35 - Revendo Um Velho Amigo

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Henry

Perdido em pensamentos, nem percebo quando Marcus adentra no necrotério.
- há um jeito de salva-lo... Você sabe - ele diz contra a parede.
- há sempre um jeito mas não quer dizer que devemos segui-lo quando ele não se faz apropriado. - digo de costas para ele.
- e como sabe que ele não consideraria apropriado?
- pois ele era meu amigo e eu o conhecia, ele não se tornaria aquilo nem que isso custasse sua vida - digo encarando o corpo de Ângelo.
- e porque não pergunta a ele? Só assim terá certeza... - ao dizer isto saí da sala e me deixa perdido em pensamentos.
Seria correto tentar comunicar-me com ele? A quem diga que era possível, quando o corpo ainda se encontrava intacto a alma ainda vagava no mundo dos sonhos.
Jamais seguiria o conselho de Marcus, a entidade poderia trazê- lo de volta? Talvez... Mas ele não voltaria ele mesmo, sua alma não estaria intacta.
Mas decido fazer contato com ele uma última vez... Ou ao menos tentaria, gostaria de lhe pedir perdão.
Com sua gaveta estendida, pego uma cadeira e me sento ao seu lado, segurando sua mão fria me concentro e logo adormeço.

Depois de muito tempo me encontro na outra dimensão, algo que para muitos de nós é considerado casa, para mim foi a prisão, o palco de minha desgraça, mas deixo isso de lado não podia castigar-me com meus traumas agora, concentro-me em Ângelo.
Depois de vários minutos perdidos na escuridão já esteva a pensar que o contato após a morte não passava de baboseira.

Mas quando vejo um borrão ao longe minha esperanças renascem, ele movia os lábios mas nenhum som saia.
Continuo a me concentrar,
O borrão vai tomando vida, do cinza ao colorido, do morto ao vivo, pois ao menos ali, ele estava vivo.
- H-Henry...- sua voz saí fantasmagórica, era como se ele ainda estivesse muito longe.
- Ângelo? Você pode me ouvir?
Ele acena em concordância.
Busco o foco, precisava trazê-lo para mais perto, fecho os olhos e fasso a escuridão tomar forma em minha mente, emano o poder concedido a nós coletores tomar vida.
E quando abro os olhos não vejo escuridão, e sim minha casa, minha sala, e no sofá se encontrava um Ângelo com os braços cruzados parecendo zangado.
- você sabe que isto é proibido!!
Era verdade... Tentar contatar os que já foram não era considerado saudável de acordo com o regime dos coletores.
- nos constantemente burlamos as regras, precisava fazer isso para rever um amigo e pedir o seu perdão.
- não há nada a que perdoar - ele diz calmamente.
- é claro que há, se eu não tivesse lhe feito fazer aquela promessa, você ainda estaria... Vivo.
- há coisas na vida que simplesmente tem de acontecer, eu tinha de conhece-la, eu tinha que ama-la, isso pode ter custado minha vida mas eu não me arrependo de nada do mesmo jeito que você não deve se arrepender de ter me feito fazer a promessa, afinal eu aceitei, temos de conviver com nossas escolhas. - ele continuava calmo.
Ele estava diferente...
- a morte lhe fez um filosofo - comento.
Ele sorrir - talvez... Mas eu ainda queria falar com ela uma última vez.
- e se isso fosse possível? - Marcus surge com suas promessas tentadoras mas de alto preço.
- como assim? - vejo Ângelo dizer.
- se você se tornar um ceifador e se juntar a nós, a entidade poderá lhe salvar.
- mas não foi ela que tirou minha vida? - Ângelo diz.
- sim, mas ela pode voltar atrás se você concorda se doar a ela.
- vender minha alma, você quer dizer? - ele diz um tanto irônico.
- pense assim: você dar algo que é a sua alma e ela lhe dar poder.
Ângelo rir abertamente e diz derrepente - eu concordo em cogitar sua idéia se me trouxer Aurora aqui.
- tudo bem - Marcus diz simplesmente.
- mas seja rápido, sua transição logo terminará e não haverá mas jeito algum - e ao dizer isso novamente se retira.
- o que? - exclamo assustado.
- confie em mim - Ângelo diz.
- agora vá meu amigo, Aurora logo estará aqui e se tudo ocorrer como eu desejo nós venceremos esta guerra.
- o que quer dizer com isto?
Mas logo o sonho se esvai,me deixando sem respostas e ainda mais confuso, o que Ângelo planejava?
Tudo vira escuridão e eu acordo ainda segurando a mão fria de Ângelo sem entender nada.

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