Capítulo 17

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Ouço o estômago de Lica roncar

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Ouço o estômago de Lica roncar. O quarto está escuro. Eu me desenrosco do corpo dela e me viro para olhar o relógio digital no criado-mudo. São quase duas da manhã. Lica desperta com meu movimento.

— Tapas — murmura. — Não comemos tapas.

— Acho que perdemos a hora do jantar.

— Tudo bem. — Ela me abraça. — Eu estava cansada demais para levantar mesmo.

— Acho que vamos ter que voltar aqui um dia.

— Tapas e cerveza. E, depois, vamos fazer amor no altar da Sagrada Família.

Eu me levanto; ela me puxa, mas consigo me soltar.

— Já volto. Vou ao banheiro.

Depois de fazer xixi, volto para pegar a escova e a pasta de dentes. Lica vai atrás de mim e escovamos os dentes juntas. Não conseguimos parar de olhar uma para o outra e sorrir. Não
acredito que os adultos fazem isso todos os dias. E não estou me referindo ao sexo, embora seja maravilhoso, mas a coisas como essa. Escovar os dentes na mesma pia. Será que os adultos se dão conta de como têm sorte? Ou esquecem que esses pequenos momentos são na verdade pequenos milagres? Não quero me esquecer disso nunca.

Voltamos para a cama e fazemos amor de novo, felizes, sonolentas e com a boca cheirando a menta. O luar invade o quarto. Percorro o traço da tatuagem dela com o dedo indicador.

— Você nunca me contou sobre isso — digo.

— Você nunca me perguntou.

— Amo essa tatuagem.

Eu não quis que o comentário saísse dessa forma, de um jeito tão sentimental. Lica sorri, aliviada.

— Ainda bem.

— Me conta a história.

Ela se ajeita para ficar em uma posição mais confortável, mas me mantém aninhada em seu corpo.

— Quando eu tinha dezesseis anos, a Tina convenceu um tatuador em Pigalle de que eu tinha dezoito. Mas na verdade ela não convenceu o cara. Tina foi tão insistente e persuasiva que o cara cedeu e aceitou fazer a tatuagem. Mas é claro que era ilegal. A Tina consegue persuadir qualquer um a fazer qualquer coisa. Ela é muito carismática. Chega a ser uma injustiça com a gente, meros seres humanos.

— É… Ela é legal.

Lica faz uma pausa; depois, com um sorriso no rosto, comenta:

— Você deve ter se sentido assim quando falei que é mais bonita do que as suas irmãs.

— Acho que sim— digo, rindo.

— Então foi isso. Fomos lá e só eu fiz a tatuagem. Foi um pouco depois do meu aniversário…

The HAPPY Ending • LimanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora