38 - O Telefonema

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Abro os olhos e me encontro novamente no necrotério segurando a mão fria de Ângelo, a minha frente um Marcus terrivelmente atordoado me encarar em horror.
- o q-que você fez? - ele diz terrivelmente assustado.
- o que tinha que fazer - respondo.
- NÃO, NÃO, NÃO - ele começa a gritar.
Ele estava em choque percebo.
- como pôde fazer isso? Ela era nossa Deusa, ela era a revolução...
Deixo o de joelhos aos prantos e vou a procura de uma sala não selada,precisava pedir perdão a algumas pessoas.
No caminho encontro outras pessoas no mesmo estado de Marcus, uma até chorava em desespero, aos seus lados vários coletores sem saber o porque de seus prantos, logo iriam descobrir e eles prestariam contas por suas escolhas, eu também provavelmente,mas no momento haviam outras coisas a resolver,precisava sair antes que o circo pegasse fogo.
***
Dentro de uma sala não selada, transporto-me a casa de meus pais...minha casa.
Novamente em meu quarto,escuto murmúrios vindo do andar de baixo, desço as escadas e vejo minha mãe atenta ao lado de meu pai que estava em um telefonema.
- como assim a entidade se foi? Como?...
- não estou dizendo que não é uma boa notícia, só estou dizendo que não tem explicação...
- Ela não pode ter sumido do nada...
- Em um segundo estou aí. - ele diz e encerra a chamada.
E quando ele olha para o lado e me ver na escada, salta do sofá e vem em minha direção.
- filha... O que você...
Ele não completa a frase e vejo em seu olhar sua mente trabalhando em montar as peças do quebra cabeça.
- você voltou...não é? - ele diz sorridente.
Não respondo, apenas me jogo em seus braços e o abraço forte.
- eu consegui pai...
- eu sabia que você ia conseguir - ele diz choroso.
- mas Ângelo... Se foi.
- tudo tem um propósito minha menina.
Então desabo a chorar.
Minha mãe vem em minha direção e ficamos nós três em um abraço.
- obrigada mãe... Por acreditar em mim.
- nunca duvidei filha.
E então ficamos naquela bolha de carinho como em muito tempo não acontecia, lhes contei cada detalhe do que aconteceu e eles escutaram atentamente.
Logo depois Clara chegou pois minha mãe havia lhe contado de minha chegada, e meu Deus como eu senti sua falta, quando ela entra corremos uma na direção da outra como naqueles filmes de romance clichê.
- você não sabe pelo que eu passei - digo.
- a muita coisa para ser colocado em dia, mas no momento eu só quero te abraçar.
ela chora em meus cabelos e diz:
- você não sabe quantas vezes eu achei que eu ia perder você... minha melhor amiga...e sabe o que foi o pior de tudo? Não poder fazer nada, não poder te ajudar.
Nos soltamos e eu digo olhando-a com os olhos cheios de lágrimas - mas no final deu tudo certo...ou pelo menos quase...o Ângelo se foi...
Então caio novamente no choro e ela me acalenta.
***
Mas tarde meu pai diz que irá as instalações e eu digo que irei acompanha-lo, me despesso de minha mãe e Clara com mais e mais abraços.
Então em um piscar de olhos estamos novamente nas instalações, tudo está um caos, pessoas gritam para todos os lados, guardas escoltam pessoas até suas devidas celas, um sinal de alerta ecoa de algum lugar e em meio aquilo tudo procuramos por Sampaio (que era como meu pai a chamava mas para mim seria eternamente a temida diretora Sampaio.)
Enquanto íamos a sua procura vimos um montim com cerca de seis pessoas, haviam quatro ao redor e duas no meio de joelhos, que eu desconfiava serem ex-ceifadores.
Eles se encolhiam no chão com as mãos na cabeça e gritavam em desespero.
- PORQUE ELA NOS DEIXOU? PORQUEEE?
Eles estavam aterrorizados, mas aquilo me parecia uma reação exagerada,será que eles não poderiam ter vidas normais? Será que depois de tanto tempo com a entidade em suas cabeças a falta dela mexeria com seus juízos?
Era uma suspeita e talvez o castigo apropriado para eles...a perda de vossas sanidades.
Depois de abrir muitas portas encontramos Sampaio em um telefonema.
- pois tratem de encontra-lo...
- Eu não quero saber...
- Suspeito que ele seja o grande responsável por tudo isso.
Desliga e nos ver a lhe encarar.
- Marcus fugiu - ela anuncia.
- nos preocupamos com isso depois, o importante é, finalmente podemos recomeçar, o mal para qual nos lutamos contra por tanto tempo foi derrotado.
- oh sim meu amigo, mas tudo está um caos, eu tenho que resolver isto.
- eu vou lhe ajudar.
E assim como meu pai, ajudei no que pude, enquanto Sampaio e meu pai tomavam decisões, eu digitalizava e as enviava.
Pois não havia apenas essa instalação, haviam várias em diversas partes do mundo e havia a central, a principal instalação também chamada de sede e todas as decisões deviam ser enviadas para lá.
Passamos o dia ajeitando tudo aquilo e foi bom, pois pude passar um tempo com meu pai.
Já de noite, tudo estava mais calmo, todos os ex-ceifadores já haviam sido reconhecidos e presos e agora se encontravam em observação para a punição futura, os mais loucos haviam sido sedados e por isso pararam de gritar, mas mesmo os mais calmos apresentavam tristeza em seu olhar.
Tudo estava indo bem mas então o telefone toca.
Diretora Sampaio se dirige a ele e o atende.
- sim? - ela diz.
Silêncio.
E então sua expressão muda demonstrando horror, algo que não se via na diretora Sampaio.
- você não precisa fazer isso...
- você sabe o que vai acontecer se for por este caminho... Não faça isso - ela repete.
Então ela desliga.
- quem era? - meu pai diz preocupado.
- Marcus... - ela diz.
- e o que ele queria? - pergunto.
Ela não responde.
- o que aconteceu? - insisto pois o olhar em seu rosto me assustava.
- preciso que vocês ajam com sabedoria.
- o que aconteceu SAMPAIO? - meu pai se exalta um pouco.
- Marcus está com Sofia e Clara... E ele quer você lá Aurora... Para vê- las morrerem.

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