40 - Apenas Uma Estranha

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- não me deixe por favor... - suplico para o corpo inerte de Clara.
Sacudo seus ombros.
Grito seu nome.
Mas nada.
Ela não volta... Porque não volta? Porque?
- Clara...
- Clara, você tem muito o que viver, aguenta mais um pouco eu já liguei pra emergência.
Ela não reage.
E eu me negava a acreditar.
Me negava a acreditar que ela se foi.
- Nãooo - choramingo baixinho abraçando seu corpo.
Porque todos se vão?

E eu fico ali naquela sala mórbida com meus pais inconscientes, Marcus morto e Clara quietinha enquanto eu a abraço.
Ela não se foi, digo a mim mesma... Ela está dormindo... Isso... só dormindo.
A emergência chega e eles querem tirar Clara de mim, a abraço mais forte.
- moça, você tem que nos deixar fazer nosso trabalho.
Ignoro-o.
Outra pessoa vem.
- ela se foi, deixe- nos leva-la para que façamos os procedimentos.
- ninguém vai levar ela de mim - digo entre lágrimas.
- deixe ela ir, ela se foi mas você está aqui - dizia uma mulher tentando me consolar.
Levanto a cabeça pela primeira vez e olho-a, ela era bem bonita e estava de jaleco.
- ela é minha melhor amiga... - falo entre soluços.
- eu também perdi uma pessoa especial em minha vida. - ela comenta.
- como faz pra essa dor passar?
- uma coisa é, você nunca vai esquece-la, mas o importante é que toda vez que se lembrar dela não chore, sorria, sorria pelas lembranças boas que ela deixou, sorria pois ela foi para um lugar melhor, sorria pois ela foi uma pessoa especial em sua vida, nunca esquecerá dela e nem deve esquecer, apenas não sofra... E quando ver as coisas de outro ângulo a dor vai passar.
Abaixo a cabeça e olho para Clara...
- quem é você? - pergunto.
- apenas uma estranha tentando ajudar - ela dar um meio sorriso e pergunta se podem leva-la, hesito por um momento mas aceno em concordância, dois homens a levantam do sofá tirando- a de meus braços...
***
Já no hospital, estava com meus pais esperando-os acordar.
Minha mãe despertar primeiro, atordoada com toda aquela situação e com as lágrimas que caiam de meus olhos, ela pergunta:
- o que aconteceu minha filha?
Então lhe conto cada detalhe e ela chora comigo quando lhe falo de Clara.
- oh minha menina... Eu sinto tanto.
Deito com ela na maca de hospital e ela me abraça, estava tão cansada que em meio a uma das músicas cantadas por minha mãe logo adormeço.
Acordo pouco tempo depois com um médico a examinar minha mãe.
Levanto.
- desculpe - digo ao medico.
- tudo bem, você passou por muita coisa.
Enquanto ele examina minha mãe, olho para o outro lado e não encontro meu pai.
- onde tá o pai? - pergunto meio desesperada.
- calma querida... Assim que ele acordou recebeu um telefonema urgente das instalações teve que ir, ele te viu dormindo e te deixou descansar... Ele também sente muito.
Aceno em concordância... Queria meu pai aqui... O que seria tão urgente para ele ter que ir?
Então lembro que a medica não estava conosco.
- onde está aquela medica bonita que estava com a ambulância? - pergunto pois queria agradece-la.
- não havia medica nenhuma na ambulância - o médico diz confuso.
- ah... ela não era medica, então enfermeira?
- não havia mulher nenhuma na ambulância senhorita.
Olho-o confusa.
Será que estava ficando louca como os outros ceifadores?
Resolvo não mais perguntar da mulher misteriosa, vai que o médico me acha louca e resolve me internar...
***
Minha mãe recebera alta, então nos dirigimos para casa, eu já havia dado meu depoimento do aconteceu aquela noite, os pais de Clara já haviam sido informados e eu chorara mais junto a eles.
Claro que a versão dos fatos dado a polícia foi diferente.
- O que aconteceu? Do começo. - o policial falará.
- Marcus era um conhecido da família, parecia normal e até inteligente mas então mudou seu comportamento, ficou louco e disse que mataria a todos nós, deixou meus pais inconscientes e tentou primeiro me matar, mas Clara me salvou lhe dando um tiro nas costas, achávamos que aquilo teria resolvido e tiramos nossa atenção dele e então ele voltou... E matou ela... Tirou ela de mim... De nós... E então morreu.

A versão dada a eles foi a mesma dada a seus pais, e para eles ela será eternamente lembrada como uma heróina e isso é exatamente o que ela é.

Henry

queria mais do que tudo ter ficado com minha família naquele momento difícil, mas aquele telefonema que recebi não me permitiu.
- um garoto saiu do necrotério... Um garoto morto... Saiu andando do necrotério... E-eu ainda não entendo. - um colega meu falará do outro lado.
- como é este garoto? - eu perguntará.
- ele tem cabelos e olhos negros... Mas o importante é que ele tava morto!
Desligo na cara de meu colega e dirijo-me rapidamente as instalações.

Chegando lá, vejo ninguém menos que Ângelo rodeado de coletores, ele tentava bravamente escapar das perguntas, mas era como se ele fosse a atração principal de um show.
Quando ele me avista além da multidão, corre em minha direção.
- C-como? - consigo dizer.
Ele sorrir.
- minha missão de anjo da guarda não terminou - ele comenta.
- eu não entendo... Como pode está aqui?
Vamos até um local mas pacífico, então ele me explica.
- a entidade que me trouxe de volta... Ela dissera que assim como a outra entidade poderia me trazer a vida, ela também poderia mas com uma condição.
- que condição? - pergunto.
- que eu ajudasse Aurora com todas as minha forças, que a protegesse, fosse seu anjo da guarda, que a amasse e cuidasse dela.
Sorrio.
- é uma bela condição - comento. - a melhor - ele diz sorridente.
- agora me ajude a sair daqui... Eu já tentei mas eles não permitem.
- porque não?
- aparentemente eu sou um risco... Alguma espécie de morto ambulante.
Rimos.
- vou lhe ajudar, vamos a Sampaio.
- então ela que está no comando?
- sim é a mais capaz e integra para este cargo.
Ele acena em concordância.
- que as coisas sejam melhores...
- sim... Elas serão!

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