(2002) Narradora: A Festa - Parte II

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Carol estacionou o carro atrás de uma longa fila de veículos que ia quase até a sua casa. Como era óbvio que tantos carros só podiam estar indo para o mesmo endereço que ela, ela achou melhor desligar o motor e sair.

-Não daria no mesmo irmos a pé? – Kátia abriu a porta do carona.

-Você está acostumada a usar salto, nós não.

-Mas você vai andar a mesma distância de salto. Ou então, devíamos ter saído mais cedo.

Elas pegaram as suas bolsas e começaram a caminhar, com Kátia contando que estava certa que havia recebido o convite porque vendeu três biquínis brasileiros para a noiva há dois dias e mais um para a Malu, o que foi ótimo, não só pela festa, mas porque andava com aquele estoque encalhado há não sei quanto tempo. A Europa estava preparada para o topless, mas não para botar a bunda de fora, dizia.

-Fico me perguntando se isso é uma coisa castradora, pois todos têm o direito de mostrar o próprio corpo, ou libertadora, pois os homens param de ver a bunda feminina como um pedaço de carne – Jessica comentou.

-Vocês focam em cada coisa! – Carol falou. – Somos convidadas para uma festa na casa do Ed Simons e vocês pensando em estoque de biquíni e bunda feminina!

-Ahá! – Ouviram alguém gritar ao lado delas e quase morreram de susto.

-Ai, não – Elas resmungaram.

-Acharam que eu não fosse descobrir? – Fê falou.

-Achamos – Jessica respondeu.

-Não, não é isso... – Kátia tentou explicar. – É que, veja bem... – Ela começou, diplomática.

-Ficamos com medo que você pagasse mico – Carol completou com honestidade.

-Acho isso um absurdo! Todo mundo sabe que não tem ninguém na Sardenha, não, em toda a Itália, não, em todo o mundo, mais apaixonada pelo Ed que eu. Aí ele dá uma festa e vocês nem me convidam! Se não fosse o meu marido ser pianista do karaokê e ter sido convidado, eu nem saberia dessa festa!

-Então por que você não foi com o seu marido?

-Ele também não quis que eu fosse. Disse que eu ia pagar mico – Ela falou, mal-humorada.

-Pelo amor de Deus, Fê, não comece a histeria – Jessica pediu.

-Isso, somos adultas. Somos EddiLus, mas somos adultas.

-Quem começou com essa história de EddiLu e TomLu, aliás?

-Nem sei, acho que foram as amigas daquela menina do supermercado. Eu sou Maluzete. Ainda não decidi se EddiLu é real ou se tem a ver com fases de desenvolvimento mal resolvidas, porque segundo Freud... – Kátia começou a explicar, mas Fê interrompeu.

-Sou só Eddizete, dá licença. Será que a minha enteada vai estar lá? Acho que vai ser lindo começar a ser apresentada à família.

-Vai. Aí você aproveita e a apresenta ao seu marido!

Chegaram a uma das mansões de celebridades da ilha que, de forma inédita, estava completamente aberta e com música alta trovejando. De todas as estrelas que passavam as férias ali, os moradores daquela casa sempre foram os mais simples e os que mais interagiam com as pessoas da região. Ainda assim, era a primeira vez que a casa era aberta para quem quisesse entrar. Assim que chegaram à sala, Fê olhando em volta à procura do Ed Simons e, ao mesmo tempo, tentando fugir do próprio marido, viram Ana Paula e Natália em meio a uma discussão com a língua engrolada:

-Ela não traiu o Tommy! Aquele casamento era um fiasco! – Gritava Ana Paula, com ar de briga.

-Não estou dizendo que traiu! Estou dizendo que me causou mal-estar! – Natália berrava um pouco menos, mas a bebida a havia deixado um mais brigona que de costume.

-Se não traiu, te deixou com mal-estar por que, hein? Hein? PORQUE VOCÊ É UMA TOMLU.

-NÃO SOU!

-Ei! – Jessica entrou no meio. – Que porra é essa? Aline, ajuda aqui? – Ela pediu para uma amiga que estava sentada em frente a elas, olhando para a porta com ar sonhador.

-Será que o meu gigante ainda vem? – Aline suspirou para as pessoas que entravam.

-Caramba, como o Tommy lesa a mulherada! – Jessica resmungou. – Kátia! Carol! Me ajudem a separar!

Ela nem chamou a Fê, pois essa também era lesada, mas não pelo gigante da Aline.

-Vocês estão loucas? Já bêbadas e não tem nem uma hora de festa? – Kátia disse, como se fosse mãe delas.

-Não é nossa culpa – Natália falou, olhando para os sapatos.

-Não, é mais forte que a gente – Ana Paula explicou.

-Por que? Vocês são alcóolatras por um acaso?

Nesse momento, ouviram uma voz:

-Senhoritas? Mais bebida?

Viraram e viram uma bandeja com flautas de champanhe, subiram os olhos e encontraram um tórax forte, mais um pouco e um sorriso lindo e cheio de dentes brancos, mais um pouco e maravilhosos olhos verdes.

-Claro! – Ana Paula e Natalia viraram o resto de seus champanhes em um gole e pegaram uma nova flauta. As outras fizeram o mesmo, assim que conseguiram controlar a gagueira.

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Toda festa tem um dia seguinte. Aguardem a última parte!


O Lado Escuro da Lua - Primeira GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora