Prólogo do segundo livro: Virgem Deflorada

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BRENA

Um dia fui abandonada da forma mais traumática que existe, deixada como um objeto sem mais valor ou utilidade em uma rua qualquer, ao lado de uma daquelas lixeiras de entulhos, e o que é mais asqueroso por aqueles que deveriam me amar incondicionalmente, me dar afeto, proteção, repreender quando fizesse algo errado, elogiar quando acertasse, e todas as demais coisas que crianças normais recebem de suas famílias.

Em minha vida nada é normal, crescer rodeada de estranhos, cada dia sob cuidados de pessoas diferentes foi o meu verdadeiro martírio por que o amor que eles me davam era limitado, não, eu não estou sendo mal agradecida, longe de mim fazer isto, afinal, tudo que sou, ou tenho, recebi deles, mas veja bem, o amor que recebo nunca durou mais que alguns meses ou às vezes poucos anos. As pessoas nunca permanecem em minha vida. Percebi que não deveria estabelecer laços com ninguém ali bem cedo quando resolvi tentar e acabei decepcionada, posso afirmar que a desilusão é ainda mais esmagadora que a solidão.

Cada um estava de passagem, alguns eu nunca mais voltaria a ver, outros quem sabe veria, mas que certeza posso ter de que me reconheceriam, não e como se eu fosse importante para alguém, por isso, sufoco qualquer carinho que desenvolvo por uma pessoa, não permitiria me machucar novamente, não se enquanto tiver este poder de escolha.

Estou sempre como agora, sozinha. Observava as famílias do parque em frente ao orfanato levarem seus filhos pela mão com sorrisos felizes estampados no rosto, outros tirarem fotografias para guardarem de recordações e um homem acolher seu filho de joelho ralado em seud braços lhes encorajando a continuar tentando guiar suas bicicletas. É duro ter cravado no fundo da alma que pra mim aquilo era uma realidade distante e inatingível.

Cansei de acordar de madrugada e perguntar a Deus enquanto chorava baixinho, por que eu? Por que tinha que me escolher para ser protagonista desse destino tão cruel que é a solidão? Ou por que eu havia sido indesejada por minha própria família?

Hoje é meu aniversário de 18 anos a data que costuma ser um momento comemorativo, pra mim é motivo de amargura, tristeza e solidão ainda mais alarmante, afinal, ninguém ali se importa, além de que, a data me faz lembrar de onde e como fui encontrada.

— Brena a diretora quer falar contigo. — ergo a cabeça lentamente vendo um dos poucos que ainda permanece no orfanato desde que me entendo por gente, mas Nick não é, e nem nunca foi amigável.

Aceno com a cabeça e vejo ele rolar os olhos saindo de perto de mim a passos largos. Levantei sacudindo a areia da saia xadrez que usava e puxado a blusa cinza que já começava a ficar apertada em mim para baixo.

Cruzei os jardins de margaridas sem pressa, não tinha ânimo para me encontrar com a nova diretora mas infelizmente ela sim parecia ter pressa em me ver. A mulher alta e peituda vinha rebolando ao meu encontro.

— Você é a Brena não é querida? — pergunta limpando os seus óculo em um lenço vermelho.

— Sim senhora. — confirmo.

— Sinto muito que não tenha sido adotada. — começa e eu a olho sem saber onde ela quer chegar. — Você acaba de atingir a maior idade e eu sinto informar que precisa nos deixar e seguir sua vida por conta própria. — termina.

Abro a boca em surpresa ao mesmo tempo em que meus olhos esbugalhados acumulam uma quantidade incontrolável de lágrimas. Aquela notícia arrancou o tapete debaixo dos meus pés definitivamente. Pra onde eu iria agora? O que faria? Me vi sem chão e ao perceber que um soluço rasgaria o meu peito levei as mãos a boca e corri para longe daquela estranha.

Não sabia ao certo para onde ir mas logo me vi diante da cama em que dormi por todos esses anos. Joguei-me ali e deixei as lágrimas fluírem, os soluços sairem e meu coração apertar a cada vez que, a idéia de que amanhã estaria ainda mais sozinha me atingia.

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