Algo quente tateava o meu rosto freneticamente, afetando a qualidade do meu sono. Cobri o rosto com lençol e virei-me enquanto resmungava alguns monossilábicos impossíveis de decifrar o seu significado. Não houve desistência pela parte oponente e, desesperado, balançou o meu corpo até que abrisse os olhos. E ao tirar o lençol do meu rosto e abrir os olhos, a primeira coisa que vi foi o Gregório ajoelhado, sobre a cama, ao meu lado.
— Enfim! — suspirou aliviado e sentou-se, aguardando as minhas primeiras reações, que levaram algum tempo.
Parecia que ele já sabia como eu funcionava ao acordar. Lenta. Precisava de um certo tempo até me situar no estado em que estava e onde estava. Minha mãe nunca entendeu minha lentidão ao acordar, principalmente pela manhã. Ela gritava que eu era preguiçosa e não se esforçava para ajudar em nada. Houve um período em que ela conseguiu um bom contrato de trabalho na prefeitura como assistente administrativa. Tinha que acordar cedo para deixar alguns serviços domésticos prontos e me levar à escola antes de ir ao trabalho. No entanto, ela sempre atrasava no trabalho por minha causa. Às vezes, me acordava uma hora mais cedo do que o normal e, quando estava muito impaciente com minha demora, me deixava em casa trancada e ia trabalhar. Eu adorava quando isso acontecia, antes do acidente com a eletricidade.
Num dia atípico, eu estava sozinha em casa e resolvi conectar o rádio portátil, uma aquisição caríssima feita pelo meu pai por ser a grande novidade do momento, em uma tomada nem um pouco segura. Havia vazamento de corrente elétrica. Ao ligá-lo, só escutei um barulho, e o interruptor meio que explodiu. Fiquei no escuro, muito assustada e com medo da bronca que levaria da mamãe.
Ela não me deu uma bronca pesada e tampouco me acolheu. Poderia ter perdido a filha eletrocutada, e a culpa seria dela, pois eu era apenas uma criança! Se eu tivesse uma filha e passasse por aquilo, a acolheria e pediria desculpas. A única coisa diferente que ela fez foi me deixar comer quatro fatias generosas de bolo, acompanhadas de muita Coca-Cola, e pediu que não contasse nada ao meu pai, senão ele surtaria pela perda do rádio.
Até hoje, não sei se ela estava falando a verdade ou se não queria que meu pai soubesse que eu ficava, às vezes, sozinha em casa por mais de oito horas.
— O que foi, Gregório Louise? — perguntei, assim que minha alma retornou ao corpo.
— Sabe fazer nó de gravata?
— Gregório Louise, não te creio! — suspirei, não o enxergando, à medida que me sentava. — Como pode me despertar para isso? Fazer um nó idiota que todo mundo sabe fazer? Eu não creio nisso!
— Desmanchei sem querer o nó da minha gravata e agora não sei fazer. — Ele apontou para a gravata em volta do seu pescoço como se fosse um cachecol e fez uma cara de súplica.
— Vai sem. — disse, voltando a deitar e me cobri até a cabeça.
— Laura, uma boa ação para um jovem necessitado? — Gregório ficou repetindo várias vezes a mesma coisa até me fazer mudar de ideia.
Dando um grunhido alto e raivoso, me livrei da coberta e saí da cama. Ele, por outro lado, comemorou com um largo sorriso e, às pressas, parou em minha frente. Peguei a gravata e, com destreza, a envolvi em seu pescoço, não deixando de reparar no elegante traje que vestia. Era a primeira vez que o via em roupas sociais; parecia até um membro do alto escalão da Lex.
Ele estava lindo. Mais do que nunca.
— Está charmoso, Gregório! — disse enquanto fazia o nó.
— Demorei tanto para usar que pensei que não teria mais oportunidade. — comentou ele, observando a maestria das minhas mãos ao fazer um nó perfeito. — Você é muito boa nisso! Onde aprendeu?
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Descendo do Salto
ChickLitSe fosse realizada uma votação para avaliar a diretora de planejamento e produção de uma das maiores agências de publicidade do país, a Lex Publicidades, a decisão seria unânime: corte a cabeça! Ninguém a suporta, mas precisam cuidadosamente disfarç...