O Lado Escuro da Lua - Primeira Geração

(2003) Renata: O Raio da Comunicação

Uma das pessoas mais esperadas do dia chegou: a babá. Bom, devia estar economizando o dinheiro da babá, mas era uma emergência, um dia cheio do início ao fim da madrugada. Dia do primeiro show da minha bebezinha mais velha, um show só dela. Pensem uma mãe orgulhosa. Era eu. Logo, chamei a babá para que eu pudesse ter tempo livre para me arrumar, ficar linda e prestigiar a Malu. Não deu muito tempo, a segunda pessoa esperada tocou o interfone. Pelo menos, o pai dela.

Apertei o botão para liberar o portão e abri a porta para espera-los. Não demorou muito, comecei a ouvir as vozes de Eddie e Emily na escada. Sinto uma pequena inveja da forma que os dois conversam. É muito difícil entender a Emily, até para mim, que sou sua mãe. Ela solta palavras isoladas, gesticula bastante, tem uma dicção terrível, o que não a impede de falar como uma maritacazinha. Oitenta por cento do que ela diz me escapa, o que empresta um bocado de tensão ao tempo que passamos juntas. Eddie ouve, responde, Emily ri. Nunca soube se ele realmente a entendia ou se aquelas conversas eram como os jogos que fazemos com bebês, quando eles nos lançam um guh e um gah e nós lhes devolvemos uma frase sobre a economia ou sobre o tempo.

-Mamãe! – Emily chega ao corredor e corre pra mim, com os braços abertos. Nem seu "mamãe" é claro, mas ao menos essa palavra eu entendo bem.

-Oi, meu amor – Eu a pego no colo e a abraço.

-Oi, Rê, trouxe uma lista – Eddie entra, me dá um beijo no rosto, coloca a mochila da Emily sobre o sofá e tira uma lista do bolso, tudo em um movimento rápido.

-Lista?

-É, coisas pequenas, só escrevi para você não esquecer. A Emily está tossindo, então é pra dar o xarope que está na mochila de oito em oito horas, a última dose e a dosagem estão escritas na caixa.

Odeio xaropes e o Eddie sabe muito bem disso.

-Xarope?

-Porra, Rê, se for pra você dar pra menina aquelas suas bolinhas de açúcar, eu vou leva-la de volta.

-Não dou açúcar para a Emily. O que mais tem na lista?

-Domingo ela tem uma festa de um amigo da hidroterapia, o convite está na mochila. Não deu pra comprar um presente, mas pode me mandar a conta que eu pago.

Por que o Eddie faz isso comigo? Como ele me avisa na sexta-feira à tarde que tenho que providenciar um presente para uma criança que nunca vi na vida para o domingo? Minhas semanas são insanas, são estressantes, só queria passar um final de semana calmo em casa com a Emily e meus enjoos matinais, e ele vai e me arruma uma festa? Só esperava que fosse um daqueles aniversários que a gente só leva e busca a criança.

-Ela tem a roupa, pelo menos?

-Ela tem roupas aqui, não tem? Tchau, gatinha! – Ele se aproximou e Emily imediatamente largou o meu pescoço e se jogou no seu colo.

-Está com pressa?

-Mais ou menos. Estou indo à Malu, dar uma força pré-show e tal. Ela está meio nervosa. Oi, Bridget! – Ele cumprimentou a babá, que vinha falar com a Emily.

-Oi, Eddie! Oi, Emily! – Bridget cumprimentou, simpática, e Emily fez o som que entende por "Bridget", se jogando em um terceiro colo.

-Eddie, queria conversar com você um minuto. Bridget, você pode levar a Emily lá pra dentro um pouquinho?

-O que foi? – Ele perguntou, sério.

-Senta aí.

Eddie se sentou no sofá e eu me sentei ao lado dele. As meninas sempre implicavam comigo porque as minhas conversas sérias com ele levavam semanas. Elas ficariam impressionadas dessa vez, talvez porque eu não julgasse o assunto como sério. Ao menos, não um assunto grave Eddie/Renata como, por exemplo, contar para o seu amante casado que você está esperando um filho dele. Queria ser a primeira a dar a notícia porque ele é o pai da Emily, porque fomos noivos, porque me pareceu a coisa decente a ser feita. Não porque afetasse diretamente a sua vida. Ele havia feito a sua escolha, de não ficar ao meu lado, e não guardava o menor ressentimento por isso. Não mais. E, depois que ele partiu, eu só estava continuando o meu caminho de forma independente, como havia sido a minha vida inteira.