O sermão mais longo e doloroso que já escutei na vida tinha por título: "Laura, eu sempre tenho razão e por isso sou sua mãe." A vontade de encerrar a ligação e me virar sozinha foi grande, mas naquele momento, eu estava tão desabilitada e confusa que só queria ver um rosto conhecido e receber um gesto empático para recarregar minhas energias.
Revestida de toda a vergonha do mundo, cruzei a porta de entrada do The Peninsula Chicago e me deparei com uma boa parte da minha família no hall do hotel. Embora reconhecesse os rostos, não encontrei os gestos empáticos que esperava. Olhares maldosos repousavam sobre mim, acompanhados de perguntas constrangedoras. A vontade de pegar várias pedras e derrubar um por um ou sair correndo em direção ao mar e me jogar em suas águas agitadas e geladas era enorme. No entanto, ao invés disso, lancei um olhar de misericórdia para minha mãe, que apresentava, como já esperado, uma expressão nada amigável.
―Vem, Laura!― atendeu meu pedido, sem muita vontade. Mesmo assim, agradeci com um meio sorriso e a segui até o quarto onde ela estava hospedada.
― Obrigada, mãe.― Depois de um certo tempo, envergonhada, agradeci outra vez.
Mamãe me olhou da cabeça aos pés com desdém e começou a falar coisas indizíveis a um filho.
― Infelizmente eu, como sua mãe, sou a pessoa que tem que te acolher depois de uma merda incalculável. Que porra você fez, Laura? Pensava que estivesse criando juízo, mas vejo que continua uma desmiolada. E sabe quem arca com as suas consequências? — Ela colocou as mãos na cintura e deu uma lufada no ar. — Tive que implorar para o gerente do hotel deixar você aqui.
— Obrigada por fazer tantos esforços só para ajudar a filha desmiolada.
Ela cruzou os braços, retirando as mãos da cintura. Enfurecida com minha resposta, iniciou um novo discurso com o objetivo de me humilhar ainda mais.
— É inacreditável a capacidade que os filhos têm de não agradecer genuinamente os esforços da mãe. Eu, a chacota da família por ter uma filha maluca, tive que me humilhar para te receber aqui. Mesmo enfurecida e querendo te esfoliar, movi céus e terra para que você não ficasse na rua. Faço tudo por você, e você apenas me envergonha. E ainda por cima, da porra toda, é ingrata! Você... — Ela chegou bem perto de mim, apontando o dedo em minha direção, quase furando um dos meus olhos. — ...tira nota máxima no quesito de excluir e ferir emocionalmente a mãe. Por mais que...
— Já entendi, mãe. — interrompi, com a voz um pouco alterada, afastando seu dedo do meu rosto. — Sou tudo de ruim. Um amontoado de cocô fedorento é a minha definição. Uma péssima filha, profissional e cidadã. Mereço ser eliminada, não quer pagar uma pessoa para me executar em praça pública no pingo do sol de meio-dia? Ou é gasto demais? Se preferir me arruma uma arma que faço o trabalho de desaparecer do mundo ou me traz um punhado de comprimidos.
— Não sabe o quanto de besteira você falou. Não se vitimize assim, parece que tem dez anos. — Ela olhou para mim com firmeza e balançou a cabeça em sinal de desaprovação. — E eu não vou discutir mais com você. Hoje é o meu aniversário, não quero me estressar ainda mais. E obrigada pela grande surpresa, Laura! Agradeço imensamente pelo incrível presente de aniversário. Belo surto, a família toda está comentando e eu não sei onde enfiar a cara. Você era uma filha que eu tinha orgulho. Tinha um futuro tão lindo, mas jogou tudo para cima feito uma idiota. Quero nem pensar como será sua vida! Quem vai querer casar com uma histérica como você? Se fosse mais jovem como a Gui e tivesse o metabolismo rápido, seria mais fácil.
Um soco no estômago senti ao escutar as suas últimas palavras. Ela sempre fazia aquilo comigo. Tocava na minha ferida para me deixar vulnerável e ter poder sobre mim.
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Descendo do Salto
ChickLitSe fosse realizada uma votação para avaliar a diretora de planejamento e produção de uma das maiores agências de publicidade do país, a Lex Publicidades, a decisão seria unânime: corte a cabeça! Ninguém a suporta, mas precisam cuidadosamente disfarç...