Capítulo 38

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Como ainda não inventaram uma bebida alcoólica voltada para público +30 que promete quase nada de sintomas de ressaca! Minha cabeça estava pegando fogo e lutava para manter a boca fechada a cada balançado que carro dava. Com os dedos cruzados, torcia para chegar o mais rápido ao apartamento. Precisava voltar a dormir antes de colocar os neurônios para trabalhar em busca de um lugarzinho ideal que pudesse continuar sobrevivendo. A venda do apartamento estava a um passo de ser oficialmente fechada. Dentro de três dias, se tudo ocorresse bem, deveria deixar o lugar.

Ao chegar ao meu destino, saltei do táxi e, desesperada, entrei no prédio. Desde da ameaça do Robert, não me sentia segura na rua. Só deu tempo de tirar os sapatos e enrolar o meu cabelo em um coque quando o barulho do interfone ecoou por todo ambiente. Será o Robert? Gelei. Prendi a respiração e agindo como se a minha presença fosse notada pela pessoa que me buscava através do interfone, curvei o meu corpo, escondendo do raio de visão do aparelho e, andando com cautela, segui para o meu quarto. Ao chegar lá, me cobri da cabeça aos pés com um cobertor e deitei no chão, quase me escondendo debaixo da cama. Mas isso não bastou para me esconder do interfone. Ele sabia que eu estava ali e tocou novamente. E depois mais. E mais... mais.

O barulho no apartamento ficou tão insuportável que ficar cara a cara com Robert Rocha não seria nada comparado ao ruído estrondoso. Precisava acabar com aquele inferno e então, fui atender. Receosa, levei o telefone até o ouvido e ao escutar a voz da pessoa que me procurava, meu coração encheu de alegria e alívio.

Era Gregório George Louise.

Só de escutar a sua voz, a dor de cabeça não doía mais tanto assim e o mal-estar era tolerável.

Autorizei a sua subida e corri até o banheiro para dar um jeito de eliminar os vestígios do que antes era uma belíssima maquiagem. A base estava toda esfarelada, o rímel escorreu sob meus olhos, formando duas sombras escuras, e o batom borrado deixou minha boca parecendo a do Coringa. Uma figura horripilante! Uma caracterização perfeita para um filme de terror. Como não percebi isso antes de sair correndo do apartamento da Guilhermina? O que as pessoas pensaram ao me ver tão assustadora, porém vestindo uma roupa bonita e sensual?

Mesmo sabendo que o Gregório já estava em frente de minha porta e, talvez, a golpeava, retirei toda a maquiagem com muita calma e fiz um rápido skin care antes de recebê-lo.

— Oi! — falei, rindo, ao abrir a porta. No entanto, ele não retribuiu o sorriso e sequer disse uma palavra. Estava sério e distante. Limpei a garganta e, mantendo o sorriso no rosto, gesticulei com a mão para que entrasse. Ele entrou, com as mãos profundamente enterradas nos bolsos dianteiros de sua calça, e, claramente esforçando-se, deu um riso. — Quer saber da minha última aventura? A Gui me arrastou para uma balada e acabei participando de um documentário — comentei, tentando trazer de volta o Gregório que eu conhecia. Ele não falou nada a respeito e deu um outro sorriso falso. — O que houve? — indaguei, mais incomodada com sua frieza do que preocupada, à medida que fechava a porta.

Ele não respondeu e focou seu olhar para qualquer coisa que não fosse eu.

— Gregório Louise... — Toquei em seu braço e perguntei mais uma vez. — O que houve?

— Não posso mais continuar com isso. — respondeu, ofegante, em um sussurro, como se falar aquelas palavras fossem dolorosas.

Escutá-las, foi. Quis arrancar o meu coração para não sentir nada, mas era tarde demais. E tarde demais para perceber que estava muito envolvida com ele e a culpa toda foi da minha fragilidade que enfrentava no momento.

— Ah, tudo bem! — disse, batendo em seu ombro e soltando uma risada estranha, como se não me importasse. Continuei agindo assim, numa tentativa de me convencer. Eu não estava apaixonada por ele. — Voltou com a Rachel ou tem outra pessoa? Não precisa se preocupar comigo, foi apenas sexo entre nós. Além disso, estou indo embora e não terei tempo para despedidas porque tenho muitas coisas para fazer e me preocupar.

Descendo do SaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora