- Como assim? - pergunto a voz.
- é uma simples analogia da natureza, você salva um e mata outro.
Fico pensativa diante de suas palavras, nunca em minha vida me imaginei matando alguém, eu posso ter matado meu pai mas aquilo não foi real... Então como faria isso? E quem eu iria matar? Então pergunto por fim.
- quem é?
- alguem importante para seu antigo eu - ela diz animada.
- quem? - persisto.
- isso você que irá me dizer - a voz diz ainda mais animada.
- como assim?
Eram tantas perguntas e a voz continuava falando enigmática.
- duas pessoas iram surgir na berlinda, suas emoções ainda existentes iram morrer quando você matar então a escolhida... Duas pessoas? Berlinda?
Eram perguntas que iam surgindo e nunca eram respondidas.
OK... Eu digo a mim mesma seja quem fosse eu iria matar, assim me livraria dessa dívida e seria feliz com meus pais.
Mas e se uma dessas pessoas fosse minha mãe... Ou Clara... Ou Ângelo...
Eu seria capaz de tirar suas vidas? Afinal a voz disse se tratar de uma pessoa importante.
- e quando será feita essa escolha? - pergunto hesitante.
- agora.
- como assim? Como agora? Não há ninguém aqui...
- você irá dormir e se encontrará comigo, então eu lhe farei umas perguntas e lhe darei algumas respostas.... Preparada?
- acho que sim...
Ela me abandona aquele momento, me deixando frustada e com ainda mais perguntas, me sentia inconformada pois mesmo depois de tudo, ainda havia perguntas, mas eu teria minhas respostas - HOJE - digo determinada a mim mesma.
Deito-me no chão rochoso e então adormeço.
Então encontro a mesma escuridão de sempre....começo a vaguear pelo vazio.
- alguem ai? - chamo elevando um pouco minha voz.
Passos ecoam ruidosamente, olho em todas as direções e não vejo sombra alguma.
Continuo a andar então algo encosta em meus ombros, viro-me de uma vez e não há nada, algo parecia brincar comigo, me tocando em todas as direções, uma risada ecoa alta em todas as direções.
Uma risada que eu reconhecia... A voz.
- PARE DE BRINCAR COMIGO.
- calma garotinha, não é sempre que há novos ceifadores para me divertir... - sua voz ecoa forte em todas as direções.
- estou cansada de suas brincadeiras e enigmas, afinal quem é você?
- sou muitas coisas...
- você já havia dito isto - digo furiosa.
Risos e mais risos ecoam pelo vazio.
- calma, você terá repostas mas antes vamos as minhas perguntas.
- NÃO, eu exijo minhas respostas.
- você não pode exigir nada de mim seu verme, você é minha, eu exijo tudo o que eu quiser de você, eu te controlo, VOCÊ AINDA NÃO ENTENDEU?
- entendi o que? - falo baixinho
- eu sou seu DEUS - ela deixa suas palavras ecoarem.
Então rio histericamente.
- do que vós ristes? - ela soa frustrada, parecendo não esperar essa reação de mim.
- eu me tornei poderosa, não é uma voz maldita que irá me controlar e eu não materei ninguém. - digo decidida.
- o que você não entendeu garota é o que eu sou, se eu quiser que você mate alguém,você irá matar.
- o que quer dizer com isto?
- que a partir do momento que você matou seu pai e selou o ritual, você vendeu sua alma... A mim, eu sou a entidade que controla os ceifadores, suas mentes e corações pertencem a mim e em troca lhes dou poder, mas o poder também é meu, vocês nada mais são que vermes que tomaram decisões sem pensar nas consequências... Você deveria ter ouvido Ângelo garotinha... - ela diz sarcástica.
Eu não sabia o que pensar, nem o que falar, então derrepente algo surgi diante de meus olhos.
- essa é a minha forma física - ela anuncia.
Então eu descobri ser uma mulher, aquela voz maldita em minha mente, e não só uma mulher, uma linda mulher, cabelos lisos e compridos iam até sua cintura, olhos claros e um corpo perfeito.
- isso deveria me intimidar? - pergunto.
Pois olho para mim, cabelos castanhos e olhos igualmente castanhos e um corpo bem normal.
- talvez - ela diz não mais em minha mente e com uma voz mais feminina.
Nos encaramos por um tempo até que ela diz por fim
- quem você escolhe?
ela aponta para algo atras de nós. Me viro e lá se encontram minha mãe e Clara como se fossem miragens.
- elas não estão realmente aqui não é?
- não, são apenas imagens delas, pois como eu lhe disse, eu que controlo as coisas, não você - ela diz maléfica.
Engulo em seco e olho para Clara e minha mãe.
- não escolho ninguém - digo simplesmente.
Ela rir - realmente irá tentar resistir?
Aceno em concordância
- Eu temia por isto...Já que é assim...
Ela faz um movimento de mão e grades surgem sob mim.
- o que é isso? - digo em um tom desesperado.
- uma grade como bem vê, e elas servem para prender, seu espírito está preso e enquanto você não escolher alguem, você permanecerá presa aqui e consequentemente seu corpo irá morrer sem alimento. - ela diz metódica.
Som algum sai de minha boca, ela passeia pela escuridão, faz mais movimentos de mão e imagens de minha infância surgem diante de meus olhos como em um cinema.
E vejo minha mãe... e vejo Clara.
A voz some, sua presença física e mental me deixam em um tortura continua na qual eu teria que fazer uma terrível decisão para me libertar.***
Eu não sei se passaram horas ou dias, mas naquela grade o tempo parecia não ter sentido, eu queria sair dali, precisava sair... As imagens não paravam de passar e então surgiram vídeos de quando conheci Clara, de mamãe, eu e papai juntos... Era torturante.
Sentia um vazio em meu peito, pois apesar de ser somente meu espírito, sentia fome e sede, talvez fosse um dos comandos da voz, para que eu sentisse o que acontecia com meu eu físico.
Eu não merecia aquilo depois de tudo que passei... Então comecei a cogitar a ideia da voz.
Não poderia matar minha mãe sem ela não seriamos uma familia inteira e feliz.
Mas também não podia matar Clara, ela era minha melhor amiga e esteve sempre presente comigo nos piores momentos.
O que faria? Não havia uma melhor opção...***
Meses? Pareciam meses para mim, mas não poderia ser, meu corpo já teria morrido.
Chamo a voz, invoco-a em pensamentos já sabendo a resposta para sua pergunta, pois eu não merecia aquilo...sofrer.
Não depois de tudo, minha antiga eu morreu e essa eu tomaria a decisão certa, mesmo que fosse difícil.
Sua presença marcante surge com um sorriso malicioso nos lábios, ela agarra as grades e me chama para perto.
- eu já sei a sua escolha mas quero ouvir de seus lábios, diga-me, quem escolheu?
Levanto-me e me aproximo devagar, agarro a grade e sussurro em seu ouvido a minha terrível mas inevitável escolha.
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غموض / إثارةAurora, tem agora dezessete anos, tudo está normal como a vida de qualquer adolescente, mas as coisas nem sempre foram assim, a cinco anos algo trágico mudou sua infância, marcou-a de modo que ela ainda nem se quer entende. Tudo começa a mudar quan...