A diretora da escola está terminando seu habitual discurso de boas-vindas, que ocorre sempre no primeiro dia de aula, após o café da manhã. Michel e eu estamos nos fundos do pátio, aninhados entre duas árvores enormes que, depois de podadas, ficaram parecendo dois pirulitos gigantes. No ar, há um cheiro sutil de metal. A escola se estende a nossa frente com todas as suas pedras cinzentas, trepadeiras nos muros e portas pesadas. Nossos colegas estão diante de nós.
Aqui na SOAP há vinte e cinco alunos por série - cem, no total -, e é bem difícil ser aceito. É preciso tirar notas excelentes, conseguir uma pontuação alta no processo de seleção e apresentar inúmeras cartas de recomendação. Ter contatos importantes sempre ajuda. Gen entrou porque Mamãe conhece alguém da administração; eu entrei por causa de Gen, e Sofi entrou por minha causa. É um círculo bem fechado.
E a mensalidade também é cara. É preciso ter dinheiro para estudar aqui.
Com apenas dezenove anos, meu pai criou um pedal overdrive para guitarristas chamado Cherry Bomb. O acessório vermelho revolucionou o mundo da música e transformou o filho de um fazendeiro de Nebraska em um homem muito rico. O pedal que ele desenvolveu é um dos mais copiados de todos os tempos, mas os músicos ainda pagam uma nota alta para adquirir o original. A empresa de meu pai se chama Martintone, e, embora ainda mexa com pedais, agora ele trabalha como engenheiro de áudio.
— Tenho um último comunicado a fazer.
A voz da diretora é tão empolada quanto seu coque de cabelo, branco como a neve. Ela é americana, mas poderia facilmente se passar por francesa.
Michel analisa um mapa no celular.
— Encontrei um caminho melhor para a Casa da Árvore.
— Ah, é? Depois desse tempo todo?
Corro os olhos pelo pátio à procura de Lica. Ou ela foi dormir ou deu um jeito de pular fora.
Escolhi o que vestir com todo o cuidado, porque é a primeira vez em meses que sei que vou vê-la. Meu estilo é bem normal, e hoje estou usando uma camiseta de algodão leve com decote canoa e uma saia jeans acima do joelho, para não ficar com um visual sem graça ou parecer santinha demais. Não consigo imaginar Lica a fim de uma santinha.
Não que ela vá ficar a fim de mim. Mas não quero estragar nenhuma chance. Mesmo sem ter chance nenhuma. Mas vai que eu tenho... Mas não, não tenho.
— Vou deixar que ele mesmo fale — anuncia a diretora, continuando uma frase cujo começo não escutei.
Ela dá um passo para o lado, e uma figura baixa e careca se aproxima do microfone. É Nate, nosso diretor de unidade. É o terceiro ano dele aqui. Nate é americano e, apesar de ser bem jovem, já está fazendo doutorado. Ele é conhecido por ser maleável em relação às regras da escola, sem, no entanto, deixar de ser firme o suficiente para nos manter sob controle. É o tipo de pessoa de quem todos gostam.
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The HAPPY Ending • Limantha
FanfictionRomântica sem salvação, Samantha tem essa paixão na artista emburrada Lica desde seu primeiro ano na School of America, em Paris. E, depois de um encontro por acaso em Manhattan durante as férias de verão, um romance pode estar mais próximo do que S...