Capítulo 27

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Um mês se passou

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Um mês se passou. Lica nunca mais me ligou. Essa ferida aberta, sangrenta — uma ferida que causei a mim mesma — ainda me dilacera. Tenho que me convencer o tempo todo de que tomei a decisão certa, de que terminar com ela foi o certo a se fazer, porque está claro que Lica finalmente se deu conta da verdade, do que sempre tememos, de que o que existia entre a gente não era amor, e sim conveniência.

Ela seguiu em frente.

Queria poder fazer o mesmo. Estou agarrada ao que resta do meu ser.

À noite, fico deitada na cama, fingindo que o corpo dela está sobre o meu. Fecho os olhos e imagino seus braços me envolvendo, me abraçando forte. Na sala de aula, minha cabeça voa, e me imagino colocando um cadeado na Pont de l’Archevêché, que fica perto da Catedral de Notre-Dame. Os casais escrevem a inicial dos seus nomes em cadeados e os prendem no gradil da ponte como uma declaração de amor. Anseio por esse tipo de relação
inquebrável e permanente.

Depois do ano-novo, meu pai e eu fomos de trem a Dartmouth. Eu não queria ir, porque, mesmo se fosse aceita, o que eu faria lá? Mas meu pai queria que eu conhecesse o lugar. Ele ficou empolgado por eu ter tentado uma universidade que ninguém esperava.

O lugar todo está coberto por uma camada espessa e imaculada de neve. Meu pai agendou uma entrevista para mim, e uma mulher muito animada na recepção me mostrou os panfletos com fotos do campus tanto na primavera quanto no outono, o que o fez parecer ainda mais bonito. Ela ficou impressionada com meu histórico escolar e me assegurou de que muitos dos alunos não sabem o que querem cursar quando chegam à universidade. Saí da entrevista
esperançosa, entusiasmada e me sentindo viva.

Em algum momento no caminho de volta para casa, no trem, voltei a me desanimar. Dartmouth é um futuro que eu poderia ter, mas que perdi. Não é mais meu. Além disso, meu desejo secreto e terrível se concretizou: uma das universidades me rejeitou, e fui eu quem fiz a escolha. Vou ficar em Paris e cursar a Sorbonne. Talvez, algum dia, eu encontre alguém que me faça esquecer Lica. Talvez eu me case com esse alguém. Talvez eu more na França para sempre.

Mas algumas coisas mudaram.

O comentário de Michel sobre “ser um tapa-buraco” voltou para me assombrar. Fui substituída. Durante o tempo que passei na detenção, ele começou a conversar com dois caras do segundo ano, Juca — não consigo escapar dessa família — e o melhor amigo de Juca, Gabriel. Michel tinha ouvido os dois conversarem sobre túneis e descobriu que eram obcecados pelo assunto, assim como ele. No semestre passado, Michel comentou alguma coisa sobre os dois, mas eu estava tão preocupada com meus problemas que não percebi que ele estava se tornando amigo deles. Os três se falaram durante as férias de inverno e agora a amizade entre eles é uma realidade.

Eu, MB, Juca e Gabriel estamos sentados juntos no refeitório.

Michel deve ter se sentido assim quando Lica se juntou a nós. Juca e Gabriel não estão me ignorando nem nada, assim como Lica nunca ignorou Michel, mas os dois não estão em nossa mesa porque gostam de mim, muito embora Juca pareça gostar de mim, o que é bem constrangedor.

The HAPPY Ending • LimanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora