(2016) Alex: Adivinhe, seremos avós!

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Eu devia ter feito alguma coisa na mesma hora porque tenho problema de esquecimento, só que estava super empolgada com a minha nova história da mulher do coração partido que tricotava gorros por causa do coração partido do enteado, e estava tudo emocionante e cheio de twists e deprimente e na sequência o Mick me falou que estávamos atrasados há vinte minutos para jantar com a Malu e com o Eddie. Não dou conta com jantares se intrometendo no meio da minha criatividade, porque ela é fértil, mas eu tenho problema de esquecimento, já disse isso? Só que Malu e Eddie ascenderam uma fagulha de lembrança e me toquei que tinha que dizer algo para eles, só não sabia o quê, e tudo isso me deixou estressada e comecei a sentir a queratina me abandonando e meu cabelo ficando quebradiço e não me lembrava mais da história da mulher dos gorros nem por nada, era só umas letrinhas embaralhadas na tela do computador e pareciam ter sido escritas por outras pessoas enquanto o Mick ficava berrando uma insanidade sobre o jantar. Aí lembrei do jantar.

Fomos em um dos meus restaurantes favoritos, um que eu não sei o nome, mas que tem pessoas indianas simpáticas servindo pratos indianos, mas eu já estava perturbada pensando o que eu queria com o Eddie e a Malu.

-Tô com batom no dente, Alex? – Malu perguntou.

-Não – Tentando lembrar.

-E eu? Tô com alguma coisa no dente? – Foi a vez do Eddie.

-Não – Continuava tentando lembrar.

-Então para de encarar os dois – Mick disse.

E foi então que eu lembrei.

-Adivinha, Mick! Nós vamos ser avós!

Mick cuspiu metade da cerveja, e continuou babando e se limpando.

-Porra! Como assim? Foi o Josh? Caramba, eu nem sabia que o Josh tá namorando! Caralho, não é a Baby, é? Mato o filho da puta que engravidou a Baby!

-Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! – Malu disse, enxugando as lágrimas. – De quanto tempo? Vamos mandar flores pro Josh! Ai, que tosco, vamos mandar um sapatinho, quero dar o primeiro sapatinho!

-Pera, mas é do Josh? – Eddie perguntou.

-Não, é do Dave!

-Do Dave?! – Os três perguntaram juntos.

-O Dave casou?

-Quando o Dave casou?

-Cacete, quando você falou com o Dave e ele contou que casou? E por que você não me disse?

Ah... espera.

-Não, ele não casou. E não tem bebê. Não tecnicamente. Não casou tecnicamente e não tem bebê tecnicamente, mas é tecnicamente tudo a mesma coisa.

-Quando é que isso é tecnicamente alguma coisa?! Porra, Alex!

Eu notei que Mick estava ficando estressado e, mesmo que ele não tenha nenhum problema de queda de cabelo relacionada a estresse, o que é um alívio, porque ele nunca usa os meus gorros, eu não queria deixá-lo puto porque, mesmo que não houvesse tecnicamente um bebê, com a nossa ajuda e dos oráculos, um bebê poderia ser tecnicamente feito e daria tudo no mesmo, embora eu tivesse muita pena de um bebê tecnicamente feito pelo Dave na primeira vez que ele derrubasse alguma coisa no sofá da sala. Capaz do Dave tecnicamente lhe dar um safanão.

-Explica, Alex! – Malu pediu, e eu me toquei que estava pensando em tecnicalidades e fiquei muda.

-Ah, tá. Então, ele conheceu uma menina e foi um babaca com ela e pediu a nossa ajuda para reconquistá-la.

-A nossa ajuda? – Mick quase cuspiu o resto da cerveja.

-Tecnicamente.

-Alex...

-Tá, não pediu. Mas é uma linda história. Não, não é quando ele achou que ela tava trepando pelas costas dele. Nem quando ele a chamou de vagabunda. Nem quando ele a levou pra jantar em um restaurante caro e disse que a refeição era pagamento por ela ter feito sexo com ele. Nossa, que história horrenda.

-Pavorosa – Malu fez cara de nojo.

-Puta que pariu, foi esse imbecil que eu fiz?! – Mick disse. – Essa menina tem que ficar a quilômetros de distância dele.

-Não! – Gritei. – Aí é que está, vejam bem. Ele está apaixonado!

-Ele disse que estava? – Malu sorriu feito uma idiota e eu percebi que o oráculo poderia ser conquistado. É que eu sou muito perspicaz e atenta à linguagem corporal.

-Eu vi um brilho apaixonado no olho esquerdo dele – Não disse? Linguagem corporal é comigo mesmo.

-Ok, se ele está apaixonado e arrependido, mas só se estiver realmente apaixonado e arrependido de verdade... Eddie, faça o plano! – Malu se virou para o Eddie. Credo, que mulher dependente.

-Ei, não sou tão rápido.

-Claro que é.

-Tá, sou. O primeiro passo é conseguir um espião do outro lado.

-É! – Concordei. – Nós podemos contratar um detetive bem bonitão e fazê-lo se passar por modelo da agência e se infiltrar entre os amigos da menina e aí ele pode passar todas as informações!

-Isso! Ou então ele pode entrar em contato com alguém que é amigo dela, o que pouparia tempo e dinheiro.

-É, ou isso – Falei, decepcionada. Tinha achado a minha ideia muito mais legal. – E depois?

-Depois a gente trabalha nas informações, mas seria legal se, enquanto isso, você desse uns toques no Dave. Não o vejo há bastante tempo, mas ele é meio monossilábico.

-E tem uma boca de latrina – Malu completou.

-Porra, nem tanto assim – disse o Mick.

Peguei meu bloco na bolsa para anotar todas as dicas. Não sei se já falei, mas tenho problema de esquecimento, sabe? E aí me toquei que estávamos no restaurante há um tempão e não tinha dado a melhor notícia de todas.

-Adivinhe! Vamos ser avós, Mick!

Todos me mandaram calar a boca. Achei muito inapropriado e pouco festivo.

O Lado Escuro da Lua - Primeira GeraçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora