Devido à longa viagem e a euforia gritando dentro de mim por representar a Lex no maior seminário internacional de publicidades, não tive, pela primeira vez em muito tempo, dificuldades para pegar no sono. Após um banho quente e demorado, joguei-me na cama e quem supôs que eu descansei se enganou. Logo que fechei os olhos, o alarme tocou por todo o quarto. A maldita hora de acordar.
No geral quando estava muito empolgada com algo, não costumava fazer cara feia ou birra para levantar da cama, porém naquele dia as coisas estavam um pouquinho complicadas e o culpado exclusivamente de toda situação incomum era o cansaço da viagem. Foi horrível o voo. Turbulências uma atrás da outra, deixando-me aterrorizada.
Com os olhos meio abertos, alcancei o celular que estava sobre a mesa de cabeceira e atrasei o alarme em cinco minutos. Depois, soltei-o de forma desordenada, e por pouco não caiu bem no meu rosto, quase danificando o meu caro nariz. Passados os cinco minutos, com a sensação de que foram apenas dois segundos, o barulho insuportável do alarme tomou conta de todo o ambiente. Não havia mais regalias.
Com preguiça, abri os olhos e bocejei. Antes de sair da cama, verifiquei minhas mensagens e e-mails. Quase o coração saiu pela boca ao ver a quantidade de mensagens recebidas em menos de cinco horas. Um total de novecentos e quarenta e sete novas mensagens foi contabilizado no aplicativo de mensagens instantâneas. Não era habitual receber tantas notificações. Entre as muitas mensagens recebidas, a primeira a ser visualizada não era nada menos do que uma enviada por Ted, o CEO da Lex Publicidades.
Ingenuamente pensei que fosse alguma felicitação por representar a Lex em um evento tão importante e fiquei tão entusiasmada por abrir a mensagem. No entanto, um balde de água fria eu levei. Meus olhos não acreditavam no que liam. O conteúdo era totalmente hediondo, execrável e reprovável. Uma verdadeira baixaria de quinta categoria.
"Laura Steven, você foi minha maior decepção! Pensei que fosse uma pessoa de caráter. Uma pessoa digna. Engano meu. Nunca pensei que fosse ser tão... cruel. Como consegue viver assim? Que decepção! Minha empresa não necessita de seus serviços. Está fora e não ouse colocar seus pés por lá. Nunca mais."
Sem entender nada, tentei entrar em contato com ele para compreender o que se passava, mas sem sucesso. Ted não me atendia; sem dúvidas, havia me bloqueado e arrancado impiedosamente o direito de uma única explicação. Com a cabeça a mil, pensando nos motivos que levaram Ted a ter aquela atitude, desabei aos prantos no chão. Envolvi minhas longas pernas uma na outra e fiquei na mesma posição por vários minutos, talvez horas. Não podia ser real que eu, Laura Steven, fui chutada como um trampo velho e fedido. O que eu tinha feito de errado para receber tamanha injustiça?
Enquanto me rendia à franqueza e mergulhava em um oceano de dúvidas e decepções, meu telefone não parava de tocar. Eram ligações uma atrás da outra, e faltavam forças para me comunicar com outras pessoas. Eu estava mal, sem energia, e não queria que ninguém percebesse isso. "Para todos os efeitos, Laura Steven é imune às fraquezas e vai tirar tudo a limpo." Eu me agarrei a essa ideia, insistindo em melhorar, me levantar e buscar respostas com determinação. No entanto, meu objetivo não passou de um grande nada e, pior ainda, me deixou mais angustiada e, consequentemente, fraca. Há poucas horas, eu estava vivendo meu sonho. Fui dormir tão feliz e, de repente, como mágica, descobri que a coisa mais importante da minha vida foi extraída de forma horrífica.
Procurando descobrir algum indício que ocasionou a tragédia, encostei meu rosto no chão e tentei recriar na minha cabeça a minha última semana. No entanto, fui interrompida com o barulho da porta rangendo. Levantei a cabeça e deparei com um jovem senhor uniformizado, provavelmente funcionário do hotel, entrando no meu quarto.
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Descendo do Salto
ChickLitSe fosse realizada uma votação para avaliar a diretora de planejamento e produção de uma das maiores agências de publicidade do país, a Lex Publicidades, a decisão seria unânime: corte a cabeça! Ninguém a suporta, mas precisam cuidadosamente disfarç...