33 - Qual Voz Seguir?

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Dentro de minha casa, em meu quarto, observo a espreita, escuto sons vindo lá debaixo,quem deveria ser?
Eu teria de ser cuidadosa se não quisesse matar mais de uma pessoa.
Então reconheço algumas vozes... Minha mãe, Ângelo e por fim meu pai, que deveria ter me seguido, aguço mais meus ouvidos e entendo o que Henry fala - vocês viram Aurora?
- o que? - exclama Ângelo.
Então ele narra o ocorrido e no final de sua história, escuto minha mãe a chorar - ela não seria capaz disso... Não é?... Me matar? - ela diz chorosa.
Escuto apenas sussurros, meu pai parecia querer acalma-la.
Qual seria o momento certo?
Eu poderia dar um jeito de deixar todos inconscientes...ou então apenas agir rapidamente, mas eu não podia fazer isso, eu faria isso com cuidado, ela ao menos teria uma morte digna.
Desço as escadas e digo para todos - não precisam ter medo de mim.
Todos me encaram, minha mãe, pai, Ângelo e alguns desconhecidos que eu desconfiava ser coletores.
- o que você faz aqui? - Ângelo pergunta, um misto de desprezo e saudade se encontravam em seu olhar.
Encaro-o, decorando seus traços... - com toda essa segurança, vocês devem saber - digo sarcástica.
- você mudou... - escuto Ângelo dizer baixinho.
- sim - afirmo e viro-me para meus pais.
- não se preocupe mãe, não irei mata-la, sem você não seremos uma família completa e feliz - digo fria.
Ela me encara em horror, sai dos braços de meu pai, se aproxima de mim e sussura em meu ouvido - eu sei que você ainda está ai, eu sei que você irá vencê-la como na lenda. - ela diz esperançosa.
Olho-a, não sabia de que lenda ela falava e nem tinha tempo para isto.
Então viro-me novamente ao meu alvo... Pois era Ângelo que iria matar.
De costas para meus pais digo - até nosso final feliz.
Então envolvo o corpo de Ângelo em um abraço e pisque.
Estamos no lugar em que só ele e eu conhecíamos... Meu refúgio.
Ele se desprende de meus braços bruscamente e se afasta de mim.
- você quer me matar?
- não - digo.
Vejo esperança em seu olhar então corto-a pela raiz.
- mas preciso.
- não, você não precisa, você pode vencê-la Aurora... Eu sei - ele diz calmamente.
- não é tão simples assim... Ela me deu duas opções e eu não escolhi nenhuma delas, e então eu escolhi você e ela deixou... - eu divagava lembrando-me do ocorrido.
Quando ela me deu aquele tempo para "pensar" eu cheguei a conclusão que não poderia estragar meu final feliz matando minha mãe nem mesmo matando minha melhor amiga.
Então ainda tinha que ser alguém importante e Ângelo era importante... Ângelo era meu primeiro amor, e eu iria mata-lo, quando contei a minha decisão, ela concordou dizendo-me que seria delicioso presencionar sua morte.
- eu não tenho escolha - digo por fim.
Lágrimas queriam brotar de meus olhos, mas algo não permitia, sussurrando persistente em meu ouvido - seja fria, cruel, má.
E então eu a escutei.
- eu nunca amei você afinal, vai ser divertido tirar sua vida - digo fria mas algo corroeu me por dentro quando vi aquele olhar em seu rosto... Dor.
- ENTÃO ME MATA AURORA - ele grita, abrindo os braços.
Aproximo-me devagar, então ele me puxa e me beija em desespero, e eu me perdo em meio a línguas e dentes.
Sinto lágrimas escorrerem por meu rosto, mas eram suas lágrimas não as minhas.
Quando ele me solta eu caio de joelhos no chão, pois não tinha forças para me manter de pé, os anjos e demônios lutavam em minha mente.
- NÃO FAÇA ISSO - a antiga eu gritava.
- TERMINE SUA MISSÃO - a voz exigia.
Dor, muita dor, aquilo me corroia, encolho-me no chão, as vozes não paravam de gritar, então por fim as lágrimas descem, aliviando um pouco da dor.
- eu amo você - Ângelo falava ao meu lado, também ajoelhado.
Ele levanta minha cabeça e olhando em meus olhos diz - Lute e volte para nós... Volte para mim.
- eu não consigo - uma voz saí de meus lábios, era como se fosse duas de mim, a antiga eu e a que era controlada pela voz.
- consegue, se alguém já conseguiu, você sim que irá conseguir.
- como assim? - a voz saiu sozinha de meus lábios novamente, enquanto a da linda mulher torturava- me por dentro, por não seguir suas ordens.
Então ele me explica uma antiga lenda, de um homem que venceu uma entidade, e ele parecia realmente ter fé que eu conseguiria fazer o mesmo.
Olho- o com pena, quando a outra voz assume o comando.
- está muito enganado se acha que eu vou cair nessa sua historinha boba - digo com um sorriso malicioso.
Ele me olha espantado mas não se afasta de mim.
Segura minhas mãos, mas eu as repudio para trás e levanto-me, a fraqueza já havia ido embora, a entidade havia vencido.
Ele tenta se aproximar outra vez, e eu deixo, coloco um olhar doce em meus rosto e digo - está tudo uma grande confusão, me ajuda Ângelo.
Então ele me envolve em seus braços e tirando devagar a faca de meu bolso, posiciono-a e o apunha-lo pelas costas.
- Aurora... - ele diz com o sangue escorrendo por sua boca.
Afasto-me, e observo-o lutar por sua vida, ele tentava andar, respirar, mas era difícil quando o seu próprio sangue o fazia se engasgar.
Observo a vida esvair de seu corpo, cada respiração ofegante, cada olhar decepcionado, assustado, até que ele cai de joelhos no chão, olha-me uma última vez e consegue dizer - E-eu a-ainda acredito...
E então ele cai no chão inerte e sem vida.

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