29 - Uma Nova Missão

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Atordoada, abro os olhos e vejo está novamente no galpão abandonado, com Marcus ao meu lado, parecia que tudo aquilo havia sido um sonho, o que na verdade foi, de um jeito bem distorcido, mas a diferença entre o meu sonho e os das demais pessoas, é que o meu foi real.
Eu finalmente havia me tornado uma ceifadora, eu finalmente salvaria o meu pai...
E Ângelo?  Porque apareceu em meu teste?...Eu não sei, mas foi inútil de qualquer maneira, ele poderia me odiar pelo o que aconteceu, mas não me importava com isso, tinha outras coisas a pensar, tinha outras pessoas para pensar... Marcus.
Me observava admirado, diferente de antes quando nada mais era que uma adolescente coletora.
Agora eu era uma ceifadora, estava do seu lado e queríamos poder.
Levanto-me e ele se põe ao meu lado, ainda segurando minhas mãos, ele as leva aos lábios e lhes dar um beijo demorado.
Observo-o, rondando-o como uma presa, o provoco mas novamente nada fasso, não havia tempo para isto, então lhe dando uma última olhada, desapareço sem esforço algum, sem nenhum adeus ou obrigada.
Chego ao meu antigo refúgio, onde acreditei poderia tentar acessar meu pai em paz, sem interferências.
Sento-me no chão e observo o pequeno lago, o barulho constante da agua batendo contra as rochas era relaxante, me deito,e concentrado-me no que queria, adormeço.
Escuridão.
Luz.
Estou novamente naquela sala, esperando a maçaneta girar, eu não sabia bem o que fazer quando decidir vir tentar salva-lo, achei que o simples fato de ser uma ceifadora o faria sair daqui, mas agora não tinha certeza.
Ele entra, silenciosamente como sempre, quebro o roteiro do sonho simplesmente com o pensar.
Então pude falar com ele facilmente.
– o que você fez? – ele diz preocupado em minha mente.
– o que tinha que fazer – digo simplesmente.
– NÃO, NÃO, NÃO – ele gritava.
Eu não sabia como ele pôde perceber tão facilmente o que eu havia me tornado, mas também não me importava se ele me odiasse por isso, contanto que eu o tirasse dali.
– já está feito, não há como voltar atrás – digo fria.
– tem de ter um jeito... Eu não posso deixar que minha filha seja um monstro.
– o único monstro aqui é você – diz a voz emanando de minha garganta.
– O que? – grito em minha mente para voz.
Ela rir maliciosamente.
– você agora é minha propriedade.– ela diz.
– eu não sou propriedade de NINGUÉM – falo para voz enquanto podia ouvir ao fundo meu pai tentar falar comigo.
– você se tornou minha no momento que matou seu pai.
Então novamente sinto ela ir embora.

– AURORA?
– sim?
– você ouviu algo do que eu disse?  O que está acontecendo com você minha menina? O que fizeram com você? – sua voz era chorosa.
– ninguém nada fez a mim, eu que fiz – digo dura.
Aquelas palavras emanando de minha boca, não eram minhas, mas eu sentia que elas faziam sentindo...
– Como o tiro daqui? – pergunto a voz.
Ela retorna.
– apenas repita o que eu lhe disser.
Levanto-me e vou em direção ao monstro, seguro suas mãos pálidas e digo – vou tira-lo daqui.
Ele se distancia.
– NÃO, não a esse custo.
– que custo? Não a custo nenhum, apenas vou tira-lo dessa tortura, e você vai voltar para mamãe e para mim, você não quer isto? – pergunto indignada.
– mais que qualquer coisa Aurora, mas não ao custo de sua alma.
Então ele começa a correr para alem da porta.
A voz sussura em minha mente e eu repito suas palavras.
Então meu pai retorna e se finca ao chão diante de mim, ele não conseguiria mais se mover.
– o que eu fasso agora? – pergunto a voz.
– o que? – meu pai pergunta.
Então percebo ter falado em voz alta.
– não estou falando com você. Sua face pálida demonstra horror.
Então a voz sussurra novamente em minha mente.
Palavras em uma lingua desconhecida emanam de meus lábios, o rosto assustado do monstro me fazem perguntar se o rumo das coisas estavam corretos, mas então esse sentimento logo morre.
Pois eu salvaria meu pai, como eu sempre quis.
Ao fim do cântico, uma luz em branco e dourado ecoa pela sala, mas logo se apaga, e as coisas começam a sumir, a mesa do centro, a porta e por fim  meu pai, ficamos só eu e a voz na escuridão.
Então quando eu pisco os olhos estou novamente no refúgio.
– ora, ora, ora – a voz cantarola em minha mente. –  você conseguiu.
Ela faz um som como de aplausos.
– cadê meu pai? – pergunto novamente em voz alta.
– ele está em sua casa e com sua mãe.
– porque ele não apareceu aqui comigo?
– porque você tem outra missão a cumprir e seu pai não poderia atrapalhar.
– missão?
– oh sim, sim, você salvou uma vida, agora você tem que tirar uma. – ela diz animada.

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