Capítulo vinte e cinco

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Eu estava ansiosa. Retorcia-me por dentro, tentando adivinhar cada palavra que Blake poderia me dizer. Eu não queria parecer uma desesperada, então tentei neutralizar a expressão do meu rosto.

Blake me levou até o quarto dele, enquanto passávamos pelos corredores barulhentos, com vampiros punks e anarquistas que comiam um caldeirão de sangue e alguns zumbis jogando pôquer.

Assim que chegamos ao nosso ponto de encontro, Blake se sentou na beirada da sua cama e eu fiquei paralisada. O que ele queria afinal? Por que ele não me dizia de uma vez por todas, ao invés de fazer esse drama todo?

Olho para a parede varrida de livros. Vejo que havia um porta-retratos minúsculo ali no meio. Aproximo-me dele e vejo uma foto antiquíssima. Era Blake e uma bela dama ao lado. Seus cabelos eram de um tom claro e os olhos castanhos. Ele parecia tão feliz.

- O que você tem a me dizer? Eu poderia estar deitada na minha cama nesse exato momento – digo, sarcástica.

Ele respira fundo e se levanta.

- Eu não sei como te dizer isso – ele desvia o olhar.

Olho para o porta-retratos.

- Quem é ela? – pergunto.

- Carolyn. Ela foi minha namorada há muitos anos.

- Ela é bonita – digo, colocando a foto no lugar.

- Sim, ela era.

Sinto as mãos de Blake segurarem a minha. Estavam gélidas e o seu rosto ainda mais pálido que o normal. Eu podia sentir um fio de eletricidade passar por nós dois e sentir algo em volta de nós dois.

- Acontece, Brooke, que estou apaixonado por você – ele solta.

Era tudo o que eu sempre quis ouvir desde que eu coloquei os meus pés naquele lugar. Tudo bem, eu nunca fui uma garota fácil de lidar e entender. Eu mesmo ficava confusa com os meus sentimentos às vezes, principalmente quando eu vi o Dylan semimorto na minha frente. Eu percebi que não o amava. Todos os meus pensamentos sempre voltavam para aquele beijo. O beijo que Blake me deu quando estava pela primeira vez no Instituto. Era estranho acreditar que as coisas passaram tão rapidamente e eu não tinha noção do tempo que eu estava ali. Bem, nada disso parecia importante. Eu sabia que tinha criado um sentimento surreal por ele, desde que o vi.

Eu sabia o que mais me havia cativado. O seu jeito tímido, ou arrogante; os seus olhos fenomenais ou a sua voz de tirar o fôlego. Talvez fosse todo aquele conjunto, que o fazia ser único aos meus olhos.

- Eu estou apaixonada por você.

Não demorou nem um segundo para que a sua boca estivesse colada com a minha. Naquele momento, eu só queria tê-lo para mim. Não me importava com a Emily, com as regras, ou com qualquer outro pensamento insano.

A sua boca, como sempre, era viciante e quando me dei por conta, estávamos na cama nos beijando. A maciez do seu corpo sobre o meu estava me deixando louca. Eu queria arrancar aquela camiseta preta e deixá-lo sem nada para cobri-lo. Eu queria tantas e tantas coisas para aprimorar aquele momento que ficava cada vez mais lindo e mais vívido.

- Eu senti algo extraordinário por você desde que te vi pela primeira vez. – ele sussurra e me beija novamente.

Sorrio, sem pensar em nada para dizer. Aquele momento não precisava ser feito de palavras.

Mas então, Blake para de me beijar e se deita ao meu lado. Ele respira fundo e mexe no meu cabelo. Aquele carinho foi tão bom que superava qualquer beijo que eu já recebi na vida.

- Eu amo você.

Como a vida era algo surpreendente. Em uma hora, você está cheio de problemas, atormentando-te, mas logo depois, com apenas algumas palavras, ela é capaz de fazer você se esquecer de todos. Seus olhos brilhavam na medida em que ele se aproximava de mim novamente.

- Você me faz sentir vivo novamente – ele diz calmamente.

Meio gay, mas tão fofo! 

- Você se lembra da sua vida antiga?

Ele baixa o olha e solta um sorriso amargo. Blake coloca a cabeça no travesseiro e ficamos olhando um para o outro.

- Lembro. Eu me lembro perfeitamente.

- Como era? – pergunto. Minha voz estava tão baixa que parecia um sussurro.

- Era pacifica. Até que eu entrei nas gangues e me apaixonei pela pessoa errada.

- Ela era namorada de um dos chefes?

Blake sorriu. Eu não conseguia imaginá-lo em uma gangue.

- Sim, ela era. Carolyn era como um diamante que não podia ser tocado, porém, eu fui o motivo dela ter se quebrado em pedaços – sua voz era morna.

- Eu sinto muito.

- Não sinta, Broo. Nada foi culpa sua, foi minha – ele acariciou os meus cabelos novamente. Fecho os olhos e sinto novamente os seus lábios e a sua língua tomando conta da minha boca. Naquele momento, eu o desejei tanto que tudo a minha volta parecia quebrável.

- E é por isso que nós não podemos ficar juntos. – ele diz. A voz amarga e trêmula, que fez com que eu me afastasse dele lentamente. Como assim? Que tipo de garota ele pensava que eu era?

- Isso é alguma brincadeira de mau gosto, não é? Pois se for, não tem a menor graça, Blake.

- Perdoe-me, Brooke. Eu não posso ficar junto a você. Não do jeito que as coisas se encontram. Se algo acontecesse com você, eu não sei o que faria.

- Do que você está falando? E-eu me declarei pra você! Isso é humilhante! – falei. Não tinha forças para gritar naquele momento. Por que ele fez isso?

- Eu amo você, Brooke. Eu te amo, mas não podemos ficar juntos. Estou fazendo isso para protegê-la! – ele olha para o chão. – Eu preciso que confie em mim.

- Não! – meus olhos já estavam com lágrimas quentes pela raiva. Eu não ouvia o que ele me dizia e não estava nem aí. – Acontece que você não dá a mínima pra mim! Eu sou apenas mais um troféu pra você, igual à Emily! – engulo em seco. – Acontece que eu não vou tirar a minha blusa pra você, idiota.

- Não diga asneiras, Brooke. Eu vou tentar resolver isso sozinho. Só não quero saber que está envolvida nesses acontecimentos.

- Cale a porra da sua boca. Que acontecimentos?

- Brooke, eu quero explicar, mas eu não posso.

- Cale a droga da sua boca! – gritei. – Eu vou embora, e não ouse me procurar. Eu não vou mais acreditar nas suas palavras de merda. Ouviu-me? Deixe-me em paz!

- Eu te amo – seus ombros estavam caídos. – Eu só quero proteger você.

Balanço a cabeça, sentindo algo entalado na minha garganta. Por que ele teve que estragar tudo? Uma parte de mim queria acreditar nele, outra parte queria socá-lo até não poder mais. Tudo a minha volta girava e a raiva fervilhava dentro de mim.

O que eu faria agora? Tentaria dar o fora daquele lugar o mais rápido possível. Não havia nada que me prendesse ali.


Beijada pela Morte | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora