Capítulo 4

3.2K 215 20
                                    

Os dias seguintes são agoniantes

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Os dias seguintes são agoniantes.

Lica sabe que eu existo.

Sempre que entra na sala, uma energia turbulenta e inconfundível entra junto com ela. É algo que perturba o ar que respiramos. Parece o zunido de um inseto. E, toda vez que nos rendemos a ela — toda vez que, em um lampejo de coragem, nossos olhares se encontram—, uma onda de eletricidade irrompe por todo o meu corpo. Fico exausta. Empolgada. Exposta.

E aí... perco o contato. O sinal esfria.

Não entendo o que está acontecendo.

Nas aulas de matemática e física, somos separadas por ordem alfabética. Nas de inglês, ficamos na mesma carteira em que nos sentamos no primeiro dia, em lados opostos do círculo. Mas nosso professor de ciências políticas esperou até hoje, quinta-feira, para definir os lugares dos alunos. Lica chegou atrasada, viu a folha circulando pela sala e se sentou ao meu lado. Simples assim. Só um corredor nos separa. Ela ainda não abriu a boca para nada.

Professeur Hansen anda de um lado para o outro diante da turma, explicando — e gesticulando muito — a Declaração de Independência dos Estados Unidos e a Déclaration des Droits de L'homme et du Citoyen francesa. Lica e eu estamos nos fundos da sala. Quando ela abre a mochila, dou uma olhada de canto de olho e vejo seu caderno de desenho. Mas é um caderno simples que Lica pega. Até certo tempo atrás, eu a observava criando ilustrações elaboradas relacionadas a nossas aulas, mas hoje em dia seus desenhos são abstratos. Formas densas e agrupadas, traços em espiral e...

Deixo escapar um suspiro silencioso - e involuntário.

Ela ergue a cabeça. Minha reação imediata é fingir que aquilo não teve nada a ver com ela. Tento passar um ar indiferente.

— Achou que fosse por sua causa, hã? — sussurro, e fico eufórica por ter conseguido fazer um comentário.

Lica arregala um pouco os olhos, mas sorri enquanto escreve meticulosamente ME PEGOU! debaixo do esboço de uma de suas árvores retorcidas e espinhosas. Solto uma risadinha, mas logo ela se transforma em uma tosse. Professeur Hansen olha de relance para mim, mas não fala nada. Ufa!

Lica vira a página e começa a desenhá-lo, uma versão pequenininha com cabelo esvoaçante e um notável traço de loucura. Nossos colegas de classe ao redor dela começam a esticar a cabeça para ver o que está fazendo. Rafael e seu amigo idiota, Dave; minha parceira de laboratório esnobe, Emily; e... Clara Becker. Que já foi minha amiga. E que agora é amiga de Emily.

Lica começa a desenhar Clara em outra página. Ela usa uma armadura sem luvas que está tão polida quanto suas unhas bem-feitas. Mas Clara está olhando para baixo, distante, como se estivesse com medo de que vejam o que há por baixo da armadura.

Fico arrepiada. Lica vira o caderno para mim, para saber se aprovo o desenho.

— Uau! — digo. — Demais.

The HAPPY Ending • LimanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora