Capítulo 21

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— Você não parece muito feliz por estar em casa — comenta maman, com seu sotaque quase imperceptível.

Ela acabou de fazer o maior drama por causa do cabelo rebelde e cortado-por-ela-mesma de Sofia e agora eu sou a próxima vítima.

O táxi parte para seu último destino: a casa de Michel, apenas dois quarteirões à frente. Meu pai segura minha mala em uma das mãos e a de Sofia em outra, e subimos as escadas
atrás dele. A casa cheira a pão de abóbora. Maman decorou tudo com folhas de árvores, nozes e abóboras. Uma guirlanda com laços e bagas vermelhas envolve o corrimão da escada e velas de cera de abelha iluminam cada um dos quartos. Maman ama os feriados do fim do ano. E ama ter as três filhas em casa.

— Não estou triste — digo, com a cabeça no aeroporto. Lica partiu apenas duas horinhas antes de nossa chegada. O timing perverso desse momento ainda me angustia.

— Está sim. E você nunca fica triste.

— Quando a Gen chega?

Mesmo depois de um “tsc, tsc” diante de minha evidente mudança estratégica de assunto, minha mãe responde, entusiasmada:

— À noite. A tempo do jantar de Ação de Graças.

Sofia passa feito um raio entre nós, vai para o quarto dela e bate a porta. Maman se queixa:

— Oh, mon bébés. Você também não vai estragar seu cabelo não, né?

— Não, maman — respondo.

— Chegou um pacote para você hoje de manhã — avisa meu pai.

De maneira geral, meu pai é uma pessoa serena, então a forma como ele me dá a notícia é peculiar. Hesitante. Talvez até um pouco hostil.

— Deixei no seu quarto.

Arqueio as sobrancelhas.

— Como é o pacote?

— Foi entregue por um portador. Acho que foi a Heloísa quem mandou.

Heloísa. Estou começando a achar que meu pai não gosta da Heloísa, mas estremeço dos pés à cabeça mesmo assim.

— Sério? Eu não estava esperando nada.

— A caixa é pesada.

Subo as escadas voando.

— Ela ainda é sua namorada, oui? — pergunta maman.

Paro de repente.

— Porque nós o vimos na televisão dizendo que ela não namora. Não gostei nem um pouco disso, Samantha.

Eu me viro para ela, séria.

— Ela só fez isso para me proteger. Lica não quer que a imprensa fique me importunando.

Maman dá de ombros lentamente, preocupada.

— Me pareceu que ela estava procurando por alguém.

— Alguém? Mon Dieu.

Não acredito que estou tendo essa conversa com minha mãe. Não faz nem cinco minutos que coloquei o pé dentro de casa.

— Por que ela mesma não veio entregar esse pacote? — pergunta meu pai. — Ela está na cidade há três semanas e nem se preocupou em se apresentar para os pais da namorada? É o mínimo que ela poderia fazer depois de ter metido a gente nessa encrenca.

— Ela meteu você em alguma encrenca?

Levanto as mãos. Desisto.

— Não, deixa pra lá. Não vou discutir isso de novo. E ela mandou um portador entregar o pacote porque tinha um avião para pegar. Para Washington. Para a Casa Branca. Para jantar com o presidente. Está lembrado?

The HAPPY Ending • LimanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora