Meu corpo congelou. Eu não conseguia me sentir bem naquele lugar. Levitar? Sério? Eu nunca tentei levitação na vida e não era agora que eu iria tentar. Eu tinha tantas perguntas a fazer, mas todas pareciam sem respostas. Meu rosto parecia ter se contorcido numa careta emburrada.
Respiro fundo e me levanto. Sinto meu rosto esquentar, mesmo que o rubor não possa ser visto, deixava-me incomodada. Minhas pernas bambeiam até Suzanne e não consigo conter meu nervosismo.
- Não se preocupe Srta. Williams – Suzanne disse com a voz mais amarga. – É simples.
Olho para os meus pés e olho para os alunos que me encaravam com curiosidade. Samirah me dá um ''jóia'' com a mão e Emily, um aceno. Forço um sorriso amarelo para as duas e me volto para Suzanne.
- Vamos. Não temos um dia todo.
Eu queria xingá-la, mas me lembrei de que ela pode ler mentes e isso seria algo trágico para mim, já que eu nunca estive nesse lugar antes e não sei direito como as coisas funcionam por aqui.
Fecho os olhos, assim como os outros alunos. Eu não iria fracassar. Não, eu não iria.
Levitar, levitar, levitar.
Nada. Os meus pés ainda estavam no chão.
- Ande Brooke, você precisa levitar! – ela grita.
Por que eu não conseguia? O que tinha de errado comigo?
Levitar, levitar, levitar.
- Vamos, Brooke!- era a voz de Samirah.
Nada dos meus pés saírem do chão.
Eu estava morta, então por que não levitava? Com certeza meu corpo não pesava nada.
- Brooke, já se passou cinco minutos.
Cinco minutos? Como? Eu não conseguia! Eu queria, eu ansiava, mas não conseguia. Eu sou uma fracassada!
- Brooke! – Suzanne me apressou.
Com certeza eu estava muito idiota na frente de todos aqueles alunos. A única a não levitar.
- Abra os olhos, Brooke – disse a voz de Blake.
Espera aí, Blake? Abro os olhos e vejo que não havia conseguido subir nem dois centímetros. Meus pés estavam fixos no chão e não tinha nenhum Blake na minha frente.
Suzanne me olhava com curiosidade. Eu estava ferrada. Muito ferrada.
- Desculpe – murmurei.
- Estão dispensados – ela diz simplesmente e se vira para longe de mim.
Claro, era de se esperar.
- Desculpe – digo. Era mais para mim do que para ela.
Saio da sala. As janelas estavam abertas e eu conseguia ver vários alunos do lado de fora. Meus olhos marejaram sem nenhuma razão. Por que a voz de Blake apareceu naquela hora afinal? Já era de se esperar que eu enlouqueça. Será que a minha vida por acaso era parte de um sonho? Será que um dia eu realmente existi? Estou virando uma filósofa nesse lugar.
- Brooke? Você está bem? – era a voz de Suzanne.
O que ela queria comigo agora? Deixaste-me em paz, por favor.
- Estou – minto. Eu me sentia completamente destruída por dentro. Sentia como se cada pedacinho meu pudesse se desinteirar.
- O que exatamente aconteceu com você? – ela pergunta, analisando-me.
- Não sei. Simplesmente não consegui.
- Todos conseguem. Trate de treinar, Brooke Williams – ela me dá as costas e vai embora. Olho para mim no espelho. Eu era igual a todos os outros, então, por que eu não conseguia?
- Brooke! – ouvi uma voz. Era Cameron.
- Oi! Cameron, certo? – pergunto, dando uma risada sem-graça.
- Isso mesmo – ele sorriu. – Está a fim de ir até o jardim?
Olho pela janela novamente e vejo o campo florido com vários jovens mortos se divertindo. Onde estavam os adultos? De repente, todo aquele lugar não pareceu tão ruim. Era como estar na faculdade, não era? Uma faculdade para mortos? O nome soa ridículo demais até mesmo para mim.
- Claro. Por que não?
Ele sorriu e passo braço pelo meu ombro. Bem, eu não dei a autorização a ele de fazer isso, mas ora, éramos apenas conhecidos. O que iria acontecer?
Passo pelos corredores, onde alunos beijavam e conversavam sobre a vida após a morte ou até o mesmo se o céu teria pão.
- Vai ter uma festa no meu quarto? Está a fim de ir? – ele pergunta sorrindo maliciosamente. Isso seria bem interessante.
- Claro! – falei sem pensar duas vezes. Legal, eu estava começando a fazer amizade. E com meninos bonitos!
Eu era a pessoa mais festeira que conhecia e merecia curtir a vida após a morte. Sério, isso seria divertido.
- Perfeito! – ele raspou os dentes nos lábios. Caramba, como ele era sexy! Será que eu bebi alguma coisa que me fez pensar essas coisas? Provavelmente aquela aula maluca sobre levitação.
Olho para o lado e vejo que Blake estava aos beijos com uma morena muito bonita. Blake com certeza era um festeiro antes de morrer. Paro para pensar: como Blake se tornou a morte? Ele parecia um menino magoado às vezes e em outras horas, era um cara ousado.
Que se dane.
As escadas eram estranhas e seguidas por um longo tapete negro. Eu nunca tinha visto aquela mansão ao todo e também não estava interessada em descobri-la. Parecia mais um hospício de filme de terror. Lembro-me do quarto onde estive pela primeira vez. A cama era de hospital e o quarto não possuía nenhuma cor.
- No que está pensando?
- O quê?
Cameron ri.
- Você está fazendo caretas.
- Ah, sim. Desculpe, estou tão distraída ultimamente.
Ele coloca uma mecha atrás da minha orelha e seus dedos gelados tocam a minha pele.
- Você...
- Oi, gente! – Samirah gritou ao nos encontrar, interrompendo Cameron. Ela me puxou com o pescoço e fez o mesmo com Cameron. Ficamos como três palhaços em um abraço desengonçado. – Estão gostando do Instituto?
- É bem legal. – digo sorrindo fracamente.
- Vai à festa do Cameron não vai?
- Sim, ela vai – ele respondeu por mim. - Vai ser demais. Chamei o Dj Drama. – ele falou. Quase ri.
Assim que chegamos ao portão de entrada/ saída vi o lindo jardim espetacular. Suas cores eram vivas e o gramado... Ah, o gramado! Eu queria abraçar aquele gramado.
- É lindo!
Um menino que estava encostado na árvore olhou para Cameron e o chamou. Observei e vi que ele estava acompanhado de mais três jovens bem parecidos com ele.
Quando eu me aproximo, não acredito no que meus olhos vêem. Aquilo não podia ser verdade.
Eram zumbis.
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Beijada pela Morte | livro um
خارق للطبيعةVENCEDOR EM SEGUNDO LUGAR EM PROJETO DOZE MESES VENCEDOR EM PRIMEIRO LUGAR NAS OLIMPÍADAS LITERÁRIAS Brooke Williams é uma garota de dezessete anos que estava prestes a entrar em Oxford, a faculdade dos seus sonhos, que foram interrompidos...