-Nanica, não sei nem como te pedir isso...
Você olha pra mim e diz que eu sou uma mãe de família. Mais, que eu sou uma avó de família. Mais ainda, que eu sou uma mãe/avó (ainda que incrivelmente fofa, fofa porque sou nova, não fofa como Dona Benta)/estrela do rock/inspiração de um musical/cozinheira de mão cheia/saltadora de lugares altos na água...
Mas nããããão.
Na verdade, sou Salvadora do Mick.
Porque assim, quando ele diz "não sei nem como te pedir isso", ele não vai pedir um favor enorme e inédito. Sim, será enorme, mas não será inédito, porque ele vive querendo que eu o livre das suas embrulhadas. A primeira vez que ouvi essa frase foi em 2000 e ele queria que eu desse jeito nos filhos dele, e nesses quinze anos ele nunca mudou nem a abordagem. E toda vez começa fazendo aquela cara de cachorrinho perdido, olhos caídos (se bem que ele tem sempre o olho meio caído mesmo) e dizendo: "Nanica, não sei nem como te pedir isso".
Resposta que eu deveria dar: "Mas de tanto me pedir, você ainda não aprendeu?!"
Resposta dada:
-Ai, meu Deus, o que aconteceu? – É, eu não aprendo. Até que dar jeito nos filhos dele foi uma coisa grave, mas depois disso o Mick pediu coisas como dar jeito na cerimônia de casamento dele, dar jeito na fantasia de papel reciclado que a avó da Alex estava fazendo pra apresentação da Baby na escola (ok, isso foi grave também) e dar jeito na Alex querendo fazer suas próprias roupas de gestante.
-Cara, dá um jeito no aniversário da Alex?
Viram? Só que, dessa vez, eu não ia me deixar envolver em seus problemas imaginários causados por sua família louca, pois tinha as loucuras da minha própria família para lidar.
-Mick, é aniversário dela. Acampar no deserto do Saara é o que ela quer fazer, e a gente não tem o direito de interferir nisso – Respondi, cheia de dignidade e autoconfiança, me sentindo muito decidida e importante por falar o que penso na cara, ao invés de dar uma resposta educada pela frente e, mais tarde, maldizer o Mick e a Alex pelas costas.
-Você sabe que tá incluída no pacote, né?
-Ela é minha melhor amiga, fico honrada – Falei, a voz falhando, mas só um pouco. E então me lembrei: - Mas não faz duzentos graus no deserto? Não posso.
Há!
-Isso é o que você pensa, porque a Alex já pesquisou tudo. Com aquelas paradas de beduíno, aquelas roupas brancas e tal, dá perfeitamente pra você ir. A merda é que seus saltos vão atolar na areia, né? Ah, e ouvi que é meio complicado pra cagar.
Como assim, não podia usar salto?! E tipo, não é que eu cagasse. Não faço isso. Mas vamos dizer que eu quisesse. Ninguém caga no deserto? A título de curiosidade, claro.
-Eu vou conversar com ela – Falei, com muito ódio do Mick, da Alex, do deserto e dos intestinos de maneira geral. – E como... hum... se caga no deserto? Não que eu vá fazer isso, claro.
-Vai no buraquinho e enterra.
Credo! Creeeeedo! Que coisa canina! Desliguei o telefone e liguei imediatamente para a Alex.
Eu a chamei para vir aqui e ela entrou incrivelmente estranha. Estranha porque estava com uma saia comportada e, quando estacionou em frente ao portão, Les Paul abriu a porta do carro e saiu correndo para me nocautear na barriga (não propositalmente, claro. Ele só é muito empolgado nos abraços), e ela disse:
-Não, Les Paul, com educação, como um damo. Caminhe.
-Bala humanaaaaaaa – Les Paul me nocauteou.
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O Lado Escuro da Lua - Primeira Geração
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