Capítulo 3

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A diretora da escola está terminando seu habitual discurso de boas-vindas, que ocorre sempre no primeiro dia de aula, após o café da manhã

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A diretora da escola está terminando seu habitual discurso de boas-vindas, que ocorre sempre no primeiro dia de aula, após o café da manhã. Michel e eu estamos nos fundos do pátio, aninhados entre duas árvores enormes que, depois de podadas, ficaram parecendo dois pirulitos gigantes. No ar, há um cheiro sutil de metal. A escola se estende a nossa frente com todas as suas pedras cinzentas, trepadeiras nos muros e portas pesadas. Nossos colegas estão diante de nós.

Aqui na SOAP há vinte e cinco alunos por série - cem, no total -, e é bem difícil ser aceito. É preciso tirar notas excelentes, conseguir uma pontuação alta no processo de seleção e apresentar inúmeras cartas de recomendação. Ter contatos importantes sempre ajuda. Gen entrou porque Mamãe conhece alguém da administração; eu entrei por causa de Gen, e Sofi entrou por minha causa. É um círculo bem fechado.

E a mensalidade também é cara. É preciso ter dinheiro para estudar aqui.

Com apenas dezenove anos, meu pai criou um pedal overdrive para guitarristas chamado Cherry Bomb. O acessório vermelho revolucionou o mundo da música e transformou o filho de um fazendeiro de Nebraska em um homem muito rico. O pedal que ele desenvolveu é um dos mais copiados de todos os tempos, mas os músicos ainda pagam uma nota alta para adquirir o original. A empresa de meu pai se chama Martintone, e, embora ainda mexa com pedais, agora ele trabalha como engenheiro de áudio.

— Tenho um último comunicado a fazer.

A voz da diretora é tão empolada quanto seu coque de cabelo, branco como a neve. Ela é americana, mas poderia facilmente se passar por francesa.

Michel analisa um mapa no celular.

— Encontrei um caminho melhor para a Casa da Árvore.

— Ah, é? Depois desse tempo todo?

Corro os olhos pelo pátio à procura de Lica. Ou ela foi dormir ou deu um jeito de pular fora.

Escolhi o que vestir com todo o cuidado, porque é a primeira vez em meses que sei que vou vê-la. Meu estilo é bem normal, e hoje estou usando uma camiseta de algodão leve com decote canoa e uma saia jeans acima do joelho, para não ficar com um visual sem graça ou parecer santinha demais. Não consigo imaginar Lica a fim de uma santinha.

Não que ela vá ficar a fim de mim. Mas não quero estragar nenhuma chance. Mesmo sem ter chance nenhuma. Mas vai que eu tenho... Mas não, não tenho.

— Vou deixar que ele mesmo fale — anuncia a diretora, continuando uma frase cujo começo não escutei.

Ela dá um passo para o lado, e uma figura baixa e careca se aproxima do microfone. É Nate, nosso diretor de unidade. É o terceiro ano dele aqui. Nate é americano e, apesar de ser bem jovem, já está fazendo doutorado. Ele é conhecido por ser maleável em relação às regras da escola, sem, no entanto, deixar de ser firme o suficiente para nos manter sob controle. É o tipo de pessoa de quem todos gostam.

The HAPPY Ending • LimanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora