Capítulo 35

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Mesmo sem nunca ter estado na casa de Carmen,achei com facilidade a cozinha. Parece que eu estava adivinhando que ela estaria lá.
Entrei com passos incertos e caminhei devagar até a ilha onde Carmen parecia preparar algo, o cheiro denunciava ser café. Assim que me viu,ela sorriu fraco me oferecendo sua xícara fumegante,em seguida serviu-se de outra para si. Não recusei a bebida. Eu estava precisando urgentemente de alguma coisa que me aliviasse o sono e o cansaço.
Ficamos em um silêncio constrangedor até que resolvi falar:

-Tenho que te dizer que....Eu fiquei com medo e...E você estava lá, então...Me encorajou a fazer a coisa certa. Deu apoio à Jasmine no momento mais importante de nossas vidas. Aprecio a sua atitude.

Eu não sabia como expressar aquilo em palavras.

-Esse é o seu jeito de me agradecer,Vicente? -Perguntou ela,com um sorriso no canto da boca.

Isso. Aquele era definitivamente o meu jeito de agradecê-la.

-É difícil pra mim,Carmen...-Olhei em seus olhos, bem dentro de suas íris. Eram tão parecidas com as minhas. O mesmo tom castanho,a mesma intensidade do olhar. Me perdi nelas por um segundo.

-Eu sei disso e estou extremamente feliz por você estar aqui falando comigo. Estou feliz por ter tido a oportunidade de acompanhar o nascimento da minha neta. Quando em minha vida imaginei fazer parte de algo assim? Com você ao meu lado? Nunca,Vicente!  Você e a Flor são a realização de um sonho do qual esperei por longos vinte e dois anos. -Sua voz era agora tão diferente. Era mansa e suave,parecia ter baixado totalmente a guarda.- Se você pudesse apenas repensar um pouco sua decisão de me perdoar,me deixar contar tudo o que houve naquela época,poderia ver Vicente, que não sou uma pessoa ruim.

Eu também havia  baixado um pouco  a guarda,o nascimento de Flor me emocionou e simplesmente deixei para pensar em alguns rancores depois, não queria estragar o momento com pensamentos tão ruins. Porém, não dava para trancafiar absolutamente tudo em um baú e fingir que nunca fui magoado,porque eu fui. Ainda doída e ver Carmen era como estar constantemente enfiando o dedo na ferida. Eu não conseguia perdoar e não estava pronto para falar sobre perdão.

-Não quero misturar as coisas. O que aconteceu hoje foi algo lindo e agradeço sua ajuda,mas o passado existe e não podemos negar. Os seus atos impensados geraram essa situação e não eu. Enfim...

Na verdade eu estava perplexo comigo mesmo por estar conseguindo olhar diretamente para ela e até mesmo falando em um tom baixo e calmo. O que até semanas atrás era totalmente fora de cogitação,pois a raiva que sentia me dominava por completo. Contudo,decidi viver o dia do nascimento da minha filha de forma plena e nem Carmen mudaria isso.

-Será que Mariah ainda vai nos fazer esperar mais? Já era pra estar aqui.- Mudei de assunto olhando pela janela de vidro atrás da ilha.

-Acho que mais uns dois minutinhos.-Respondeu encarando sua xícara.

-Ok. Vou voltar lá pra cima. Jasmine deve estar precisando de alguma coisa -Rumei a saída da cozinha.

-Vicente... -Chamou-me Carmen.

-Jasmine está sofrendo. Ela te ama,realmente se apaixonou por você. A culpa foi minha,eu a fiz mentir,eu a fiz pensar que estava fazendo algo para o seu bem. Por favor, a perdoe. Ela não merece pagar por um erro que eu cometi. -Seus olhos suplicaram mais que a boca.

-Ele tinha escolha. Mas preferiu não  me dizer a verdade. Esse assunto está morto para mim. Respeite minhas decisões, Carmen.

Dito isso,sumi escada acima.

Assim que entrei no quarto e perguntei a Jasmine se ela queria tomar uma água ou suco, ou comer um lanche,Carmen entrou no quarto com uma Mariah visivelmente alarmada,junto com uma senhora de meia idade,de cabelos ruivos e curtos.
Assim que as vi levantei e fui ao encontro delas, disposto a questionar a obstétra pelo sumiço na hora do parto.

Coração De Ferro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora