Este POV faz parte da série O Livro de Saint-Malo
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Saint-Malo, 25 de julho de 2004
Era noite, as crianças estavam dormindo em outro quarto do hotel com as babás, e eu, já vestindo uma camisola de malha meio troncha, mas super confortável, olhava o Eddie colocar uma bermuda (sem motivo para usar roupa se não precisava interagir em sociedade, certo?) para receber o entregador do restaurante japonês. Foi mais ou menos nesse momento, quando o entregador bateu na porta, que tocou o telefone da recepção para avisar que o Tom gostaria de subir. Aceitei, óbvio, mas imediatamente me deu um pânico quando peguei a barca de sushi enquanto o Eddie passava o cartão.
-O Tom está subindo. A gente vai ter de convidá-lo pra jantar com a gente.
-Claro – Eddie concordou, digitando o código na maquininha.
-Ele come pra cacete, Eddie!
Eddie hesitou um segundo e falou:
-Liga pro restaurante e pede mais uma dessas.
-E saquê! Vou pedir saquê! Pra vocês meninos poderem beber e... fazer coisas de meninos – Disse, enquanto pegava meu celular.
-A gente não precisa beber, princesa – Eddie discordou, mas eu era sempre a chata que sugava o álcool e a diversão de tudo, então liguei e pedi duas garrafas de saquê assim mesmo. Desliguei no momento em que Tom chegou e botou a cabeça para dentro da porta ainda entreaberta.
-E aí? - Ele perguntou. - Vocês têm um tempinho?
-Claro! - Respondi, super animada, só então me tocando que estava com a camisola troncha. Mas Tom já havia me visto na minha calcinha bege com elástico frouxo, então achava que ele não se chocaria com nada. - A gente vai jantar. Come com a gente.
-Não, para falar a verdade, eu só vim me despedir. Tô voltando pra casa amanhã de manhã.
Fiquei boquiaberta e chocada.
-Pô, agora a gente pediu comida pra alimentar um país pequeno – Eddie coçou a cabeça.
-E duas garrafas de saquê. Você tem de beber pelo menos uma delas.
-Não fode, eu não como tanto assim – Tom resmungou.
-Ah, come – Eu respondi. - Você não vai me desapontar, vai? Olha que a minha temperatura corporal sobe.
-A temperatura corporal dela sobe – Eddie apelou junto comigo.
-A não ser que você tenha planos melhores – Fiz cara de cachorro que caiu da mudança, observando que ele estava com uma calça caríssima, uma camiseta mais cara ainda, uma jaqueta que devia custar uma tremenda fortuna e perfumado como o diabo gosta. Duvidava muito que aquela produção toda fosse para se despedir de Eddie e de mim.
Tom levantou uma sobrancelha pra mim.
-Saquê?
-Uma garrafa só sua – Prometi.
Como resposta, Tom tirou a jaqueta e a largou em cima de uma das poltronas. Estávamos na antessala da suíte e nos sentamos no chão em volta da mesinha de centro, para atacar a primeira barca de sushi antes mesmo que o entregador voltasse com nosso segundo pedido. Antes mesmo do saquê.
Não que o entregador tenha demorado. E, queria crer, qualquer que fosse o lugar ao qual Tom queria ir depois de nos visitar, ele havia ficado há muito esquecido, enquanto meu ex-marido entornava sua própria garrafa de saquê. É que não havia lugar mais maravilhoso para se estar que entre aqueles dois. Meus dois homens, meus dois amores. De uma forma ou de outra, eram eles que me completavam. Só eles haviam mexido com o meu coração desde que o mundo era mundo. E, ali no meio, fui lembrada do nosso pacto, da certeza de que eu estava unida a eles até o dia da minha morte.
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O Lado Escuro da Lua - Primeira Geração
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