Capítulo quatorze

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Erfieu mandou todos irem para as suas camas, pois tudo aquilo com certeza era uma brincadeira de mau gosto. Eu não acreditei muito em suas palavras, por mais que soassem verdadeiras. Ele pediu para termos cuidado, sendo que, bem, eu não sou Xena, a princesa guerreira, mas podia dar conta de alguns carinhas. Afinal, eu já tinha visto Kung Fu Panda diversas vezes.

A frase ''morte a todos'' se repetia e se repetia na minha cabeça. Parecia borbulhar. Estávamos mortos. Não fazia sentido algum.

Assim que eu entro no quarto, Samirah não estava lá. Ela com certeza estava se divertindo com Manson. Eu esperava que sim.

Retiro o vestido e o guardo com cuidado no meu guarda-roupa. Olho em volta. Esse não é mais o meu quarto. O meu único quarto. Eu demoraria a me acostumar aqui? Ah, eu deveria mesmo era parar de pensar no meu passado e tentar compará-lo ao meu presente.

Encosto a cabeça no travesseiro e me aconchego em sua maciez. Não demorou muito para eu pegar no sono e começar a sonhar.

Eu estava no meio da minha antiga casa. Vento colidia com os meus cabelos e o meu rosto. A minha pele ardia e eu não conseguia me concentrar em nada que estava ao meu redor.

A minha casa começou a pegar fogo imediatamente e eu abracei o meu corpo. Lágrimas, que eu não consegui impedir, desceram pelo meu rosto. Eu estava vendo aquela tragédia novamente.

Não.

Não.

Não.

Até que uma criança aparece. Era eu. Eu com mais ou menos sete anos de idade. Estava coberta por fuligem e algumas queimaduras leves. O mais horrendo era o grito que cortava a minha garganta.

Eu cambaleei para trás. Eu queria ficar longe de mim mesma. Do passado que eu lutei tanto para esquecer. Estava tudo voltando novamente até mim.

- Acorda! – uma voz berrou no meu ouvido.

Com um susto, eu me levanto. Não estava me sentindo muito bem. Meus olhos estavam desfocados, a pele fria suava e minha boca estava seca.

- Você está passando mal? – Samirah perguntou.

- Estou bem. Só vou tomar um banho, tudo bem? – pergunto.

- Tudo bem. Já viu os nossos horários?

Pego o papel que estava em cima da cômoda e leio.

Primeiro tempo: Suzanne Whit – Efeitos

Segundo tempo: Meredith White- História dos mortos (como ser um fantasma Maior)

Terceiro tempo: Jason Royal – Atividades especiais (use seus poderes)

Quarto tempo: tempo livre

Quinto tempo: Blake McHill - treinamento prático

Ah, que ótimo! Eu teria treinamento prático com Blake e não fazia ideia do por que disso. Meu estômago embrulhou e eu me lembrei de que a minha ultima refeição descente foi aquela cabra. A sorte era que os semimortos podiam passar quase um dia sem comer e beber nada. Eu havia esgotado esse limite.

Tomo um banho, sem receio. Blake havia mesmo dado um jeito naquelas malditas aranhas.

Visto o meu uniforme sem nenhuma vontade e sigo Samirah. Teríamos a primeira aula juntas, o que eu achei bom, pois não queria entrar sozinha. Já me sentia sozinha a maior parte do tempo e aqueles pesadelos não ajudavam.

Eu precisava conversar com alguém sobre aquilo, mas ninguém de verdade se interessaria. Cada um com seus problemas.

Mas não era assim que funcionava para mim. Eu me preocupava até demais com as outras pessoas e acabava esquecendo de mim mesma.

Mamãe e papai era um assunto doloroso para mim. Eu me lembro de seus gritos e o da quantidade de exaustão que me atingiu. Eu me lembro de ter desmaiado e não visto mais os seus rostos.

- Você está bem? – era a voz de Suzanne.

Foi ai que eu percebi que estava parada e chorando na frente de uma turma de quarenta alunos.

- Estou.

- Quer tomar um ar, querida? Pode ir. Eu guardo o seu lugar.

Assinto e saio da sala. Suzanne havia sido legal comigo e aquilo me deu uma pontada de felicidade. Vou até a janela mais próxima da sala e olho para o campo vazio. Todos os alunos estavam em aula, mas em salas diferentes.

Olho para os muros altos que me impedem de ver além. Por que tudo aqui é tão misterioso?

Uma melodia gostosa invade os meus ouvidos, então, percebo que o quarto de Blake estava próximo. Respiro fundo e caminho até a grande porta que me dava até a escadaria.

Giro a maçaneta. Não havia ninguém no corredor, o que era ótimo.

Era o toque de um piano. Meu pai sempre tocava piano para mim antes de dormir.

Pare de pensar nisso, Brooke. Só por um instante, aprecie a música.

Desço a escadas em silêncio e vejo que a portinha do quarto estava aberta. Engulo em seco e fico encostada na porta, vendo Blake tocar perfeitamente o piano, até que ele começa a cantar:

Cause it's not right, I'm magnetised  (Porque não está certo, estou magnetizado)

To somebody that don't feel it  (A alguém que não sente isso)

Love paralysed, she's never gonna need me  (Paralisado por amor, ela nunca vai precisar de mim).

But sure as the world keeps the moon in the sky  (Mas, claro, como o mundo mantém a lua no céu)

She'll keep me hanging on  (Ela me manterá esperando )

She'll keep me hanging on  (Ela me manterá esperando)

Meus olhos se encheram de lágrimas pela dolorosa letra de um coração partido. Logo, o meu jeito protetor de ser quis ir ao encontro de Blake e abraçá-lo. Suas costas estavam eretas e seu olhar estava fixo em cada parte do piano, como se fosse tão importante para ele, aquele momento, onde expulsava todos os seus sentimentos.

Mas eu precisava ir embora.

Eu adoraria vê-lo tocar novamente.

- North to south, white to black (Norte a Sul, branco a preto)

When you love someone that don't love you back (Quando você ama alguém que não lhe ama de volta)

Yeah it's not right, I'm magnetised (Porque não é certo, estou magnetizado)

To somebody that don't feel it (A alguém que não sente isso)

Fecho a portinha e olho a minha volta. Não sabia se estava pronta para a aula de Suzanne. Tudo o que eu queria era dar meia volta e ver Blake cantando mais uma vez.

~*~

Desculpem-me pelo capítulo dêpre e tudo mais. Logo, vamos teremos mais mistério e tal, para embolar a cabecinha de vocês. Beijos! Comentem e votem, pois eu amo! <3

Beijada pela Morte | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora