a levassem para outro plano. Os religiosos rezavam fervorosamente todas as noites para que isso acontecesse o mais rápido possível, enquanto os mais desesperados pela sua queda encomendavam os melhores trabalhos de magia.
Porém, nada dava certo. Ela era blindada e quanto mal era desejado, Laura crescia na agência.
E, ela merecia.
A única coisa que a fez parar... eu. E por a infeliz insistência da Rachel. Eu amava tanto aquela baixinha que não me importei se era correto ou não. Fiz tudo que podia para deixá-la feliz em troca de um belo par de chifre.
Chifres, com provas sólidas e a minha tia como testemunha do ato, negados até o último segundo. Quando confrontada, além de mentir descaradamente, ela insultou minha tia e melhor amiga com as mais terríveis ofensas já proferidas. Ela nunca foi gentil, era apenas uma farsa. Ouvir Merlinda ser xingada por uma impostora despertou uma enorme raiva em mim e gritei para defender a honra de minha tia, fazendo-a se calar e encolher os ombros. Diminui uns dez centímetros de tamanho.
Depois de expressar tudo que sentia e deixar claro o quanto ela era desprezível, entrei no primeiro bar que vi e bebi como se não houvesse amanhã. Descontei toda a raiva que tinha por confiar tanto em uma mulher e arruinar a vida de outra na bebida e, acidentalmente, terminei a noite no quarto de um motel com uma mulher desconhecida.
Até hoje não consigo me lembrar do nome dela, nem de como a conheci ou de como a levei para um motel. Só me recordo de jogar o preservativo no lixo e a ducha que tomamos juntos sem falar muita coisa.
No dia seguinte, voltei ao mesmo bar e um episódio conhecido aconteceu novamente. Encerrei a noite com uma outra mulher e, aprendendo com o passado, questionei seu nome e outros detalhes sobre ela. Seu nome era Ana, uma estudante de medicina que também tinha habilidades no surfe.
Fui tentado a repetir os mesmos comportamentos ao longo da semana para aliviar o peso em minha mente, no entanto, resisti. Tive algumas pequenas fraquezas e quase acabei em um motel com uma desconhecida, mas... Laura não me respondia. Ela desapareceu como fumaça. Não conseguia parar de pensar nela.
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Descendo do Salto
ChickLitSe fosse realizada uma votação para avaliar a diretora de planejamento e produção de uma das maiores agências de publicidade do país, a Lex Publicidades, a decisão seria unânime: corte a cabeça! Ninguém a suporta, mas precisam cuidadosamente disfarç...