27 - Elo

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Deitei-me no chão, juntamente com Marcus.
Ele segura minha mão dizendo que assim criaremos um elo mais forte.
- feche os olhos e foque no quer se tornar, encontre a luz que te guiará a escuridão...apenas foque - ele sussurrava.
Fecho os olhos e procuro aquela brecha que me dizia que eu era capaz de tudo, foco nela, entro nela e então adormeço.
Abro os olhos, e nada mais vejo que escuridão.
Viro-me e encontro Marcus a me encarar, ele abre os lábios mas deles não saem som algum.
Ele só fica lá parado, concentrado-se em algo que eu ainda não entendia.
Então por fim consigo ouvir sua voz - estava te buscando, a nossa conexão... Agora podemos começar - ele diz reflexivo.
Ele observa atentamente o lugar onde estamos.
- não estamos mas no mundo dos humanos, estamos em nosso mundo, a outra dimensão,
O mundo dos sonhos, nosso lugar de origem - ele continua divagando.
Enquanto eu observo o lugar, viro-me em todas as direções e nada mais vejo que escuridão.
- como faremos algo aqui? Não há nada aqui... - digo sem entender.
- você se engana querida, pois não está fazendo direito, continue buscando o foco, pensando no que quer, busque a luz que fará essa escuridão tomar forma... Quando fizer isto estará criando o seu mundo aqui. Ele continua lá, admirando aquele lugar enquanto eu fecho os olhos e me concentro.
Eu quero me tornar uma Ceifadora repetia a mim mesma, quero salvar o meu pai, quero que tudo aqui escondido, apareça.
- APAREÇA, APAREÇA, APAREÇA - começo a gritar.
- isso continue menina - Marcus diz eufórico.
Deixo todos os eventos reprimidos em minha vida emanerem de mim,meu pai sumindo, sua suposta morte, segredos e mais segredos, como uma força a me ajudar.
Podia sentir algo fluir, estava vindo...O poder.
Então... Silêncio.
Tento abri os olhos, mas algo não me permite, tento ouvir mas era como se mãos envolvessem meus ouvidos, tento falar mas era como se tivessem costurado minha boca.
Apenas silêncio reinava ali.
Então uma voz me alcança.
- minha filha... - meu pai falava, mas sua voz estava distante.
Tento alcança-lo.
e era como se fossem três de mim.
A que estava dormindo no galpão, a que estava com o espírito presente na outra dimensão e a que estava presa dentro do espírito, dentro de minha mente, lutando para alcançar a voz de meu pai.
Foco, foco, foco.
- PAI - grito - você está ai?
- sim querida, abra os olhos. - ele diz carinhoso.
Então eu os abro, estou em minha casa, em minha cama e meu pai está diante de mim, não aquele mostro dos sonhos, o meu pai... Henry.
- bom dia querida.
- bom dia... Pai o que estamos fazendo aqui?
Ele me ignora e diz - vamos querida, desça, sua mãe fez bolo - ele diz sorridente.
Algo dentro de mim dizia que hoje era segunda e que o que ele falava fazia total sentido.
Desço as escadas com meu pai a frente, ele avista minha mãe e lhe envolve com um precioso Abraço.
Sentamos a mesa e todos estão sorridentes e felizes como antes de meu pai sumir, curtindo uma manhã de segunda feira, juntos e com um bolo de chocolate a mesa, eu queria que aquilo fosse real e algo dentro de mim dizia que era.
- NÃO - uma voz gritava ao fundo em minha mente. -NÃO DEIXE SE ILUDIR.
A ignoro e deixo aquela sensação de felicidade adentrar em mim.
Segue se um dia normal como antes mas que eu não via a muito tempo.
- boa noite querida - meu pai diz e me dar um beijo de boa noite.
- boa noite pai - digo e sinto uma lágrima escorrer por meu rosto.
Ele parece nem perceber e isso o diferenciava de meu pai de verdade, ele jamais me veria chorar e ignoraria este fato.
- você sabe o que tem de fazer - a voz maliciosa sussurava em minha mente.
- NÃO - grito em minha mente.
- eu jamais poderia fazer isso... - continuo.
- ele não é seu pai de verdade. - a voz fala.
A voz tinha razão, ele não era meu pai, mas era como se fosse, a voz queria que eu o matasse, mas eu não poderia matar o meu pai.
Mas se matar meu pai significasse... Salva-lo?

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