Aquele lugar era gótico demais para mim. A iluminação era baixa, deixando tudo com um ar mais sombrio, como se um fantasma pudesse aparecer a qualquer momento e dizer ''buh''. Imaginei como deveria ser mil vezes pior a vida de Blake. Viver sozinho, andando por ai, apontando cada pessoa que ia morrer.
Continuei seguindo o esqueleto. Ele parecia ter medo de minha presença ou coisa do tipo. Já tinha verificado debaixo das axilas, mas pelo jeito, mortos não cheiram.
Eu estava morta e presa em uma espécie de escolinha. Tem como o dia ficar melhor? Acho que não. Se eu pelo menos tivesse uma noção do lugar, estaria dando um tchauzinho, mas eu estava praticamente presa com um homem que se intitula de ''Morte'' e um dos esqueletos da minha sala de biologia. Será que eu iria ficar naquele lugar para sempre? Eu nunca poderei namorar, ter filhos e uma família?
Tudo parece pesar quando penso em Dylan e na minha avó. Não tive tempo de me despedir. Desculpar não iria bastar, pois eles nunca mais iriam me ouvir.
Você está fadada à solidão, Brooke Williams.
Revirei os olhos e ajeitei minha roupa. Não sabia ao certo o porquê deu estar ali. Bom, tinha praticado bullyng com um menino uma vez, mas não foi nada tão escandaloso. Já baixei música ilegal na internet e não devolvi os livros da biblioteca. Eu não deveria estar ali e algo estava muito errado. Eu não poderia estar morta, eu tinha muita coisa para viver!
Passos pelos espelhos largos e vejo minha pele acinzentada. Meus cabelos lisos, sem vida, estavam mais baixos que o normal. Minha postura havia caído um pouco e a tristeza e desespero estavam estampado em meu rosto.
Era bizarro.
Olho para o papel de parede roxo da parede e depois para o retrato de alguns alunos ''notáveis'' Entre eles estava Blake. Ele estava com seu típico rosto pálido e os cabelos negros caindo sobre a testa. Não sorria e seus olhos eram inexpressivos e tristes.
Desviei os olhos do quadro e continuei caminhando, até que o esqueleto para em um quarto com uma enorme porta. Respiro fundo e olho para ele.
- Qual o seu nome?- pergunto. Ele parecia ser o único com sentimentos ali, mesmo sendo uma caveira.
- O-o meu nome? Ah, senhorita! - ele se embaralhou. - Eu sou o Erfieu, ao seu dispor!
Sorrio, pois Erfieu era o esqueleto mais simpático que já tive o prazer em conhecer. O esqueleto que ficava na sala de biologia era bem paradão. Entro no quarto e vejo que havia duas jovens lá dentro. Uma delas rabiscava algo no papel e o outro ouvia música nos headphones. Assim que a porta rangeu, elas nem sequer olharam para mim.
Ótimo!Será que sou invisível?
- Ah, desculpe! - disse a menina que rabiscava o papel. - Meu nome é Emily.
- Eu me chamo Brooke - minha voz saiu neutra, mas eu estava me remoendo por dentro.
- Blake anunciou que uma novata chegaria - disse a outra, maliciosamente.
- Ah... - foi tudo o que eu consegui pronunciar. Não queria conversar, apenas pensar em como a minha vida tinha virado de pernas para o ar.
- Meu nome é Samirah.
- Prazer em conhecê-la, Samirah.
- Meninas - a cabeça de Orfieu surgiu atrás da porta. - Está na hora de se alimentarem!
- Não sabia que mortos se alimentavam - digo, espremendo as sobrancelhas.
- Estamos semimortos - disse Emily.
Eu e as meninas saímos do quarto e seguimos Orfieu para um salão onde havia vários e vários jovens. Alguns voavam e outros tentavam inutilmente. Nunca havia visto algo como aquilo em toda a minha vida. Ergo a cabeça para ver melhor e uma mulher muito elegante aparece numa espécie de altar. Tinha cabelos platinados, longos e a pele perfeitamente lisa. Ela parecia quase invisível.
Alguns jovens surgiram do chão e foram para os seus lugares, assim que a viram.
- É a diretora! - Emily gritou.
- O quê? - perguntei. Não conseguia ouvir com todo aquele barulho. Parecia que eu estava frequentando uma festa.
- O treinamento vai começar!
- Que treinamento?
Não conseguia entender nada.
- Para irmos protegermos os humanos, tolinha!
Percebi que Emily era muito bonita. Tinha cabelos castanhos compridos e olhos incrivelmente azuis. Usava um batom vermelho forte. Samira estava mais a frente junto a um garoto muito bonito. Ele olhou para mim e seus olhos cinzas se cravaram no meu. Senti um arrepio percorrer sobre o meu corpo e não consegui identificar o por quê. Ele sorriu e não consegui sorrir de volta.
Parem de olhar para mim! - era o que eu queria gritar.
De repente, Blake apareceu ao lado da mulher. Apenas com o seu aparecimento, todos pareciam ter se calado. Os burburinhos se cessaram dando lugar a um silêncio sepulcral. A diretora começou a falar algo, mas eu não conseguia absorver. Estava tentando entender o porquê dos olhos de Blake, estarem fixos em mim.
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Beijada pela Morte | livro um
ParanormalVENCEDOR EM SEGUNDO LUGAR EM PROJETO DOZE MESES VENCEDOR EM PRIMEIRO LUGAR NAS OLIMPÍADAS LITERÁRIAS Brooke Williams é uma garota de dezessete anos que estava prestes a entrar em Oxford, a faculdade dos seus sonhos, que foram interrompidos...