— Você não parece muito feliz por estar em casa — comenta maman, com seu sotaque quase imperceptível.
Ela acabou de fazer o maior drama por causa do cabelo rebelde e cortado-por-ela-mesma de Sofia e agora eu sou a próxima vítima.
O táxi parte para seu último destino: a casa de Michel, apenas dois quarteirões à frente. Meu pai segura minha mala em uma das mãos e a de Sofia em outra, e subimos as escadas
atrás dele. A casa cheira a pão de abóbora. Maman decorou tudo com folhas de árvores, nozes e abóboras. Uma guirlanda com laços e bagas vermelhas envolve o corrimão da escada e velas de cera de abelha iluminam cada um dos quartos. Maman ama os feriados do fim do ano. E ama ter as três filhas em casa.— Não estou triste — digo, com a cabeça no aeroporto. Lica partiu apenas duas horinhas antes de nossa chegada. O timing perverso desse momento ainda me angustia.
— Está sim. E você nunca fica triste.
— Quando a Gen chega?
Mesmo depois de um “tsc, tsc” diante de minha evidente mudança estratégica de assunto, minha mãe responde, entusiasmada:
— À noite. A tempo do jantar de Ação de Graças.
Sofia passa feito um raio entre nós, vai para o quarto dela e bate a porta. Maman se queixa:
— Oh, mon bébés. Você também não vai estragar seu cabelo não, né?
— Não, maman — respondo.
— Chegou um pacote para você hoje de manhã — avisa meu pai.
De maneira geral, meu pai é uma pessoa serena, então a forma como ele me dá a notícia é peculiar. Hesitante. Talvez até um pouco hostil.
— Deixei no seu quarto.
Arqueio as sobrancelhas.
— Como é o pacote?
— Foi entregue por um portador. Acho que foi a Heloísa quem mandou.
Heloísa. Estou começando a achar que meu pai não gosta da Heloísa, mas estremeço dos pés à cabeça mesmo assim.
— Sério? Eu não estava esperando nada.
— A caixa é pesada.
Subo as escadas voando.
— Ela ainda é sua namorada, oui? — pergunta maman.
Paro de repente.
— Porque nós o vimos na televisão dizendo que ela não namora. Não gostei nem um pouco disso, Samantha.
Eu me viro para ela, séria.
— Ela só fez isso para me proteger. Lica não quer que a imprensa fique me importunando.
Maman dá de ombros lentamente, preocupada.
— Me pareceu que ela estava procurando por alguém.
— Alguém? Mon Dieu.
Não acredito que estou tendo essa conversa com minha mãe. Não faz nem cinco minutos que coloquei o pé dentro de casa.
— Por que ela mesma não veio entregar esse pacote? — pergunta meu pai. — Ela está na cidade há três semanas e nem se preocupou em se apresentar para os pais da namorada? É o mínimo que ela poderia fazer depois de ter metido a gente nessa encrenca.
— Ela meteu você em alguma encrenca?
Levanto as mãos. Desisto.
— Não, deixa pra lá. Não vou discutir isso de novo. E ela mandou um portador entregar o pacote porque tinha um avião para pegar. Para Washington. Para a Casa Branca. Para jantar com o presidente. Está lembrado?
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The HAPPY Ending • Limantha
FanfictionRomântica sem salvação, Samantha tem essa paixão na artista emburrada Lica desde seu primeiro ano na School of America, em Paris. E, depois de um encontro por acaso em Manhattan durante as férias de verão, um romance pode estar mais próximo do que S...