Nós nos beijamos nas escadas, nas ruas da Rive Droite, na ponte do rio Sena, nas ruas da Rive Gauche; nos beijamos até ficarmos com a boca dolorida, dormente. É tudo tão intenso que nem percebo que meus pés estão cheios de bolhas. Só me dou conta a alguns quarteirões da escola; tiro os tênis ao me sentar na escadaria da Saint-Étienne-du-Mont, uma igreja que fica em frente ao Panthéon, e solto um suspiro de alívio.
— Bolhas e um nariz sangrando — diz Lica enquanto se senta ao meu lado. — Isso que eu chamo de um encontro perfeito.
Sorrio e a beijo de novo.
— Esses tênis são assassinos — comenta ela.
Mexo os pés, vermelhos.
— Talvez seja porque são novos — digo.
— Sim, deve ser. — Ela diz e para por um momento pensando. — Sabe, gosto que você seja pequenininha, sabe por quê? Porque eu poderia carregar você no bolso para qualquer lugar.
Eu a empurro de leve com o ombro.
— E, se algum dia a gente viajar juntas, nas férias, você pode se sentar no meu colo para não pagar a passagem.
Empurro Lica com mais força ainda, e ela ri, tentando me puxar para trás; sou mais rápida, e ela perde o equilíbrio e ri ainda mais. Estou rindo muito também.
— Bem-feito! — brinco.
— E agora vou pagar pelos meus pecados.
Lica se levanta e fica de costas para mim.
— Sobe.
— Hã?
— Não dá para você andar assim, e o chão da rua está cheio de cacos de vidro.
— Espera aí. Você vai me carregar nos ombros?
Ela bufa e finge que está irritada.
— Dá para você subir aí logo?
— Só porque sou mais baixa que você não significa que não seja pesada.
— E só porque sou magra não significa que não posso carregar uma baixinha nas costas. Você pesa quanto? Cinquenta e quatro?
— Sim— respondo, surpresa ao ver que ela acertou o número em cheio.
— E você?
— Cinquenta e um. Por aí.
— Fraquinha.
Ela olha para mim de relance e sorri.
— Sobe.
Fico parada, com os tênis na mão.
— Tá legal. Foi você quem pediu.
Lica agacha, e eu subo nas costas dela.
Ela ajeita o corpo, me ergue um pouco acima da cintura e eu abraço os ombros dela. Suas mãos ficam segurando minhas coxas.
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The HAPPY Ending • Limantha
FanfictionRomântica sem salvação, Samantha tem essa paixão na artista emburrada Lica desde seu primeiro ano na School of America, em Paris. E, depois de um encontro por acaso em Manhattan durante as férias de verão, um romance pode estar mais próximo do que S...