Um senhor com um piano caindo aos pedaços está tocando "La vie en rose" na rua, bem de frente para minha janela. Ele transporta o piano pela cidade, de um lado para outro, mas nunca vi como ele faz isso. É sexta-feira, está começando a anoitecer, e a música espaçada e lenta é um contraste bizarro com a história dura e impactante que estou lendo sobre uma pessoa que se perdeu em alto-mar.Ouço duas batidas à porta.
— É só chutar. Eu ainda não mandei consertar — grito, da cama.
Viro a página do livro, e a porta se abre lentamente, sem nenhum pontapé. Olho de relance. Sem conseguir acreditar no que meus olhos acabaram de ver, olho de novo e, toda desajeitada, me apresso para ficar de pé.
— Desculpa, achei que fosse o... — digo.
— Michel — completa Lica.
Ficamos olhando uma para o outra. Ai meu Deus, como ela é linda. Lica está com cara de quem acabou de tomar banho, e suas roupas estão combinando mais do que de costume. Por trás do desajeitado, sempre consigo enxergar o olhar artístico dela. O suéter e a calça jeans estão sempre combinando. É um jeito sutil de se vestir, mas não é como se ela simplesmente pegasse qualquer peça do guarda-roupa e pronto.
— Como você sabia que aqui era o meu quarto? — pergunto, quebrando o silêncio.
— Eu vi você vindo para cá um dia, enquanto esperava o elevador. E chamou a minha atenção porque... este era o meu quarto.
Lica olha ao redor, observando tudo. Deve ser estranho para ela.
É estranho para mim.
Além da colcha de Manhattan, minha cama está cheia de travesseiros macios e cobertores. Consegui achar um lugar para enfiar uma estante bem estreita, com um ar meio antigo, que está abarrotada de livros de aventura, de todos os tipos: romances, não ficção, quadrinhos. Meu armário está abarrotado de roupas, e ainda coloquei mais uma cômoda em cima da que já havia no quarto. Nos cantos da pia e do box, que são minúsculos, estão enfileirados os produtos de banho e higiene pessoal. Na escrivaninha, meus deveres de casa, canetas, lápis e marcadores de texto estão organizados em potinhos idênticos.
— Eu sabia. Que este quarto tinha sido seu — confesso.
Lica ergue as sobrancelhas escuras.
— E por que não me contou?
Dou de ombros, sem saber o que dizer, mas ela assente, como se tivesse entendido. E acho que entendeu mesmo. Lica enfia as mãos nos bolsos, tensa e insegura.
— Você continua aí parada no corredor. — Aponto com a cabeça na direção do quarto. — Entra.
É o que ela faz, e a porta se fecha.
— Cuidado! Pego um livro de uma matéria qualquer e enfio debaixo da porta para mantê-la aberta. — Nate vai ficar no nosso pé para ter certeza de que estamos cumprindo as novas regras, você sabe...
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The HAPPY Ending • Limantha
FanficRomântica sem salvação, Samantha tem essa paixão na artista emburrada Lica desde seu primeiro ano na School of America, em Paris. E, depois de um encontro por acaso em Manhattan durante as férias de verão, um romance pode estar mais próximo do que S...