Ato 6: Vidas, ódio e lagrimas.

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Acordei, percebi que eu estava dormindo abraçado com alguém, ou melhor, alguém estava dormindo abraçado comigo, tentei me mover, a pessoa me apertou, girei me soltando de seus braços.

— Que sonho doido...— Ana falou com voz de sono se sentando na cama.— Sonhei que agente tava num apocalipse zumbi.

Fiquei calado, olhando ela enquanto ela coçava o cabelo, naquele momento a loirinha estava particularmente fofa.

— Pera aí...— Ela me encarou de volta.— Não foi sonho né?!

— Não...— Baixei a cabeça.

— Merda...— Ela baixou a cabeça.

— Calma baixinha...Ta tudo bem.— Acariciei os cabelos da garota.— Agora vá ligar o barco e tomaremos rumo, vou preparar um café pra você.

— Ta bem.

Ana subiu, e eu fui fritar ovos, não demorou muito pra o barco se mover e alguém aparecer, era Rafael.

— Negro...— Ele coçava a cabeça andando na minha direção.— O barco ta andando?

— Ta sim por quê?

— Nada... So queria saber. — Ele se sentou no sofázinho.— Que cheiro bom... Isso aí é pra mim?

— Não... É pra Ana

— Ah qual é irmão... Faz um pra mim aí.

— Tá Tá! Mas bota esse aqui num pão e leva pra a loira lá em cima.

Ele assentiu e deu as costas levando o pão com ovo e o copo de café.

RAFAEL

Quando eu subi as escadas em direção ao local onde Ana estava senti uma brisa quente, era o verão começando.

— Bom dia vaca! — Falei lhe estendendo o prato e o copo.

— Bom dia puta! — Ela riu pegando as coisas da minha mão, os apelidos são bem carinhosos.

— Notícias dos seus pais?

— Nada ainda... Mas eles devem estar bem... Só não acredito que eles foram pra Inglaterra e me deixaram aqui.— Ela cruzou os braços.

O silêncio tomou conta do barco ate que ouvimos algo, " When the momma sang us to sleep but now we're stressed out! ". Era João, ouvindo Twenty One Pillots subindo as escadas com comida pra mim e pra ele.

— Consegui fazer o rádio pegar!— Ele falou.

— Yaaay!— Ana jogou os braços pro ar, ela amava essa musica.

— Alguma notícia sobre locais seguros?— Perguntei.

— Até então nada.— O negro respondeu.— Ana, caso o plano dê errado, por quanto tempo podemos ficar no mar?

— Temos combustível pra 1 mês, mas a comida e a agua não vão durar tanto...

— Certo... Quanto a isso, ainda temos o arpão e a mascara de mergulho...— Ele disse dando as costas e saindo.

— O arpão ta sem lança!— Ana gritou.

— Booooosta! — Ele gritou e depois saiu gargalhando.

Senti cheiro de comida outra vez, "Deve ser Alan cozinhando." Pensei.

— Ana...— Perguntei.— Você acha que vamos ficar bem?

— Claro que vamos. — Ela respondeu.

— Como você consegue ser tão otimista?

— Eu não sou otimista, só não gosto de desistir, o negro... Ele sim é otimista.

Nós dois rimos.

— Não sei de onde sai tanto otimismo.— Falei.

— Se a gente mostrar fraqueza.— Ela se virou pra mim com um sorriso no rosto.— Não conseguiremos liderar vocês.

— Então você assume que eu sou o líder?— João falava subindo as escadas.

— Eu não disse nada isso idiota.

— Nos dois somos uma boa dupla, eu sei.— Ele ria.

— Me dá até inveja tanto otimismo assim...

— Gente! Temos problemas.— Paula falou.

Ana já ia largar o leme quando João gritou.

— Fica ai loira!

Eu e Ele descemos correndo.

— O que foi?!— Perguntei.

Eles deram espaço pra nós dois passarmos, era um bote cheio de pessoas gritando socorro.

— Ana pare o barco e desça aqui!— Gritei.

— Temos que ajudar eles.— Sodré falou.

— Não! — João disse em tom autoritário.— Não temos suprimentos o suficiente pra nós todos.

— Vamos ajudá-los!— Ana disse batendo pé de frente com João.

— Não, temos condições Ana!

— Eles só vão ficar com a gente até chegarmos na ilha Negro! Não seja mesquinho! Nós podemos ajudar e vamos ajudar.

João olhou pra Alan, ele não disse nenhuma palavra.

— Tá! — Ele gritou, era raro João perder numa discussão, mas Alan sempre sabia o que era mais sensato fazer então quando ele concordava com Ana, o que era extremamente raro, mesmo que contra sua vontade, João o ouvia.

Nos aproximamos do bote, deixamos o grupo subir.

— Alan, André e Rafa, verifiquem se não há nenhum mordido entre eles.

Nós três fomos verificar, um idoso e uma criança que faziam parte do grupo estavam mordidos.

JOÃO

Mandei os garotos isolarem os mordidos e chamei Ana pra dentro do quarto.

— Loira, temos que colocar eles no barco ou então matá-los, é muito arriscado manter eles aqui.

— Eu sei eu sei...— Ela andava de um lado pra o outro.

— Então, o que faremos?

— Desde quando eu sou a líder?— Ela gritou batendo o pé no chão.

— Nós dois somos, precisamos entrar num consenso.

— É... Eu sei.— Ela se sentou na cama.— Eu só não sei o que fazer.

— Então mataremos eles?

— Não! Ela é só uma garotinha! No guerra mundial Z ele corta o...

Fomos interrompidos por Alana.

— Gente! Estamos sem tempo!

— Botem eles no bote salva vidas.— Falei.

— Certo.— Alana saiu e fechou a porta.

— Não acredito que estamos fazendo isso...— falei com voz de choro.

— Negro.— Ela me abraçou.— Não fique assim.

— É errado decidir quem vive e quem morre.— A esse ponto eu já estava chorando.

— Eu sei... Mas enxuga essas lagrimas e vamos la pra cima.

— Beleza.

Quando subimos os dois ja estavam no barco e os outros membros do grupo nos olhavam com ódio nos olhos.

— Ela era só uma garotinha. — A mulher gritou.— Minha filha era só uma garotinha!

Eu não aguentei, meu coração apertado doía demais, Ana subiu pra assumir o leme e eu voltei pro quarto chorando e me deitei na cama.

— Meu amor... Não fique assim.— Paula entrou no quarto.

— Não dá pra evitar.

Ela se deitou no meu peito, e eu comecei a mexer nos cabelos dela, não demorou muito e eu adormeci.

Não Seja MordidoOnde histórias criam vida. Descubra agora