28 - Poder

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Eu não posso fazer isso...
Eu consigo fazer isso...
Eram duas possibilidades, duas alternativas.
Meu pai caminha em direção a saída, apaga a luz e fecha a porta. Estou novamente sozinha ou melhor com a voz em meu encalço.
- quem é você? - pergunto por fim.
- eu sou muitas coisas mas no momento apenas seu guia... - a voz dizia sombria.
Eu não sabia se era homem ou mulher... Era como se não fosse uma coisa nem outra... Era como se fosse uma entidade sem rosto, sem gênero...
- meu guia? Pensei que meu guia fosse Marcus...
- oh não - a voz rir em minha mente - ele nada mais é do que alguem que ira concluir sua jornada, se bem... Que como as coisas andam, você irá morrer aqui. - ela diz maliciosa.
- porque diz isso?
- pois bem, vamos ser diretos, o único jeito de você sair daqui é se tirar a vida de seu precioso pai - ela rir histericamente.
- afinal... Se você quer se tornar uma Ceifadora para salva-lo, primeiro vai ter de tirar a vida dele.
- como pode saber disto? - digo
alarmada.
- oh... eu simplesmente sei de tudo - ela diz entediada.
Respiro pesadamente. - como farei isto?
- há várias coisas em uma casa que podem ser usadas para tirar uma vida, use sua criatividade.

Então sinto que a voz havia me deixado, ao menos por enquanto. Levanto de minha cama, decidida, afinal eu não estaria fazendo nada errado, aquele homem não era meu pai, apenas se parecia com ele... Ele nem ao menos era real, então eu não estaria assassinando ninguém.
Isso... Isso mesmo, eu não tinha de meu preocupar com nada, minha integridade continuaria intacta.
Desço as escadas silenciosamente.
Já na cozinha, pego uma faca afiada e amolada que há anos estava em nossa casa.
Então... Vou ao quarto de meus pais.
A porta está aberta, a luz desligada.
Inspiro.
expiro.
Reúno forças e adentro em seu quarto.
Mãos seguram meus pulsos e me levam a claridade da cozinha.
Quando por fim consigo ver.
Perdo novamente a voz.
ele me encara e quando por fim consigo falar... Grito
- COMO DIABOS VOCÊ ESTÁ AQUI? - pergunto a Ângelo.
- sou seu anjo da guarda, tenho que estar presente em momentos que você irá cometer burrices - ele diz sério.
Ignoro seus insultos e pergunto novamente - como me achou?
- ainda tenho aliados dentro dos coletores, com um pouco de investigação descobri que estava com Marcus. Desde então Permaneço na outra dimensão os procurando, foi difícil, demorado,mas valeu a pena, por fim a encontrei.
- eu falei para mim esquecer...
- você é realmente ingênua, se achou que aquela carta iria me convencer de algo - ele diz ainda sério.
- agora vamos, sua amiga, sua mãe....e eu, lhe esperam do outro lado.
Novamente o ignoro e digo
- me solta - pois ele ainda segurava meus pulsos.
- NÃO - ele diz elevando a voz.
Aquele era o meu sonho e eu tinha poder sobre ele, Marcus, Ângelo, nada mais eram que invasores.
Fecho os olhos e busco o poder dentro de mim e a deixo emanar para o exterior.
Arqueando meu corpo para frente, uma força invisível empurra Ângelo para trás arremessando-o na parede.
Ele geme de dor, queria ajuda-lo mas não poderia, tinha uma missão.
O barulho pareceu despertar meus falsos pais,
Que chegam a cozinha e perguntam o que está acontecendo.
Não havia tempo para explicações, não podia deixar Ângelo me impedir, peguei a faca do bolso de minha calça e arremessei-me em direção a Henry... Meu pai.
A faca é cravada em seu peito,
E da falsa mãe não há uma reação, ela apenas transforma se em um borrão e some.
Meu pai me encara, o sofrimento estampado em seu olhar.
Atrás de mim escuto gritos... Gritos de Ângelo, sinto ele se aproximar, talvez para me deter de algo inevitável, mas uma força invisível o impede de me tocar, eu nem havia tentado afasta-lo, apenas pensei, já me sentia mais forte.
Poderosa.
Não me importava mais em ter matado o falso pai.
Eu iria salvar o real e nada disso terá sido em vão.
Teria meu pai.
Minha família.
E poder
Poder, poder, poder.
Eu queria mais, quando Marcus concluísse o ritual eu seria ainda mais poderosa, ninguém jamais tiraria alguem que eu amasse para longe de mim.
Nunca mais.
Tiro a faca encravada de seu peito, o sangue jorra para todos os lados,sujando minhas roupas e meu rosto, seu corpo cai no chão inerte.
Então some.
Viro-me na direção de Ângelo.
Com o rosto sanguinolento e a faca na mão, sabia que parecia uma assassina, mas também não me importava, estranho, pois ver o sofrimento no rosto de Ângelo... Me divertia.
Rio histericamente.
Então o sonho se esvai, a casa assim como Ângelo somem.
Então novamente era só eu e Marcus.
- conclua o ritual - digo autoritária.
- OH SIM, SIM, SIM, SINTO O PODER EMANANDO DE VOCÊ QUERIDA, você será poderosa, ah se todos pensassem como nós.
Olho-o diferente, ele parecia mais interessante agora, seu corpo poderia ser mais velho que o meu, mas dividíamos o mesmo desejo de evoluir.
Olho-o com luxúria.
E sinto seu olhar em mim também, mas afinal esse não era o momento para isto.
- conclua - digo novamente.
***
Fico de joelhos e de cabeça baixa, seguindo suas instruções.
Ele cita palavras irreconhecíveis, então um apanhador de sonhos surge a baixo de mim, mas este não emanava paz e sim... Ruína.
Enquanto Marcus continua a entoar cânticos.
O apanhador brilhava em dourado e branco.
Até que por fim ficou negro como a escuridão daquele lugar.
Ele estende algo em minha direção, minha corrente.
- quebre-a
Nem ao menos tento fazer o contrário, quebro à em vários pedaços que se juntam ao negro chão e desaparecem.
- assim como as peças de seu antigo amuleto sumiram, o seu antigo eu também há de sumir, pois aqui é o lugar da evolução.

Sinto algo mudar dentro de mim, minha costas arqueiam- se involuntariamente para frente.
Grito de dor enquanto Marcus continua a entoar os cânticos.
- NÃO - a antiga eu grita.
Ela morreu.
E eu nasci.

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