Capítulo 41

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Passei o sábado todo me sentindo um merda,porque eu sabia que nada para mim dava certo, ou funcionava. O destino era um grande filho da puta afim de ironizar com a minha cara. Mas eu também sabia que boa parte do meu sofrimento se dava por minha própria culpa,pois eu era um homem difícil de lidar e tinha extrema dificuldade em recomeçar depois de situações complicadas. Além do mais,o meu orgulho e soberba eram os meus fiéis escudeiros.
Dividi meu tempo entre o escritório da minha casa,o quarto e a piscina. Por incrível que pareça,nadar me relaxava e me mantinha sob controle,evitando assim que eu pirasse  de vez. Claro que não faltou uísque nesse dia,quase uma garrafa para ser exato. Que ótimo,além de tudo eu estava me tornando um alcóolatra,belo jeito de lidar com uma fossa. Mas Foda-se, era o único jeito de aguentar a dor da ausência delas...
No final do dia recebi a ligação de Orlando,pois é,o marido de Carmen era um homem bastante maduro,não somente fisicamente,é claro...Mas no seu modo de pensar e agir. Muito diferente de mim,ele não se guiava por nossos desentendimentos e fazia a coisa certa para ajudar sua mulher. Reconheço que até gosto disso nele,o fato de não se deixar intimidar por mim. Parece que alguém afinal,tem a cabeça no lugar e não age por instinto,como eu. Foi duro admitir,mas eu não podia tapar o sol com a peneira. Orlando era uma boa pessoa,apesar de eu não ir com as fuças dele.
Fui convidado para fazer uma visita à Carmen,no dia seguinte. Parece que minha mãe fazia questão disso e pediu muito que eu aceitasse o convite e não considerasse aquilo como uma tentativa forçada de conviver comigo. Tudo bem,ela tinha recebido alta no dia anterior,ainda no hospital eu disse que iria vê-la quando estivesse em casa. Disse ao Orlando que podiam me esperar no domingo,porque eu estaria lá.
Dormi novamente um sono agitado,Jasmine não saía dos meus sonhos. Eu acordava a todo momento atormentado por saber que nem ela e nem a minha filha estavam comigo. Porra,eu não aguentava mais aquilo,estava feito um zumbi por não dormir direito depois que elas se foram.

Assim que amanheceu o dia,levantei da cama e fui direto para o banho. Vesti uma calça jeans preta e uma blusa de mangas em linho, cinza chumbo,não existiam cores melhores para representar meu estado de espírito. Enquanto olhava no espelho do closet,notei que estava mais magro,um pouco abatido. Também pudera,vários dias sem me alimentar direito,dormindo pouco e bebendo demais. Tenho que parar com isso e me comportar como uma pessoa normal. Falei para mim mesmo encarando o meu reflexo no espelho. Peguei meus óculos escuros e coloquei para disfarçar as olheiras bem aparentes. Um relógio simples,Armend'Slanders Paris,no pulso e saí rumo à casa de minha mãe.

Ao chegar,encontrei a pequena família reunida na sala de estar. Carmen estava em uma cadeira de rodas,com a cabeça ainda enfaixada,mas aparentemente estava muito melhor. Mais corada,sorridente e eu tive a leve impressão de que recuperara até alguns poucos quilinhos,os quais havia perdido com o acidente.
Fui muito bem recebido,entrei um pouco receoso,pois sentia que era um terreno ainda delicado para mim,com uma tensão vinda de todos nós,ao mesmo tempo. Orlando me cumprimentou estendendo sua mão, apertei fortemente. Vivian estava radiante em um vestido florido rodado,os cabelos soltos jogados para frente,sobre cada ombro,estavam brilhosos e com grandes ondas nas pontas. Ela sorriu e veio ao meu encontro. Me deu um forte abraço,deixando-me levemente desconcertado e sem saber ao certo como agir,porém,retribui o abraço e incrivelmente,me senti acolhido por ela.

-Que bom que você veio,Vicente! - Disse no meu ouvido no momento do abraço. Eu apenas sorri em resposta.

Por fim,fui até o meio da sala onde Carmen estava em sua cadeira. Sua boca não pôde esconder seu imenso sorriso que alcançava os olhos,de tão feliz que estava. Abaixei e segurei em suas mãos,ela rapidamente me puxou e quase me enganou em um abraço. Mas não se demorou com o contato.

-Como se sente,Carmen? - Perguntei,assim que ela me liberou de seu aperto.

-Muito bem. Quer dizer,ainda me sinto um pouco debilitada,não tenho forças para andar,mas estou feliz. Só de ter saído daquele hospital,já é motivo para dar uma festa!- Finalizou com a brincadeira. Realmente Carmen estava muito feliz. Quem não estaria,tendo a chance de nascer de novo,depois de um acidente gravíssimo?

Coração De Ferro (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora