Capítulo 23

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Nos últimos minutos antes do encerramento do café da manhã oferecido pelo hotel, cheguei para fazer o meu desjejum. Não havia mais tantas opções de comidas; a maioria já havia sido retirada ou devorada. Comi o máximo que pude e, com o estômago cheio, corri para deixar minhas malas prontas antes de explorar a adorável cidade. Ficar trancada dentro de quatro paredes e lamentando tudo da vida não estava permitido.

Não naquele dia.

Precisava respirar um pouco e ter a experiência de como é ser alguém aparentemente feliz antes de me fechar para o mundo. O roteiro do dia incluía visitar um dos pontos turísticos mais famosos da cidade, o Art Institute of Chicago, e andar de loja em loja à procura de algum agrado que pudesse recompensar a gentileza do Gregório Louise. Em vez de uma camisa, comprei um boné preto com o nome "Chicago" bordado em um degradê que ia do vermelho ao azul. Uma coisa bem brega e representativa. Ele, com o biótipo de padrão perfeito de Instagram, nunca usaria, e eu esperava de todo o coração que ele guardasse. Teria uma boa história para contar ao olhar o boné e lembrar de toda a loucura que passou ao meu lado.

Almocei, como se não estivesse desempregada, em um dos melhores restaurantes gastronômicos da cidade e, pouco depois das 16h, retornei ao hotel. Conferi todas as minhas coisas para não correr o risco de esquecer nada e fui tomar banho, me preparando, bem antecipadamente, para voltar ao meu mundinho.

Pronta da cabeça aos pés, fiz uma vistoria por todo o quarto, certificando-me de que não havia deixado nenhum pertence no local e, em seguida, peguei um pedaço de papel e uma caneta que estavam em uma das mesas de cabeceira, itens oferecidos pelo hotel, e escrevi um recado ao Gregório. Agradeci mais uma vez pela ajuda e mencionei que o boné deixado sobre a cama era um presente meu.

Faltavam duas horas para o horário ideal de fazer o check-in e eu já estava na frente do hotel com minhas malas, esperando o Uber. A pior continuação do meu pior ciclo estava por vir. Procurei dar uma trégua à mente e não focar naquilo, apenas passei a observar o vaivém de pessoas e criar situações atípicas para elas. A moça que passou com uma bota vermelha e uma bolsa de alta grife, capaz de sustentar seis famílias pobres, no máximo de quatro integrantes, por dez meses, junto com outra moça de cabelo colorido e longas unhas postiças, imaginei-as participando de um reality show onde provariam comidas estranhas e teriam que refazer as receitas, tornando-as agradáveis. Se não conseguissem, pagariam uma punição, como desafiar as forças físicas do corpo e correr mais de dez quilômetros no deserto de Las Vegas.

Fiquei tão distraída nesse jogo que não percebi a criatura do Gregório saltando de um carro que parou quase na minha frente.

— Já? — disse ele, cutucando-me nas costas de maneira proposital para me assustar.

— Gregório! — suspirei, colocando uma das mãos entre os meus peitos.

— Você se assusta fácil. — comentou, rindo.

— Tinha que ser a última irritação causada por você. — disse, brava. Odiava brincadeiras como aquelas; meu coração não era forte o suficiente para aguentar sustos e, além disso, perdi meu raciocínio ao criar uma realidade paralela para mais um desconhecido!

— Achou que tinha se livrado de mim, Milady? — Cutucou-me de novo. — Não vai embora chateada, não é?

— Vou. — respondi, séria. Apenas por fora.

Já não conseguia ficar com raiva de verdade dele.

— Vim correndo para... — Antes que ele pudesse terminar, o celular dele tocou. Gregório retirou o aparelho do bolso e ao olhar sua tela, soltou um ruído. — Rachel resolveu dar as caras. — comentou, alternando o seu olhar para a tela e eu.

Descendo do SaltoOnde histórias criam vida. Descubra agora