Um embaralhado tão grande na cabeça que sentia meu corpo tremer. Não sabia se era por causa do excesso de bebida consumida ou da velha culpa, que agora dava espaço para novas culpas se juntarem ao time. Por que eu era tão impulsiva? Por que tão burra? Por que tão fracassada? Por que eu era simplesmente eu? Minha mãe jamais me perdoaria por ter surtado em sua festa de aniversário. Se eu tivesse um pouco mais de bom senso, poderia ter esperado por outro momento. Sempre fui impulsiva demais.
O barulho perturbador me fez abrir os olhos com dificuldade, e a situação em que me encontrava me fez desejar a morte. Estava deitada no chão, próximo à entrada dos banheiros, com cheiro de bebida. Segurando a cabeça, sentei-me e tentei lembrar como havia chegado até ali. Não me recordava de nada. Apenas lembrava do momento em que encostei a cabeça no balcão para aliviar a dor e tudo se apagou.
— Laura, acordou!
Após algum tempo, ouvi alguém celebrando o fato de eu estar acordada e, assustada, procurei de onde saiu a voz. O salão, além da música alta, estava muito escuro.
— Cadê você? — gritei, cansada de procurar.
— Estou aqui! Olha, aqui! — Acenou uma silhueta de uma mulher aparentemente alta, que caminhava em minha direção. Apenas a reconheci quando parou à minha frente. Ela estava igualzinha, sem tirar ou colocar nada, desde a última vez que a vi. — Como se sente, Laurinha?
— Salete. — falei, tentando parecer feliz em vê-la.
Salete não era má pessoa; foi a única prima que não me abandonou nos momentos mais delicados. No entanto, isso não a tornava agradável em todas as situações. Ela era excessivamente feliz, passiva e benevolente. Sempre. Quase como a Madre Tereza. Se fosse virgem, seria transformada em santa ainda em vida por encarar a vida com tanta leveza. Não há objeções a ela ou a alguém do tipo, mas... não é confortável conviver com uma pessoa tão positiva, pois nos faz questionar se algo está errado conosco. Ou se somos depressivos demais.
— Pedi para te colocar aqui. Foi o lugar menos movimentado e barulhento que achei. — Ela sentou-se ao meu lado com um saco de Doritos gigante em mãos e desvendou o mistério de como fui parar naquele lugar nojento, enquanto sorria amplamente.
— Quem me trouxe? — Indaguei, curiosa, furtando um Doritos para saciar a vontade do meu estômago. Ele emitiu um som estranho ao notar a comida ao redor.
— Pedi para o rapaz mais bonito da festa, depois do meu marido, te trazer aqui.
— Quem?
— O novo amigo da Gui. — respondeu, colocando alguns salgadinhos na boca. — Um loirinho. — acrescentou, com a boca cheia.
— Não me importaria de ficar em um lugar movimentado e barulhento, desde que fosse um pouco mais digno. — falei com expressão de desgosto, percorrendo com o olhar o perímetro em que me encontrava, enquanto pegava mais um pouco dos seus Doritos.
Salete parou de mastigar, moveu os olhos pelo ambiente e pelo meu rosto, levou as mãos até a testa e deu uma batidinha nela.
— Pensei que aqui seria um bom lugar, desculpe. — Ela expressou sua frustração ao saber que a sua ideia não foi bem aceita, depois de comer os salgadinhos.
Rolei os olhos para cima com a sua falta de noção, mas a desculpei. Nas piores hipóteses, ela teve uma boa intenção.
— E a minha mãe? O que aconteceu enquanto estava apagada? — A pergunta que não queria calar na minha cabeça. Saber da reação de minha genitora.
— Hmm... — Ela colocou mais alguns salgadinhos na boca e deu de ombros, como se o assunto não fosse tão importante.
— Ela quer arrancar a minha cabeça, não quer?
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Descendo do Salto
ChickLitSe fosse realizada uma votação para avaliar a diretora de planejamento e produção de uma das maiores agências de publicidade do país, a Lex Publicidades, a decisão seria unânime: corte a cabeça! Ninguém a suporta, mas precisam cuidadosamente disfarç...