Capítulo sete

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Sai do quarto de Blake , nauseada. Eu sei que havia feito uma besteira enorme, e jurei a mim mesma que não iria cometer mais o mesmo erro. O cheiro de perfume que ele usava, estava impregnado na minha roupa, o que me deixava ainda mais irritada.

Mordi tanto o meu lábio, que só vinha à dor e nenhum sangue. Claro, eu não estava viva. Mesmo tendo a noção do meu estado, eu não conseguia acreditar. Não estava viva. Não iria mais ver o Sol nascer; não iria mais ri das palhaçadas da minha avó e nunca mais irei poder irritar Dylan e nem beijá-lo. O que seria de mim? Estava completamente sozinha.

A imagem de minha mãe vem a minha cabeça e eu estremeço. Não posso chorar, não posso chorar.

Assim que entrei no quarto, Samirah estava arrumando seus cabelos. Emily não estava com ela.

- Você está com cara de que acabou de beijar alguém!

- Não, eu não! – respondo, tentando manter a voz firme.

- Diga logo. Somos companheiras de quarto e provavelmente seremos amigas – ela terminou o rabo de cavalo e sorriu.

- Blake me beijou – respondo, dando de ombros.

- Sério? - ela arregalou os olhos. - Saiba que todos são loucos por um pedacinho dele. Não sei como não está animada!

- É de Blake que estamos falando. A própria Morte.

- Eu sei, mas, fala sério! Ele é lindo!

Eu sabia muito bem da beleza extraordinária de Blake, com aqueles cabelos negros e olhos avermelhados que revelavam uma profundidade de segredos inimagináveis. Relembrei do nosso beijo e do seu toque, que parecia fogo. Era eletrizante e vivo. Eu me senti viva.

Mas eu nem o conhecida, o que tornava tudo a minha volta, algo mais errado ainda.

Erfieu bateu na porta e eu me levantei subitamente, com o susto. Ele riu desengonçadamente e disse:

- Meninas, estão atrasadas para a primeira aula!

Aula? Ninguém merece.

- Desculpe Erfieu. Já vamos descer – digo ajeitando o meu vestido.

Saímos dos nossos quartos, apressadas. Atravessamos o corredor estreito e escuro, que era iluminado apenas por velas. Todas as cortinas estavam fechadas, deixando tudo com um ar mais sombrio e assustador.

Samirah caminhava com o braço enganchado no meu. Ela parecia apavorada, pois seus olhos estavam arregalados.

- Onde é a nossa sala? – sussurro.

- É aquela – ela aponta para frente. A última sala do corredor.

Assinto e ando rapidamente. As portas automaticamente se abrem com um rangido. Um ar tenebroso invade o meu rosto, fazendo com que eu me encolha instintivamente.

- Entrem – soou uma voz feminina. Tudo bem, já pode aparecer!

Samira e eu entramos e sentamos nos lugares que estavam vazios. Os alunos vestiam uniformes pretos e outros vestiam azul escuro. Todos olhavam para frente.

Percebi que naquela sala, só havia adolescente entre quinze e dezoito anos. A sala era completamente branca. As cadeiras limpas eram de madeira e não havia nada pendurado nas paredes.

Olho para a lousa, que até então estava vazia. Não havia nenhum professor ali, o que era muito estranho.

- Sentem-se todos. – ecoou a voz desconhecida e logo uma mulher de longos cabelos avermelhados surge a minha frente. Um fantasma, já que seu corpo era um tanto transparente.

Eu estava completamente impressionada. Seus olhos brancos rondaram a sala e por um milésimo de segundo, travaram em Emily, que ajeitava os cabelos olhando para um espelho.

Isso não era nada bom.

Enquanto a professora manteve o olhar fixo em Emily – que nem percebia o que estava acontecendo. Vejo a mulher erguer a mão e o espelho escapa das mãos de Emily rapidamente. Seus olhos piscam, como se nunca tivesse visto algo parecido e logo, o espelho se desintegra.

Olho para Emily de soslaio e vejo que ela estava pálida e havia se encolhido um pouco na carteira.

- Bom dia, meu queridos. Sou Suzanne, uma Fantasma Maior.

Um Fantasma Maior? Isso é a maior baboseira que já ouvi. Quis rir, mas achei melhor morder o lábio.

- Não é baboseira, Srta. Williams. – ela sorri para mim e eu congelo.

Ela havia invadido os meus pensamentos!

- Desculpe – é tudo o que eu digo. Olho para todos os lados e vejo que aquele mesmo menino de olhos cinza que eu vi na festa, encarava-me. Ele sorri de canto, como um flerte e, eu sorrio meio sem jeito de volta.

Mordo o lábio e olho para Suzanne.

- Vamos aprender sobre levitação.

Um menino ruivo levantou a mão.

- Tirar os pés do chão?

- Está correto, mas eu quero algo mais profundo. – falou teatralmente.

Eu ri.

- Srta. Williams, algo a dizer? – ela olha para mim com expectativa.

- Flutuar?

- Levitação é algo bem maior do que isso. É quando entramos em contato com nosso eu interior e nos conectamos por completo a nossa mente. Por isso, ela não é algo fácil de se fazer. 

Eu precisava anotar isso no meu caderno ou o quê?

- Preciso de um voluntario à frente – ela diz.

Ninguém diz nada.

- Cameron?

O menino de olhos cinza se levanta. Ele era alto e atlético. Por que um cara alto e atlético se interessaria em flertar comigo? Mil vezes patético.

- Concentre-se – ela diz.

Cameron respira fundo e olha para mim. Meu Deus, por que ele está olhando para mim? PARA DE OLHAR PARA MIM!

Ele se solta um pouco, balançando os ombros e fecha os olhos.

De imediato, ele os abre.

- Não consigo.

- Você consegue Cameron Martinsen. Sei que sim – ela diz.

Ele assentiu e fechou os olhos. Os cabelos caiam como veludo sobre o lindo rosto do rapaz.

De repente, Cameron é erguido do chão e eu fico embasbacada. Como era possível? Eu teria que tentar aquilo também? Ah, não, eu não ia conseguir!

- Os leviantes variam de pessoas a pessoas. Existem aqueles que conseguem voar mais altos e outros que não possuem a mesma capacidade.

Voar. Essa palavra soava tão estranha.

Cameron pousou os pés no chão e seu rosto parecia conturbado. Sua respiração estava acelerada e seu peito subia e descia freneticamente.

- Você está bem? – Suzanne pergunta para ele.

O menino assente rapidamente e volta para o seu lugar.

Meia hora se passa e só faltavam cinco alunos para trabalharem com a levitação. Eu não queria ser a última, mas também não queria ser a próxima.

Os olhos cor de gelo de Suzanne varreram a sala e um sorriso malicioso se abriu quando eles pararam em mim.

- Srta. Williams, sua vez!

Beijada pela Morte | livro umOnde histórias criam vida. Descubra agora