Capítulo 18

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Segurando forte a toalha no corpo para não correr risco de desprender e mostrar tudo que possuía ao Gregório, tentei fazer o trajeto até as minhas malas olhando para os meus pés, para que nada me distraísse e, consequentemente, demorasse a minha missão. Na metade do percurso, percebi que o Gregório não estava no quarto, até o chamei para esclarecer qualquer dúvida por precaução antes que me sentisse tranquila. Não queria escutar comentários velados de segundas intenções ao me ver vulnerável e dada, como diria minha mãe. Não sei se Gregório era aquilo tipo de homens cafajestes, mas sendo homem já era de esperar.

Com calma, escolhi minhas roupas e retornei ao banheiro para vesti-las. Vestida e com poucas interferências do Zolpidem, meus dois neurônios, milagrosamente funcionando, debateram a melhor solução. Remarcar o voo ou esperar? Optar por esperar significava conviver mais dois dias com Gregório, trancada em seu quarto. Remarcar custaria dinheiro, algo que eu deveria economizar. O período de dificuldades financeiras se estenderia de forma contínua e esmagadora, a menos que... o plano B. Ele garantiria comida, roupas e bebida, mas o preço a pagar seria alto. E nojento.

Decidi esperar.

Não muito feliz com a opção mais sensata, cerrei os punhos e desferi socos no ar, amaldiçoando o dia em que fui concebida.

— Olha o que trouxe para você! — exclamou Gregório ao entrar no quarto, fazendo-me voltar à postura de alguém normal. Ao se aproximar, percebi que ele segurava dois cartões de acesso ao quarto. — O seu. — disse, entregando-me um dos cartões.

— Como conseguiu? — perguntei, desconfiada, examinando os dois lados do cartão.

— Conversei com a gerência sobre você depois de tê-la acolhido em meu quarto, lembra?" Ele parecia empolgado. — Eles foram gentis e agora, considerando sua situação, não apenas permitiram que você ficasse, mas também querem tê-la como hóspede novamente.

— Sério? — Verifiquei se não era uma brincadeira antes de comemorar. Ele assentiu com entusiasmo e me puxou para um abraço. — E o meu quarto? — perguntei, contagiada por sua animação, olhando novamente para os dois lados do cartão assim que o abraço terminou.

— Aqui. — respondeu, e a pequena alegria que estava sentindo ao ter um quarto só para mim foi diminuindo à medida que olhava para o meu redor. A empolgação do Gregório também foi desvanecendo ao acompanhar o meu rosto de desalento. — Não gostou, não foi? O hotel não quis te deixar em um quarto sozinha depois da sua tentativa de suicídio. A única solução foi essa, dividir o quarto e assumir a responsabilidade que você não vai se matar aqui.

Olhei mais uma vez para os dois lados do cartão e dei uma longa arfada.

— Estou com fome. — falei, varrendo para debaixo do tapete a vergonha de ser conhecida como a moça que tentou suicídio pelos funcionários do hotel. E, também, tinha muita fome. Minha barriga já estava fazendo barulhos estranhos. Estava quase 24h sem consumir nada.

— Quer que eu peça algo ou? — Ele deu de ombros e aguardou que eu tomasse a iniciativa. Em resposta, ergui as sobrancelhas e me virei, deixando a decisão em suas mãos. Não conseguia raciocinar direito, era a dor infernal dando, de repente, outra vez as caras sem dó ou piedade de um lado, o desemprego, a fama de surtada e, agora, a de suicida do outro lado. — O que você gosta de comer?

— Qualquer coisa. — respondi, pressionando a barriga com as mãos.

— Tudo bem com você? — perguntou Gregório, repousando um das mãos nas minhas costas. Fiz que sim com a cabeça e, sem querer, deixei escapar um grunhido alto de dor. — Laura, o que foi? Está sentindo algo?

Gregório deu uma meia volta e parou em minha frente para avaliar a minha real condição. Eu estava pressionando mais forte como nunca a barriga e trincava os dentes para não deixar escapar mais nenhum ruído que pudesse chamar atenção dele. Não queria preocupá-lo ou ter seu olhar de pena sobre mim.

Descendo do SaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora