Capítulo 11

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[...]

Antes que eu diga qualquer coisa, o celular dela toca. Lica ergue a cabeça para ver quem é e, depois, pragueja baixinho.

— Tenho que atender, senão ela não vai parar de ligar. — Ela atende. — Oi, mãe.

— Sim. Está tudo bem. — Pausa. — Estou fazendo o dever de casa. —
Pausa. — Não. — Pausa. — Não, não estou. — Pausa. — Sim. Eu sei.

Lica revira os olhos enquanto arremessa o caderno na cama, um sinal de que nosso clima já era e de que sou bem-vinda a continuar olhando seus desenhos.

— Não. Eu sei.

A conversa entre as duas continua assim por mais ou menos uns cinco minutos, até que Lica dá um corte na mãe.

— Então, mãe, vai ter uma simulação de incêndio agora. Preciso desligar, tchau.

Ela joga o telefone na mesa e enterra o rosto nas mãos. Dou um tempo para ela se recuperar e pergunto:

— Simulação de incêndio?

Lica ergue a cabeça.

— Geralmente arranjo desculpas melhores.

Ela estica a perna e bate o pé no meu.

— É difícil pensar com você sentada aí.

Bato meu pé no dela de volta.

— Posso estar errada… mas você não se dá muito bem com seus pais, não é?

— Não. Não mesmo.

Com que frequência será que eles conversam? Falo com meus pais mais ou menos uma vez por semana, mas nossas ligações sempre duram pelo menos uma hora.

— É por isso que você veio para cá? Para a França? Confesso que sempre achei meio estranho um senador mandar a filha estudar fora do país.

— Paris não foi exatamente a primeira escolha deles — conta Lica, com uma expressão de estranheza no rosto, como se estivesse surpresa ao ouvir as próprias palavras.

— Como assim?

— Eu… nunca contei isso para ninguém.

Franzo a testa.

Lica fica olhando para baixo, massageando a palma da mão direita com o polegar esquerdo.

— Meus amigos sabem que não me dou muito bem com meus pais, então… eles meio que deduziram que fui mandada para cá porque sou uma menina difícil. Essas coisas. E eu nunca disse que a história não era bem assim. Acho que eu queria que eles acreditassem nisso porque… é menos vergonhoso do que a verdade.

Lica me encara.

— Eu escolhi isso. Ficar trancafiada aqui é culpa minha — confessa ela.

Arregalo os olhos.

— Quando meus pais começaram a procurar colégios particulares em Nova York e em Washington, conversei com eles e os convenci de que me mandar para o exterior seria a melhor coisa para a minha educação. Eu era imatura, idiota, e Paris parecia romântica, com
arte por todos os cantos e toda essa besteira, mas, quando cheguei aqui, percebi que… é só uma cidade, entende? E, sim, é uma cidade bonita, cheia de opções culturais e tudo mais que dizem por aí. Mas, sei lá. Eu sempre sinto como se estivesse matando tempo aqui até minha
vida começar de verdade.

Matando tempo. Não acho que estou incluída nisso, mas, ainda assim, palavras machucam. Tento não levar para o lado pessoal.

— E onde você gostaria de estar agora? Nova York? Washington?

The HAPPY Ending • LimanthaOnde histórias criam vida. Descubra agora