Capítulo vinte e seis

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Cheguei ao meu quarto, Samirah não estava lá. Agradeci por isso, pois não estava com paciência. As palavras de Blake estavam embaralhando a minha mente. Eu te amo. Não podemos ficar juntos. Essas frases não faziam sentido. Não para mim.

Olho para o teto. No que a minha vida se transformou? No que eu me transformei? Tudo parecia rodar e rodar.

O que você queria, Brooke? Olhe só para você. Olhe a sua volta. Uma garota que não consegue se manter sã e que vive de aparências. Finge ser quem você não é. Olha que grande tapa na cara! Você está sozinha. Você vai morrer em breve e sozinha. Sua vida foi amaldiçoada desde o começo. Não é agora que tudo vai ter um final feliz.

Deixo que as lágrimas caiam. Tudo o que Blake fez, foi me dar um tapa na cara para acordar para a realidade. Eu estou sozinha. Não posso contar com ninguém.

Eu preciso parar de ser tão dramática. Eu precisava arrumar alguma brecha pra sair daquele lugar. Aprimorar os meus poderes e ficar longe do perigo que estava cada vez mais perto de mim, como uma sombra.

Vou até o meu guarda-roupa e vejo um pingente. Era uma rosa arroxeada tão linda e delicada que logo me apaixonei. Não tinha nenhum bilhete e eu logo concluo que aquilo era um presente de Blake.

Coloco o pingente de volta ao guarda-roupa e olho o meu reflexo no grande espelho de Samirah. Eu estava bonitinha. A pele branca como um papel e olhos castanhos esbugalhados. Eu parecia assustada.

Mas então, tudo parece mudar. O espelho treme e se quebra em vários pedacinhos a minha frente. Dou um passo para trás. O chão começa a tremer e eu caio na cama de Samirah. O que estava acontecendo?

Sinto uma vertigem. Meus olhos se fecham, mas eu os abro rapidamente. O papel de parede antigo começa a se rasgar como se alguém – ou alguma coisa – estivesse arrancando-o com garras afiadas.

Grito, mas tudo ao meu redor parecia ter sido abafado. Minha voz não saia e o meu corpo parecia ter sofrido uma pressão. Tudo estava se esvaindo e esvaindo. Como um tufão, os móveis voavam para longe de mim e tudo fica escuro.

- O que foi isso? – pergunto, assustada.

Eu estava enlouquecendo, isso era fato. Sorri, sentindo o meu rosto formigar, como se um vento fino soprasse sobre mim. Matem-me logo, por favor. Eu nunca lhes pedi nada.

Uma risada desconhecida ecoa por todo aquele vazio infinito. Meu coração – que parecia vivo – ricocheteava em meu peito, por puro pavor.

- Brincar com a mente! Vamos brincar com a mente! – disse a voz.

De repente, toda a minha energia foi sugada. Meu rosto suava e eu não conseguia me manter de pé. O que estava acontecendo? O que é isso? O que é isso?

- Vamos brincar!

- Isso é alguma gozação? – digo exausta. Sinto um aperto na minha garganta que corta a minha respiração. Sinto que os meus lábios ficavam cada vez mais secos.

- Vamos brincar! – a voz ficar mais sombria.

- Vá se foder – sussurro.

Eu vou encontrar o meu pai e a minha mãe. Eu vou encontrar o meu pai e a minha mãe. Olá!

Sorrio. Como é bom sorrir.

- Vamos brincar, então – sussurro fracamente. A mão invisível sobre o meu pescoço, conseguiu me levantar e eu parecia uma boneca flutuando pelos ares.

- Vamos brincar de morto-vivo?

Eu vou encontrar o meu pai e a minha mãe. Eu vou encontrar o meu pai e a minha mãe. Olá!

Saia da minha mente. Saia da minha mente!

Trinco os dentes com força, sentindo ao se liberar em meu ser. Quando percebo, estou caindo em um abismo.

- Ela será a primeira – diz a voz. – Perdoe-me.

Ela? Ela quem?

Mas eu não podia mais receber essa resposta.

Acordo em um sobressalto. Minha imagem sobre o espelho era tão animalesca que eu senti medo de mim mesma. Samirah e um menino de olhos verdes estavam ao meu lado, olhando-me, assustados. Minha respiração fica pesada, intercalada e eu me sentia em um caldeirão de emoções.

O que fora aquilo?

- O que deu em você? – Samirah praticamente grita. Do que ela estava falando?

- O quê?

- Você está suando. Você dormia, dizendo coisas estranhas. Disse que iria encontrar o seu pai e a sua mãe.

- Você está bem? – pergunta o menino.

- Quem é você?

- Meu nome é Derick – ele me transmite um sorriso tranquilizador. Meus olhos ainda estão pousados sobre ele, como um instinto assassino.

Tudo aquilo foi um sonho? Por que parecia ter sido tão real?

Jogos da mente.

Jogos da mente.

- Samirah! O que eu falei? – praticamente rosno. O que deu em mim?

Samirah dá um salto, assustada.

- Você disse que queria que a matassem. Queria encontrar seus pais e mandou alguém ir se foder.

Sorrio. Estou ficando louca. Vou até o armário e coloco o pingente em meu pescoço. Sorrio mais ainda.

- Estou bonita, não estou? – gargalho.

Derick e Samirah me encaram assustados. Meu sorriso é tão largo, que eu não acredito no que eu vejo.

Ah, claro! Eu não podia acreditar em nada.

- Vamos brincar? 

Algo dentro de mim, abriu um olho.

~*~

Ah! Uma pena o livro estar acabando! Faltam apenas três capítulos :c aguenta coração o/

Beijada pela Morte | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora